A festa dos Santos Anjos separou-se da de São Miguel, com a qual esteve muito tempo unida. Celebrada na Espanha no século XVI, Clemente X estendeu-a em 1670 a toda a Igreja, e fixou-a neste dia.
É de um modo especial que devemos honrar hoje estes anjos que têm o encargo de guardar, iluminar e reger a cada um de nós, pois disse o Salvador: “Não desprezeis nenhum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos, nos céus, veem continuamente a face de meu Pai que está no Céu” (Mt 18, 10).
Diz a Sagrada Escritura que a vida do homem sobre a Terra é uma luta constante: “Militia est vita hominis super terram” ─ “A vida do homem sobre a terra é uma luta” (Vulgata, Jó 7,1).
Mas não estamos sós nesse combate. Nosso Anjo da Guarda nos acompanha e assiste em todas as circunstâncias de nossa vida. Ele nos ampara tanto em nossas aflições quanto em nossas alegrias. São Bernardo afirma que ele nos acompanha sempre, ligando-se a nós como um fiel servidor, não cessando de solicitar nossa alma para o bem, de a advertir por seus conselhos assíduos, dizendo-lhe sem descanso no fundo do coração: “Deleitai-vos no Senhor, e Ele atenderá todos os desejos de vosso coração”.
Ao que acrescenta o grande pregador francês, Jacques-Bénigne Bossuet (1627- 1704), Bispo de Meaux: “Ó cristãos! Crede não serdes associados senão com homens. Não pensais senão em satisfazê-los, como se os anjos não vos tocassem. Desenganai-vos. Há um povo invisível que vos é unido pela caridade. ‘Vós vos aproximastes da montanha de Sion, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de um grupo inumerável de anjos’ (Heb 12,22). Um de sua companhia bem-aventurada está ligado especialmente à vossa conduta. E todos tomam parte em vossos interesses mais que vossos pais mais ternos, mais que vossos amigos mais confiantes”.
O beato Pio IX confidenciou a um grupo de peregrinos que, cada manhã a proteção do seu Anjo da Guarda e que, no decorrer do dia, invocava o auxílio dos Anjos, de maneira especial quando o trabalho era complicado e difícil.
As nações, as famílias, as dioceses, as igrejas, as comunidades religiosas, têm o seu anjo da guarda. A santa Igreja aplica a cada um de nós o que está escrito do povo de Deus na antiga Lei: “Eis que Eu envio o meu anjo à tua frente, para te guardar no caminho, e para te conduzir ao lugar que Eu te preparei” (Ex 23, 20-23).
Assim, o nosso Anjo da Guarda tem por missão proteger-nos e defender-nos, pôr-nos ao abrigo das ciladas e dos inimigos da alma e do corpo, para podermos alcançar a vida eterna.
Por isso devemos rezar diariamente, de manhã e à noite, a bela e singela oração que nos ensinaram ainda no berço: “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina”.
Na oração da Missa dos Santos Anjos da Guarda, a Igreja pede: “Senhor, que em vossa inefável providência vos dignastes enviar vossos Santos Anjos para nos guardar, nós vos pedimos nos concedais a graça de ser defendidos por sua proteção, e a alegria de ser seus companheiros na eternidade”.