Os 40 Mártires de Sebaste: Aplicações concretas aos presentes dias

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

Vamos comentar agora uma ficha hagiográfica, que é tirada da “Vida dos Santos Militares”, do Abbé Profillet. São os santos mártires de Sebaste.

“Os 40 mártires de Sebaste são militares cristãos que foram colocados, pelo prefeito Agripa, numa piscina de água gelada, e aí deixados toda uma noite. No dia seguinte, seus corpos foram colocados numa carroça, e posteriormente incinerados. Entretanto Militão, o mais jovem dos oficiais, foi encontrado com vida. Os carrascos, pensando ainda em fazê-lo abjurar a fé, decidiram evitar que fosse queimado. Mas a mãe do mártir, presente ao castigo, não suportou a falsa piedade que tinham para com seu filho. Aproximou-se dele, e o exortou a perseverar. Depois tomando-o ela mesmo nos braços, colocou-o no carro com os companheiros. ‘Vai, vai meu filho’, disse ela, ‘terminar essa feliz viagem junto com teus camaradas. E não te apresentes por último a Deus’. Ela pronunciou essas palavras sem derramar uma só lágrima, e acompanhou o carro até a fogueira com o rosto cheio de alegria”.

O que dizer, não é?

“Após terem queimado os corpos dos mártires, suas cinzas foram lançadas ao vento, e seus ossos no rio. Mas Deus os conservou no meio das ondas, e eles foram recolhidos pelos fiéis”.

“Sobre eles escreveu São Basílio: ‘ó sagrada tropa, gloriosa companhia, batalhão invencível, flores da Igreja! Sim, eu repito, flores inteligentes que brilhais entre as estrelas, mártires dignos de todos os louvores de todos os séculos, as portas do Paraíso vos foram abertas. Os anjos, os profetas, os patriarcas, todos os santos acorreram dos palácios do Céu para testemunhar a vossa entrada triunfante! Como este espetáculo foi bastante digno de ocupar todos os bem-aventurados: 40 jovens guerreiros, na flor da idade, iguais em méritos, em valor e em reputação, desprezam a vida! Amam a Deus mais que os pais, os filhos, as esposas e os parentes. O glorificam em seus corpos, O glorificam em seu Corpo Místico, levantam um troféu dos despojos do inferno e são coroados pela própria mão de Jesus Cristo!’”

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 Tem-se embaraço e quase vergonha em fazer um comentário depois de um feito por São Basílio… Mas, enfim, já que essa é a nossa missão, vamos considerando um pouco ponto por ponto essas coisas.

Os Srs. veem bem essa maravilha do fato que se deu. Eles foram 40 soldados que, como diz bem São Basílio, entram no Céu como uma tropa que marcha. E que indiferente às barreiras que separam o finito do infinito, e o transitório do eterno, vão em passo cadenciado, com suas lanças, com seus escudos, com suas armaduras, com seus elmos, e transpõem o vale tremendo da morte e se apresentam do outro lado do Céu!

Nossa Senhora quis que um não fosse morto imediatamente, para dar um requinte de glória ao acontecimento. Os Srs. veem que os soldados romanos que procederam à incineração, tomados de uma falsa compaixão de um que não tinha sido morto, quiseram evitar que ele fosse incinerado e quiseram persuadi-lo a abjurar a fé. Porém a mãe dele tem um gesto mais sublime do que o jovem soldado, porque é mais sublime a mãe que oferece o filho para o martírio, do que o próprio mártiressa mãe passa por dez martírios, enquanto o filho passa por um martírio só.

A mãe lhe diz: “meu filho, vai com teus companheiros. Deixa essa piedade falsa, não perca a oportunidade de ir com eles para o Céu”. Coloca o filho meio moribundo no meio dos cadáveres que vão ser queimados. É um holocausto em que se diria que tem algo de análogo ao holocausto sacerdotal. É ela que oferece a vítima e o coloca sobre os corpos dos mortos, como sobre o altar, para que a vítima caminhe para ser queimada. E depois, ela mesma vai a pé, sem derramar uma lágrima, com fisionomia alegre, até o lugar onde o filho deve ser queimado junto com os outros, para ver que a morte consome aquele a quem ela deu a vidaMas que receberá a vida eterna, decorrente da formação que ela lhe deu.

Os Srs. podem imaginar coisa mais bonita do que esta mãe imolando seu filho por esta forma? Mais bonito do que isso, só conhecemos outro fato. É outra Mãe, aliás, então Mãe, com “M” maiúsculo, imolando outro Filho, com o mais maiúsculo dos “Fs”, no alto daCcruz. E também O acompanhando até lá e, pela Sua presença, constituindo um consolo para Ele, para aguentar o martírio até o fim.

Ou seja, os Srs. encontram aqui uma manifestação de heroísmo materno mais raro e mais precioso do que o próprio heroísmo do soldado que se oferece. Uma mãe que oferece assim o seu filho, dá uma prova de grandeza de alma, de força de alma, dessas raríssimas na história!

O filho parte com os outros. Consumou-se a luta. E então temos o comentário do grande São Basílio.

Vejam como São Basílio calcula as coisas, e o ritmo em que vai elogiando esses mártires. Ele afirma o seguinte:

“ó tropa sagrada, gloriosa companhia, batalhão invencível”.

Bonito, não é? “Uma tropa sagrada, uma companhia”… Os Srs. sabem que uma companhia é um modo de dizer regimento. “Batalhão invencível”. Logo depois dele falar da glória militar, a gente tem a impressão que ao dizer isto, ouve-se o passo cadenciado dos legionários romanos andando…

Depois entra aquilo que está dentro do gênero e da índole da Igreja Católica. A Igreja não sabe, Ela não consegue, Ela não quer fazer uma coisa unilateral. E quando Ela elogia a força, põe na ponta do elogio algo de delicado. Quando Ela afirma a mais delicada das coisas, põe junto uma nota de fortaleza. Isto é o que forma a totalidade do espírito harmonioso e perfeito da Igreja!

Quem é que esperaria – depois de falar desses guerreiros – essa aclamação: “ó tropa sagrada, ó gloriosa companhia, batalhão invencível, flores da Igreja”. O herói transformado de repente em flor. E florescendo nos palácios do Céu, ou nas entradas do Céu

E depois São Basílio continua figurando um triunfo romano. Ele estava na civilização clássica ainda, e se vê que o que estava em seu espírito é o triunfo do general romano, quando entrava nas cidades romanas, para ser ovacionado pela população. E que então, todos as pessoas, importantes ou não, vinham de encontro ao general romano para aclamá-lo. Ele então imagina um triunfo romano no Céu. E imagina todos os habitantes celestes que vêm ver o desfile dos triunfadores. Como se fossem generais que estão penetrando em Roma.

Então, ele diz: “flores inteligentes”. Bem-apanhado! Porque é poca comparar com uma flor um homem inteligente. É flor, mas é uma flor inteligente. É uma inteligência que floresceÉ algo incomparavelmente mais do que simples flor.

Vem outro elogio, ainda mais brilhante: “estrelas que brilhais entre as estrelas, mártires dignos de louvores de todos os séculos”. Então, ele imagina o cortejo de todos os séculos aclamando os 40 mártires de Sebaste…

Mas é pouco: “as portas do Paraíso vos foram abertas”. Agora começa o triunfo. Assim como em Roma iam todos ver o vencedor, os anjos, os profetas e os patriarcas, todos os santos acorreram dos palácios do Céu. Os Srs. estão vendo a concepção à maneira terrena, do Céu cheio de palácios. É uma figura, naturalmente. São as moradas celestes, que ele compara a palácios. Então, os palácios do Céu, cheios de príncipes do Céu, que são profetas, que são patriarcas, que são anjos, santos, Doutores da Igreja – ele mesmo, São Basílio, Doutor da Igreja, predestinado a ocupar um grande lugar nesses palácios do Céu – todos que vêm ver os 40 mártires de Sebaste, que entram em passo militar na cidade… E que constituem, ao mesmo tempo, uma procissão de heróis e um desfile de flores inteligentes, brilhando como astros no Céu!

Isto é que é saber fazer literatura!… Fora isso, literatura não é literatura: é asneira. É claro! Fica tão mequetrefe qualquer coisa que a gente pegue…

Então, diz: “como esse espetáculo foi belo e digno de ocupar todos os bem-aventurados!” Quer dizer: o Céu inteiro participou do triunfo.

“Quarenta jovens guerreiros na flor da idade, iguais em mérito”E aqui é bonita a afirmação repentina do princípio da igualdade. Porque é bonito ver que eles têm tanto mérito, que nenhum tem mais do que o outro. São 40 sóis que entram juntos no firmamento. E com uma tal plenitude, que não se pode falar que um seja mais do que o outro. É um verdadeiro espetáculo!

Então, ele diz: “iguais em mérito, em valor, em reputação”. São três coisas diferentes, portanto: mérito, coragem e reputação.

Os 40 têm as mesmas coisas: “desprezam a vida, amam a Deus, mais que os pais, os filhos, as esposas e os parentes”. Os Srs. estão vendo bem a vitória sobre os círculos mundanos e o apego desordenado à família apresentado com um dos mais altos méritos. Exatamente se dissesse: “amaram a Deus muito mais do que os vícios, do que as seduções da terra, do que o pecado”, seria muito bonito. Mas não é o que diz. Eles amaram a Deus mais do que as criaturas foram para frente. Eles dilaceraram esses vínculos terrenos cumprindo a palavra de Nosso Senhor: que Ele tinha vindo “para separar o pai do filho, e a esposa do esposo, e o irmão do irmão, e” – coisa mais fácil – “a sogra da nora”. Nosso Senhor diz isso no Evangelho, exatamente porque há um momento em que é preciso optar. E optar entre o pai e o filho. É preciso que alguém rompa para fazer a vontade de Deus. Então, ele aclama como vitória: foram mártires, foram santos, calcaram aos pés os vínculos da família. Isso é um título de triunfo no Céu. Eu acho isso uma coisa simplesmente maravilhosa!

Continua São Basílio: “e glorificaram seus corpos, e glorificaram seu Corpo Místico, levantam os troféus dos despojos do inferno e são coroados pela própria mão de Jesus Cristo”.

O que significa isso? Eles glorificaram seus corpos? É uma coisa evidente. Os corpos deles eram como de uns quaisquer, mas depois, com o martírio, passaram a ser relíquias. O indivíduo mártir, pouco antes do seu martírio, se olhar para o seu próprio corpo e pensar: “daqui a dez minutos, terá vindo sobre mim a bala que me extermina. Daqui a dez minutos esse pobre corpo vai estar liquidado, mas ele vai ser uma relíquia. E as almas fiéis vão se disputar fragmentos dele, para serem acompanhados pela graça de Deus. E a glória do Céu já está prometida a este corpo que daqui a pouco vai morrer”…

Os Srs. querem coisa mais bela do que essa? Daí o milagre também. Os Srs. viram que apenas as cinzas foram dispersas, e os ossos foram jogados no fundo do rio, a Providência valeu para que os ossos fossem salvos para poderem ser venerados. Os Srs. estão vendo a glorificação do corpo. Mas além da glorificação do corpo, diz: glorificaram algo que vale incomparavelmente mais do que o corpo; glorificaram o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quer dizer, a santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Eles dão glória àquela instituição sem a qual nenhuma glória é verdadeira, nem é durável, nem tem significado nenhum. É a Igreja Católica, Apostólica, Romana. Glória da fonte de glória! Pode haver coisa mais gloriosa que essa?…

Depois, ele continua: “levantam um troféu dos despojos do inferno”. Troféus são os montes das coisas do adversário que os vencedores acumulam, para comemorar a vitória. Então, tudo quanto o inferno venceu, eles como que acumulam e pisaram em cima pela sua morte.

“…são coroados pela própria mão de Jesus Cristo”. Então, o desfile está no fim.

São Basílio acompanhou o desfile e foi aclamando ao longo do desfile. No fim, a cerimônia suprema: Nosso Senhor Jesus Cristo coroa os 40 mártires de Sebaste e uma grande festa no Céu está concluída. Ou por outra, está começada e não concluída, porque tudo quanto no Céu começa não acaba nunca mais. E a festa infinita, e que nunca mais terminará dos 40 mártires de Sebaste é repercutida por todos os séculos dos séculos. Amém.

É assim que um São Basílio vê os 40 mártires de Sebaste. E a gente chega a se perguntar – e era o que eu me perguntava, quando eu via o Sr. Aluisio Gomide falar lá dos Tupumaros [nota: ele era então cônsul do Brasil no Uruguai, onde foi sequestrado por aquele grupo guerrilheiro] – até que ponto era o caso de felicitá-lo realmente por sua libertação…

Ele foi até corajoso, foi até heroico, mas Nossa Senhora teve o desígnio que saísse, e acho que foi bom que ele saísse! Mas que coisa maravilhosa se  tivesse uma discussão não provocada, até evitada, mas em que tivesse batido o pé, tivesse sido fiel e tivesse morrido! Hoje nós estaríamos nos inclinando genuflexos diante dele… Que coisa miserável: os miseráveis se inclinando genuflexos diante dele!… Nosso Senhor Jesus Cristo o estaria coroando no Céu, pelas mãos de Nossa Senhora. Acabou-se!

Aí os Srs. veem também, meus caros, o que é ter alma católica, por diferença com a alma contemporânea. Eu vi na fisionomia dos Srs. que acharam a ficha muito bonita. Entreguem isso para um tipo qualquer e peçam para que leia… Ele lê e nem entende a ficha. Se entende, nem sente a beleza, nem se incomoda com issoE todo esse triunfo romano dos 40 mártires, no meio da aclamação dos anjos, dos santos e dos patriarcas e dos profetas, não quer dizer nada para quem é do mundo. O que eles acham bonito é somente tal praia… É por isto que eles se interessam.

Os Srs. estão vendo que horizontes miseravelmente baixos, que ambiente fétido… e que grande abertura de alma católica é o espírito da Igreja, entusiasmado pelo maravilhososedento dos grandes horizontesquerendo apenas aquilo que é estupendo, aquilo que toca a Nosso Senhor Jesus Cristo! O resto é espírito da Terra, se preocupando com coisas vis, com coisas passageiras, com coisas ordinárias, e gostando de passar mil anos dentro disso. É o choque, o choque tremendo, invencível, entre uma coisa e outra. O mundo moderno é feito de oposição a isso, de rejeição disso, e não quer saber disso. E disso devemos nos convencer completamente.

Nosso Senhor disse uma vez isto: (eu tenho má memória e não posso repetir bem as palavras, mas o sentido é esse) “Se vós fôsseis do mundo, o mundo vos amaria, mas como vós não sois do mundo, o mundo vos odeia”. O que quer dizer o seguinte: Vós tendes muitas qualidades, todas as qualidades normais para o mundo vos amar. O mundo, aliás, ama qualquer um que seja dele, mas quem não é do mundo, o mundo odeia, por maiores qualidades que tenha, por maior esplendor que traga nos seus feitos, os seus gestos, seja o que for, o mundo odeiaE odeia porque não é do mundo, e está acabado. E, portanto, é uma verdadeira ingenuidade imaginar que a gente à força de altas qualidades, acaba obtendo a aprovação do mundoNão é verdade. Se nós somos verdadeiramente de Nossa Senhora, o mundo nos odeia, pura e simplesmente.

Alguém dirá: “Mas Dr. Plinio, isso aí é um inferno! Por que onde então existe a possibilidade de uma conversão?” Isso já é outra coisa. A pessoa pode vir a sair do mundo, mas enquanto for solidária com o mundo, tiver a mentalidade de nosso século, a pessoa é assim. Pode perder a mentalidade do século. Um entre milhões acontece isso, mas precisa primeiro perder, para depois deixar de ser assim.

A pessoa precisa ter como fundamento de sua moral algo de bem claro e bem definido. O fundamento da moral católica é que ela é ensinada por Deus no Antigo e no Novo Testamento, na Tradição, interpretada em nível de magistério autêntico e, por vezes, até infalível pela Igreja Católica e elaborada pela razão humana, por ser um desenvolvimento da ordem natural das coisas, que a razão humana pode ver. E que não é por nenhum outro meio que seguimos essa moral. Não é porque tal “colosso” aprova, mas é por esta razão sobrenatural, apoiada pela luz da razão natural. É por isto que temos essa moral.

O motivo para se praticar a moral católica é de ordem sobrenatural, é magistério da Igreja, que é infalível etc., corroborado pela luz da razão natural.

Acontece que as pessoas, desde pequenas, quando são formadas, adquirem uma espécie de pseudo-senso moral que é de achar que as coisas são boas ou más não por esta razão, mas por causa de um certo ambiente doméstico, que a pessoa tem a ilusão de que represente o consenso do universo. E que a família interpreta esse consenso universal. E a pessoa entra em vibração com aquilo. E forma uma espécie de – na ordem das vivências – consciência do indivíduo.

A pessoa conhecendo a Doutrina Católica verdadeira, de sempre, que a moral tem um fundamento sobrenatural, ela, por preguiça, por apego não faz essa deslocação de fundamento. E como há pontos de coincidência concretos entre a moral do ambiente e a moral ensinada pela Igreja, a pessoa julga que deve procurar uma conciliação.

Em vez de compreender que não é por causa da opinião de um leque-leque qualquer, mas é por causa do ensinamento infalível da Igreja, que se deve achar o contrário. Então, eu não estremeço, eu não vibro junto com o mundo neopagão, porque para mim a única coisa decisiva é o ensinamento da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.

E, portanto, com toda a facilidade, caso outros ensinem o contrário, sem nenhuma hesitação minha interior, eu me volto contra eles. E digo: “não senhor, está errado. A doutrina da Igreja é outra. E é só Ela que é certa, o senhor não é certo. O senhor não é infalível, Ela é. E, portanto, acabou-se com esse negócio”.

Comentários do Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP.

O texto é da “Legende Dorée” [Legenda Áurea] de Jacques de Voragine. Só sabemos que será uma coisa muito áurea e muito bela…

    

“No tempo em que governava o imperador Décio, por volta do ano 252, eclodiu grande perseguição contra os cristãos. Uma das cidades mais atingidas foi Éfeso, onde as crueldades atingiram um tal ponto que as delações entre as famílias se tornaram frequentes, havendo muitos apóstatas.

      “Sete cristãos muito amigos – Maximiano, Malco, Marciano, Dionísio, João, Serapião e Constantino – retiraram-se para suas casas e entregaram-se à penitência, lamentando o que viam. Como eram funcionários do palácio, Décio sentiu sua falta e ordenou que comparecessem à sua presença para sacrificarem aos ídolos. Os sete decidiram, depois de distribuírem seus bens, isolar-se no monte Celion, aí vivendo como eremitas. Delatados por seus familiares e sentindo que em breve seriam presos, Deus permitiu que caíssem em sono profundo. O imperador ordenou que obstruíssem com pedras a caverna onde estavam, para que morressem de fome.

      “Ora, tendo se passado quase dois séculos, no terceiro ano do reinado de Teodósio, a heresia que negava a ressurreição dos mortos começou a se difundir rapidamente. O imperador, profundamente desgostoso, retirou-se em seu palácio, e revestido de um cilício, chorava e rezava dias inteiros. Deus ouviu as suas preces e confiou aos sete adormecidos de Éfeso a missão de comprovar a ressurreição da carne.

      “Alguém começou a construir estábulos no monte Celion. Quando os marceneiros começaram os trabalhos, os sete mártires despertaram, saudaram-se e, sem perceber a passagem do tempo, enviaram Malco à cidade para buscar pão e observar o que se passava. Malco levava consigo algumas moedas, e partiu. Ao chegar a Éfeso, admirou-se ao ver a cruz à entrada da cidade. Seu espanto não teve limite, ao vê-la novamente em outros locais públicos e ouvir muitas pessoas falando livremente de Cristo. Mas suas dificuldades começaram ao comprar o pão. Quando pagou, o comerciante, surpreso, indagou se havia achado algum velho tesouro. Estabelecida a confusão, o pobre Malco foi acusado de ladrão e arrastado ante o bispo São Martinho e o procônsul Antipater. Malco explicou que as moedas eram de seus pais e que eles moravam naquela cidade, Éfeso, mas quando citou seus nomes ninguém os conhecia. Disse-lhe então o bispo que não podia acreditar nele, pois a efígie cunhada no dinheiro era de Décio, imperador de séculos atrás. Então, Malco respondeu que deveriam segui-lo e ver seus companheiros, pois tudo o que ele sabia é que, no dia anterior, eles haviam fugido à cólera de Décio e se refugiado na montanha.

      “Sentindo em tudo aquilo a mão de Deus, São Martinho ordenou que as autoridades civis, o clero e grande multidão o seguissem até o monte. Lá chegando, entre as pedras, à entrada da gruta, foi encontrado um velho manuscrito que contava a história dos mártires ali soterrados. Mas ao penetrarem na caverna, todos viram os santos vivos, os rostos resplandecentes. O bispo e o procônsul advertiram Teodósio, que correu de Constantinopla a Éfeso para presenciar o prodígio. Ajoelhado, comovido, o imperador exclamou que era como se estivesse vendo Cristo ressuscitando Lázaro. Disse-lhe Maximiano: “Foi para vós que Deus nos ressuscitou neste grande dia da ressurreição, a fim de que não tenhais dúvida alguma sobre ela”. Depois, os sete inclinaram a cabeça e entregaram suas almas a Deus”.

      Indiscutivelmente muito bonito! Não se pode negar uma grande categoria a toda essa concepção! 

      “Após havê-los osculado, Teodósio pretendeu enterrá-los em esquifes de ouro, mas foi impedido por uma visão que teve em sonhos. Os mártires deveriam permanecer na terra, até o fim do tempo. Para consolar-se, o imperador somente revestiu com pedras douradas seu sepulcro, e depois disso, os bispos que proclamavam a ressurreição dos mortos venceram completamente seus adversários”.

iluminura de autor desconhecido ou “Frater Rufillus“ (Wikipedia)

      Preciso começar por dizer uma coisa, e sei que com isso posso chocar: impossível não é…! Quer dizer, a gente sorri porque algumas coisas parecem terem sido colocadas na narração de propósito. Por exemplo, esse manuscrito pode ter demorado 200 anos sem se corromper, e se encontrar na entrada da gruta, justo quando chega o imperador, o que é algo singular. Além disso, os romanos não iam pôr uma coisa dessas em manuscrito. Um manuscrito se guarda; não se põe do lado de fora de uma gruta. Põe, ao menos, dentro da gruta. Ou seja, há uma inverosimilhança aí.

      A narração – podemos dizer – é sumamente inverossímil, é verdade. Mas, impossível não é. Quer dizer, se fôssemos negar a possibilidade desse fato, negaríamos toda a Religião Católica; negaríamos a possibilidade da ressurreição de Lázaro, acabaríamos negando a possibilidade da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

      De maneira que, embora a narração seja muito inverossímil, embora não haja dados históricos provando que isso tenha sido assim e, portanto, se deva tomar como mais provável que isso não tenha sido assim, impossível absolutamente falando não é. Os elementos que compõem essa narração não estão provados. Porém, algo pode não ser impossível e não estar provado. Provado não está, nem um pouco. A “Legende Dorée” é um conjunto de tradições, mas aumentadas, adaptadas segundo a imaginação piedosa e popular de determinada época histórica, como todos nós sabemos.

      Feitas essas ressalvas, penso que o Santo do Dia não pode deixar de fixar o aspecto mais provável do assunto. Quer dizer, trata-se de uma lenda que esteja explorando algum fato que tenha um fundo histórico – isso é possível.

      Então, devemos imaginar qual é a mentalidade do povo que compôs essa lenda. Porque a “Légende Dorée” é uma obra coletiva, e não de uma só pessoa. Jacques de Voragine condensou e escreveu essas narrações num estilo maravilhoso. Mas, evidentemente, ele recolheu relatos que corriam, que se diziam etc. Os senhores podem então imaginar o que isso representa de sanidade mental, até nos últimos pormenores, de bom gosto e de tudo o mais.

      Em épocas em que não havia cinema, nem rádio, nem televisão, essas narrações eram a distração. E, naturalmente, como “quem conta um conto aumenta um ponto”, cada um dava sua contribuição aos relatos. Mas essas contribuições passavam, elas mesmas, por uma seleção também. As menos interessantes, que não eram de tão bom gosto, iam sendo depuradas; e o conto ia incorporando apenas os elementos mais bonitos, mais nobres, mais edificantes, que exprimem, por essa forma, a vontade de muitos narradores de que isso tivesse se passado assim. Manifestam deste modo seus ideais, sua mentalidade e seus anseios. E a esse título constituem a digna iluminura da alma de uma determinada época.

      Então, aqui os senhores têm – a título de iluminura – essa narração, a respeito da qual nos falta apenas observar alguns aspectos dela para completar o extremo pitoresco desse trecho.

      Os senhores estão vendo que se trata de sete jovens que resolveram – de acordo com a narração – subtrair-se nas suas casas e rezar pedindo para passar a perseguição, porque estavam muito pesarosos com ela e que o imperador Décio – pagão – havia desatado sobre o império.

      Pelo visto, esses rapazes podiam ser muito piedosos, mas não eram muito estratégicos, porque foram fazer essa penitência dentro de casa… E os senhores viram o que aconteceu: os elementos mundanos – ainda quando são os mais próximos – perseguem quando veem aos que seguem a virtude. Há um trecho da Escritura que diz que “os inimigos do homem são as pessoas de sua casa” (Mich. VII, 6; Mt. X, 36).

      Tomando o fato de um modo ou de outro, eles não foram muito previdentes, tendo sido denunciados ao imperador. Mas eles também não tiveram muito cuidado. Em pleno regime de suspensão, o imperador vê sete funcionários que deixam de aparecer no palácio de repente. Havia de desconfiar que se tratava de católicos. Mandou chamá-los, mas eles – e aqui entra a doutrina do eremismo – fugindo das feras, foram para o deserto. Tiveram medo da arena, e foram para o deserto. E o imperador soube que estavam lá, mas os encontrou adormecidos. Então, mandou murar…

      O que é esse “adormecidos”? No início da narração, tem-se a impressão de que estavam dormindo mesmo, e que foi murada a gruta. Mas depois se percebe que não, que houve uma ressurreição. O que é muito mais verossímil. Porque seria muito feio eles acordarem com duzentos anos, velhos, macróbios – quando adormeceram moços – e nenhum conhecer o outro, perceber que está velho, unhas compridas, barba, sujos… Isso não teria poesia nenhuma! Mas foi uma ressurreição. De maneira que acordaram suavemente dentro da gruta.

      É bonito este pormenor: logo que acordaram simultaneamente, se cumprimentaram. Os senhores observam o senso de cerimonial e da boa educação que está involucrado dentro da narração. Se sete de nossos contemporâneos ressuscitassem, as reações bem poderiam ser de dar pulos e dizer: “ó chapa! você também?” Umas coisas desse nível. Ali, não. A gente pode imaginar sete que se sentam, e que cerimoniosamente se cumprimentar e rezam. É uma outra atmosfera, um outro ambiente…

      Mas, curioso, é que eles não se tinham dado conta do tempo que havia passado. Então, seguem os vários episódios novelescos, muito bem relatados e aproveitados de um homem – explorando essa situação realmente teatral – que volta à sua própria cidade duzentos anos depois. A coisa está, literariamente, muito bem aproveitada.

      Os senhores estão vendo o homem que é conduzido a um bispo, o qual lhe faz perguntas que deveriam levantar muitas suspeitas: “Você, quem é? Esse dinheiro, de quem é?” – “Ah, de meu pai, que mora na rua tal”. Ninguém conhece esse homem. Duzentos anos, ele morreu. Até eles se darem conta – de acordo com a Legenda – de que foram ressuscitados, não teriam guardado memória do que aconteceu durante o período da morte, mas a impressão de que tinham dormido. Na gruta encontram os outros e então mandam chamar o imperador, que é atendido nas penitências que estava fazendo a fim de que a heresia, que negava a ressurreição dos mortos, fosse dizimada no império. Então, no fim, o imperador que agradece a Deus e a heresia sendo destruída.

      Qual é a grande e fundamental lição que está por detrás de tanto pitoresco e de tanta coisa encantadora que não se pode deixar de sorrir maravilhado com tanto frescor de alma? O que pode a oração e a penitência de um homem!

      O império todo devastado, mas o imperador, que o representava diante de Deus, era bom e queria, pois, manter a fé católica. E vendo que todos os meios para alcançar esse objetivo eram inúteis, porque a heresia já se tinha espalhado enormemente, recorre ao sobrenatural. Ele reza. Mas vai além: faz penitência no seu palácio, e, entretanto, não recebe nenhum sinal nem comunicação de Deus. E continua a fazer penitência… impávido, apesar do Céu parecer fechado.

      A penitência desse varão justo, desse grande imperador, desse homem cuja oração vale mais pelo império do que a dos outros – porque a prece ou a maldição do chefe de Estado pelo Estado vale muito mais do que a dos particulares, porque ele tem a missão oficial de representar o império junto a Deus e de Lhe fazer pedidos, em nome do império –, a oração desse imperador é de grande poder diante de Deus.

      A aflição do imperador termina quando vê chegar ao seu palácio um emissário do bispo que lhe avisa que um grande milagre foi praticado para atender sua súplica e ele próprio vai ver. É um imperador que compreende tão bem seu papel que se preocupa com as coisas espirituais mais do que com as temporais, e não para mandar nelas. Mas, como católico, concorrer para que as coisas espirituais andem bem; compreender que a glória de Deus está acima de tudo. Mas, em segundo lugar, que para o Império não há nada que lhe adiante e nada que lhe seja favorável se a heresia penetrar em seus domínios. Com a heresia, um Império está destruído. Pior do que uma invasão de bárbaros, do que qualquer outra coisa, é a disseminação de uma heresia.

      O imperador chega, então, à sepultura dos sete cristãos e os senhores podem imaginar a sua alegria, encontrando não um morto ressurrecto, mas sete mortos ressurrectos, que dão a prova cabal da autenticidade do milagre!

      Enfim, por toda a conversa deles, pelo que contam, a perseguição de Décio e, como pequena garantia, aquele manuscrito do lado de fora da gruta, que é para tranquilizar completamente o leitor e fazer entender que o imperador ficou convencido mesmo. É o “happy end” (final feliz) da legenda…!

      Os senhores observaram a gratidão do imperador e os sete que morrem logo depois. Que bonita coisa ver esses homens, ainda moços, na paz de Deus, rezando! Todos os sete expiram em série, e são sepultados na gruta, em série também.

      O imperador quer então lhes dar sepulturas de ouro. Mas vem um sinal do Céu indicando-lhe que não. Deus quer que aqueles corpos fiquem na terra. Ele transforma ali em local de veneração e o cobre de pedras douradas.

      Os senhores podem imaginar: terminadas as obras, o silêncio em torno da gruta, murada; todo mundo sabe que lá dormem sete santos; e as peregrinações que vão, de vez em quando, lá para rezar, e voltam de novo, diante da gruta resplandecente ao sol do meio-dia, com suas pedras de ouro… A gratidão do imperador Teodósio porque Deus ouviu suas orações com um estupendo milagre!

      Qual é o resultado? Dar aos fiéis uma grande vontade de rezar, uma grande confiança de recorrer a Deus. Porque se a oração de Teodósio foi tão ouvida, Deus, que ouve também os pequenos, pode ouvir a oração dos particulares. E os atende certamente. É um estímulo à oração! O que está dito ali é “façam penitência e rezem, que tudo se obterá”! É uma ilustração das palavras de Nosso Senhor no Evangelho: “pedi e dar-se-vos-á, batei e abrir-se-vos –á”. É uma bela lição da eficácia da prece.

Acima, iluminura de autor desconhecido ou “Frater Rufillus“ (Wikipedia)

      O que tirar disso para nós?

      Em primeiro lugar, a sensação de uma excursão através de um outro mundo; é fazer turismo para o passado. É uma forma de anacronismo sumamente criativo. É ir para um passado onde as coisas ainda se criavam – não criavam monstros como hoje – e ali respirar a plenos pulmões uma atmosfera que não é a do mundo de hoje. É alegrarmos a nossa alma vendo que houve tempo em que os espíritos e as mentalidades eram assim.

      Mas isso não basta…

      Quando a gente vê que houve tempo em que as mentalidades eram assim, nasce na nossa alma uma certeza: um dia serão de novo assim! E é a certeza da vinda do Reino de Maria! Não é possível que isso tenha ficado truncado, interrompido. Esse espírito de Jacques de Voragine é o da Idade Média. Esse espírito tem que vencer! E não desapareceu inteiramente. A prova disso é o nosso encantamento ao ouvir essa leitura.

      Em outros termos, se isso nos encanta tanto, é porque isso vive em nós, é porque fazemos parte do último relicário no qual se recolheu esse óleo ungido, esse óleo santo da tradição medieval, e onde arde a chama de nossa esperança!

      Há um provérbio que diz “quanto maior a altura, maior a queda”. Há um fator que é reversível em história – não sempre –, mas que quanto maior a queda, maior a altura! Quer dizer, se o mundo estava tão alto e caiu, só podia rolar muito baixo. Mas, uma vez que o mundo chegou tão baixo, só poderá se regenerar subindo mais alto ainda. Então nós temos a certeza do Reino de Maria.

      O Santo do Dia termina, portanto, com a certeza de que dia virá em que esse espírito – não do imperador Teodósio e desses sete santos adormecidos que aí figura um pouco colateralmente – de Jacques de Voragine, do medieval que gerou isso, esse espírito medieval voltará em grau mais elevado do que existira.

      É por isso que cantamos com convicção “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat! Maria vincit, Maria regna, Maria imperat!” Quer dizer, Nossa Senhora vencerá mesmo! “Pedi e obtereis, batei e abrir-se-vos-á”. Precisamos fazer como o imperador Teodósio: precisamos pedir; precisamos fazer penitência. Uma das melhores formas de penitência é o apostolado. E, no apostolado, uma das melhores formas de penitência é vencer o respeito humano, sermos corajosos e nos ostentarmos como somos, digam os outros o que disserem!

      Precisamos fazer penitência, fazer apostolado, ser desassombrados, pedir muito. O Reino de Maria virá!

Fonte: Santo do Dia, 27-8-1973 – Os sete Santos ressuscitados e a beleza da mentalidade medieval (pliniocorreadeoliveira.info)

Não há coração católico, verdadeiramente unido ao Corpo Místico de Cristo, que se desinteresse pelos nossos irmãos chineses, perseguidos in odium fidei.

E o coração católico da China é a Província de Hebei: … “no norte do país, […], tem sido um dos principais alvos desta perseguição,” afirma BitterWinter.

Intensificando a perseguição: preparando a renovação do Acordo Provisório

Como se sabe, o Acordo Provisório entre o Vaticano e Pequim, firmado em 2018 — cujas cláusulas são secretas até para o Cardeal de Hong Kong — expiraria em 28 de outubro. O PCCh não achou nada melhor do que intensificar a perguição e o Vaticano, mais uma vez, cedeu.

Diz BitterWinter: “Ao longo deste ano, o governo do PCCh intensificou os ataques contra os católicos, que recusaram a se juntar à Associação Católica Patriótica Chinesa (CPCA), antes da renovação do Acordo Vaticano-China de 2018 no final de outubro.

“Em 31 de maio, o governo municipal de Jiehedian na cidade de Handan fechou uma igreja católica não registrada e jogou a maior parte de seus pertences no lixo.”

“Um mês antes, em 28 de abril, cruzes, imagens religiosas e o pódio foram removidos de uma igreja católica não registrada na vila de Xingdi, no condado de Jize, em Handan. Os aldeões disseram a Bitter Winter que a operação começou por volta da 1h da manhã depois que o fornecimento de eletricidade foi cortado pela metade da vila e as estradas que levavam a ela foram bloqueadas para impedir os fieis de aldeias vizinhas que estavam vindo para ajudar a proteger a igreja.

Um (hipotético) boletim da CNBB relatando as perseguições

Podemos imaginar um hipotético boletim da CNBB aos Srs Bispos e sacerdotes, ou, melhor ainda do próprio Vaticano aos bispos do mundo inteiro, relatando todas essas perseguições.

Mas tal não se deu.

Os agentes do PCCh “vigiavam as portas das residências ao redor da igreja, proibindo as pessoas de sair de casa. Os frequentadores da igreja colocaram uma nova cruz no dia seguinte, mas as autoridades a removeram novamente, ameaçando demolir a igreja se a cruz fosse reinstalada.”

“Um local católico não registrado na cidade de Shijiazhuang de Hebei foi condenado a interromper a realização de reuniões em agosto. A placa “Consolação dos Aflitos” no dintel acima da porta do local foi substituída por “Harmonia em uma família torna tudo bem-sucedido”. O slogan “Jesus Good Shepherd Picture” na parede estava escondido atrás de uma pintura de paisagem.”

“Em julho, depois de cortar o fornecimento de eletricidade a um local de encontro católico não registrado na cidade de Shijiazhuang, funcionários do governo municipal removeram a cruz do local e apagaram as imagens da demolição capitadas em celulares.

“O padre Zhang, um sacerdote de 77 anos da Diocese de Zhengding em Shijiazhuang, foi repetidamente condenado a retornar à sua cidade natal por se recusar a ingressar no PCCA. As autoridades ameaçaram demolir as casas dos fiéis que ousaram acolher o padre.”

“Em abril, o governo da cidade de Simencun em Botou, uma cidade de nível municipal sob jurisdição da cidade de Cangzhou, removeu as cruzes e o letreiro “Igreja Católica” de um templo católico.”

Perseguir a Igreja é o mais importante

“Sob o governo de Xi Jinping, as campanhas contra a religião são mais importantes do que lidar com enchentes e outros desastres naturais”, disse um padre católico não registrado (não pertencente à igreja patriótica) de Hebei a Bitter Winter.”

“Vários locais católicos não registrados também foram fechados no condado de Chongren, na cidade de Fuzhou, na província de Jiangxi, no sudeste. As autoridades locais ameaçaram cancelar o subsídio de bem-estar social dos frequentadores da igreja e implicar seus filhos se eles continuarem a se reunir em locais religiosos não aprovados.”

Lembrando a Revolução Cultural de Mao

“Um padre católico da província de Gansu, no noroeste, disse a Bitter Winter que as autoridades instalaram uma câmera de vigilância na entrada de sua igreja não registrada em fevereiro. Depois de desligá-lo, os funcionários do United Front Work Department o convocaram para interrogatório e exigiram que apresentasse uma lista de fiéis, mas ele recusou. “Isso me lembrou da Revolução Cultural, quando o PCC prendeu pessoas de fé de acordo com as listas que eles criaram”, disse o padre.

“Um padre não registrado da província de Shanxi, no norte do país, lembrou como recebeu um telefonema da polícia no mesmo dia em que reservou uma passagem de trem online no ano passado, perguntando para onde ele estava indo. “Este ano, a polícia especial me interceptou duas vezes enquanto eu dirigia”, acrescentou o padre. “Eles me questionaram e disseram que eu estava na lista negra. Todos os padres e fiéis na China estão sob a vigilância do PCC. ”

“Em 15 de agosto, festa da Assunção, a polícia de trânsito interceptou cerca de 140 católicos não registrados da cidade de Ningde, na província de Fujian, no sudeste. Eles estavam a caminho de uma missa no sub-estrito de Luojiang, na cidade de Fuan. Os oficiais disseram que sabiam de onde vinham os fiéis e quantos ônibus haviam alugado para a viagem. Eles multaram os motoristas de ônibus e retiraram suas carteiras de habilitação.”

O culto à Xi Jinping

“Católicos não registrados da cidade de Fengcheng, em Jiangxi, reclamaram que as autoridades frequentemente os assediavam e iam às suas casas para substituir símbolos religiosos e imagens por retratos do presidente Xi Jinping. Eles foram até forçados a serem fotografados com essas imagens penduradas na parede. Aos vizinhos dos fieis foram prometidos recompensas ​​financeiramente se relatassem qualquer reunião religiosa não autorizada.” Ou seja, prêmio de delação.

“As autoridades nos disseram que acreditamos em um Deus estrangeiro e que isso é uma traição ao nosso estado”, disse um dos católicos.

“Em 2018, o governo da cidade de Xinyang, na província central de Henan, ameaçou cancelar as verbas para redução da pobreza de um casal católico na casa dos 70 se eles continuassem a praticar sua fé. Depois que finalmente assinaram a declaração renunciando às suas crenças, as autoridades removeram imagens religiosas de suas casas e as substituíram por um retrato de Mao Tsé-tung.”

“Em 18 de agosto, o governo da cidade de Handan na província de Hebei demoliu uma igreja católica em um vilarejo do distrito de Yongnian por “não estar licenciada”, embora tivesse um certificado de registro de local de atividade religiosa válido. Um oficial local disse à congregação que “o certificado é apenas um pedaço de papel”. Ele também ameaçou os fiéis que guardavam a igreja que vinham das aldeias vizinhas de que suas igrejas também seriam demolidas porque vieram para cá.”

“No condado de Longnan, administrado pela cidade de Ganzhou, em Jiangxi, os funcionários do Departamento de Trabalho da Frente Unida inspecionaram uma Igreja Católica Patriótica em 1º de novembro e ordenaram a queima de todos os livros impressos por editoras não aprovadas pelo estado.

Em 22 de setembro, as cruzes foram removidas de uma igreja católica registrada no distrito de Huiyang, na cidade de Huizhou, na província de Guangdong.

“A Igreja Católica Yinyao, no condado de Puyang, em Henan, teve suas cruzes derrubadas em agosto. Um oficial local disse à congregação que ele seria despedido e que a igreja seria fechada se as cruzes não fossem removidas.”

***

Apesar de todos esses fatos, o Vaticano decidiu renovar o Acordo Provisório por mais dois anos. Que alento podem ter os católicos chineses que se vêem abandonados inclusive por Roma? No entanto, o recrudescimento dessa perseguição faz pensar que os católicos chineses — a igreja subterrânea na China — recebem graças especiais de perseverança.

Rezemos para que a Divina Providência derrame sobre eles as graças dos primeiros séculos da Igreja. E que frutifique em obras de apostolado o grande desejo de São Francisco Xavier de converter o império ao Deus verdadeiro.

Antecipamos aqui uma homenagem à sua Festa, em 3 de dezembro.

Nossa Senhora Imperatriz da China reconforte e abrevie esses dias de prova e conduza aquela Nação à sua plenitude no Reino de Maria. Tudo isso se efetivará com a derrota do comunismo que escraviza aquela Nação desde a Revolução de Mao, em 1949.

Fonte: https://bitterwinter.org/catholic-churches-suppressed-and-secularized-nationwide/