Este simples irmão leigo franciscano, com fama de santidade já em vida, recebeu de Deus uma ciência infusa com a qual resolvia os mais complicados problemas de doutrina.
Um seu biógrafo, o Pe. Ribadeneira, chama a atenção para o fato de que, nas Ordens religiosas, “especialmente na do seráfico pai São Francisco, tenha havido tantos religiosos leigos que floresceram com extremada santidade”. Ele dá uma razão para isso: “Porque, como o estado de irmão leigo é mais apropriado para exercitar-se a humildade, a caridade e a oração, que são as três principais virtudes do religioso e como que uma breve súmula de tudo o que deve fazer para consigo, para com o próximo, e para com Deus, os que sabem aproveitar-se deste estado, com menos trabalho e dificuldade saem eminentes nestas três virtudes”.
Seus pais, ainda que muito pouco favorecidos pela fortuna, viviam satisfeitos com sua sorte, ganhando o sustento quotidiano mediante o trabalho de suas mãos, com fé muito grande e muito grande confiança na amorosa Providência divina.
Isso nos leva a considerar que, no mundo de hoje, a pobreza é vista como a maior desgraça que pode ocorrer a alguém. E que, por isso, deve ser sanada a qualquer preço e por quaisquer meios, inclusive injustos, mesmo com a perda da salvação eterna. Esquecem-se que Nosso Senhor afirmou que “pobres sempre os tereis entre vós”. Quer dizer, até o fim do mundo. Isso porque, por perda de fortuna, de saúde, de impossibilidade de um bom emprego, e mesmo por incapacidade para o trabalho, muitos chegam ao estado de necessidade, quando não de verdadeira miséria. À Igreja cabe, ao lado de procurar remediar sua situação, levá-los a aceitar o triste quinhão que lhes cabe com espírito sobrenatural, alentando-os com a perspectiva de uma vida de felicidade sem fim no céu se tiverem sido fiéis a Deus.
Diego nasceu nos albores do século XV, em São Nicolau do Porto, pequeno povoado andaluz da diocese de Sevilha.
Desde muito cedo mostrou seu amor à solidão, e já adolescente, sabendo que um virtuoso sacerdote vivia como eremita nas proximidades, uniu-se a ele para melhor servir a Deus.
Por volta do ano de 1409, o Beato Pedro Santoyo, grande promotor do ramo franciscano que seguia a Observância antiga, fundou vários conventos reformados. Um deles foi em Arrizafa, perto de Córdoba.
Diego, que há muito queria ser franciscano, nele pediu ingresso como irmão leigo. O fervor com que abraçou a vida conventual foi surpreendente: Dizem seus biógrafos que ninguém lhe ganhava na prática da pobreza, da caridade, da obediência, da mortificação. Nunca estava ocioso, pois a preguiça é a mãe de todos os vícios.
Frei Diego chegou a tal grau de união com Deus, que este se comprazia em comunicar-lhe muitas luzes a respeito dos principais mistérios de nossa santa fé e das doutrinas da Igreja. De modo que até mesmo doutores em teologia vinham consultá-lo a respeito das mais intricadas questões teológicas. E ele as expunha com tanta claridade e segurança, como se as estivesse vendo.
Apesar disso, o irmão Diego continuava humilde e serviçal, amando no próximo a Deus Nosso Senhor. Era tão pacífico e tão unido a Deus que bastava uma palavra saída de seus lábios para acalmar as discórdias, levar ao arrependimento o faltoso, dar confiança ao esmorecido, e a todos, a paciência e a alegria no serviço de Deus.
Mandado para o convento em Fuerteventura, nas Ilhas Canárias, os frades não encontraram outro melhor para suceder ao Superior falecido, que Frei Diego, apesar deste ser apenas irmão leigo. O que mostra a que grau de estima tinham da virtude e ciência infusa deste santo leigo.
No ano de 1450 celebrava-se em Roma o ano jubilar proclamado pelo papa Nicolau V, durante o qual seria canonizado São Bernardino de Siena (festa a 24 de maio). O Provincial dos franciscanos observantes, São João de Capistrano, convocou então todos os frades da Observância que estivessem disponíveis, para estarem presentes à grande cerimônia.
Assim Frei Diego encontrou-se em Roma com outro grande santo franciscano, Tiago das Marcas (1391-1476), também elevado à honra dos altares.
O afluxo de tantos religiosos à Cidade Eterna para o jubileu, com as precárias condições de hospedagem do tempo, acabou provocando uma epidemia. Foram muitos os frades atingidos. Por isso transformaram o convento de Ara Caeli em hospital, sob os cuidados de Frei Diego.
O santo desdobrou-se para atender a todos os empestados e à multidão de pobres que acorria ao convento em busca de alimento. A santidade do humilde frade tornou-se manifesta pela constante multiplicação do pão, dos medicamentos, e dos víveres, que fazia.
São Diego entregou sua santa alma a Deus no dia 12 de novembro de 1463.
Dois milagres ocorridos pelo contacto de seu corpo incorrupto, tiveram muita divulgação, por causa dos personagens envolvidos.
Numa caçada, o rei Henrique IV, de Castela (1425-1474), caiu do cavalo e feriu gravemente o braço, o que lhe provocava uma imensa dor que os médicos não conseguiam aliviar. O monarca dirigiu-se então a Alcalá, para pedir sua cura a Frei Diego. A pedido do rei, o corpo do santo – que estava incorrupto – foi então removido de sua sepultura. Henrique deitou-se então a seu lado e, depois de o oscular, colocou a mão do cadáver sobre seu braço doente. A dor desapareceu instantaneamente, e o braço readquiriu sua força primitiva.
O outro milagre ocorreu em 1562, quase cem anos depois, com o príncipe D. Carlos, filho do grande Felipe II, rei da Espanha. Tendo o príncipe sofrido violenta queda, feriu tão gravemente a cabeça, que foi desenganado pelos médicos. Diante desse estado desesperador, o rei D. Felipe foi a Alcalá, e mandou abrir o túmulo no qual estava o corpo de Frei Diego, ainda incorrupto. Puseram sobre a face do santo um lenço de seda, que foi depois colocado sobre a do príncipe. Este adormeceu, e quando acordou, pediu de comer. Em poucos dias estava de novo de pé. À vista do milagre, Felipe II pediu ao papa Sixto V, ele também franciscano, que apressasse a canonização de Frei Diego, o que o Pontífice fez em 2 de junho de 1588.