O Martirológio Romano traz neste dia, a seguinte entrada: “Em Bamberg (Alemanha), Santa Cunegundes, imperatriz. Casada com Santo Henrique I, Imperador dos Romanos, obteve dele consentimento para guardar perpétua virgindade. Cheia de méritos, por causa de suas boas obras, morreu santamente, e resplandeceu com milagres depois da morte”.
Esta ilustre princesa era filha de Sifroi ou Sigefroi, primeiro conde do Luxemburgo. Sua mãe, Asvige, educou-a profundamente na religião cristã, de modo que a menina só almejava ser freira. Entretanto, “nobreza obriga”: pertencendo à alta nobreza, ela não podia dispor de si mesma, mas tinha que ater-se aos interesses do Estado.
Desse modo foi preciso casar-se com o Duque da Baviera, Henrique, também muito piedoso, e que em 1002 tornar-se-ia rei da Alemanha.
Como diz o Martirológio, com o consentimento de seu esposo, Cunegundes consagrou sua virgindade ao Rei dos Céus. O santo casal passou a viver como irmãos, no que é chamado “casamento josefino”.
Um conhecido hagiógrafo exclama a esse propósito: “Ó feliz matrimônio do qual o liame não era a voluptuosidade, mas a caridade! Ó santa união, na qual se encontrava o mesmo desejo de uma castidade inviolável, o mesmo espírito de compaixão para com os pobres, a mesma afeição pela caridade, o mesmo amor pela virtude, o mesmo ódio contra o vício, a mesma vontade em todas as coisas e, enfim, uma conformidade tão maravilhosa, que não se podia notar alguma diferença de sentimentos nesse grande número de ações que tornaram suas vidas tão agradáveis aos olhos de Deus, e tão admirável diante dos homens!”
Como rainha, Cunegundes entregou-se às obras de caridade, socorrendo os pobres, órfãos e viúvas com um amor materno. Entretanto, algumas línguas maldosas ousaram acusar a inocência dessa princesa. Para fazer calar esses murmuradores, ela submeteu-se ao chamado Julgamento de Deus, comum na Idade Média, que consistiu em passar com os pés nus sobre brasas ardentes, sem receber nenhum mal.
Em 1014 o casal real recebeu em Roma a coroa imperial das mãos do Papa Bento VIII. A partir de então os dois santos esposos ficaram famosos pela felicidade que proporcionaram a seus súditos nos 27 anos de paz e prosperidade que foi seu reinado.
Um ano após a morte de Santo Henrique, que ocorreu em 1024, Santa Cunegundes, vendo-se livre do trono com a ascensão do Imperador Conrado, fez que fosse consagrada pelo arcebispo a igreja do mosteiro do Refúgio, que ela tinha fundado, com uma Missa. No meio dela, a que tinha entrado como imperatriz portando todas as insígnias da realeza, ofereceu ao novo templo uma relíquia da verdadeira Cruz; despojou-se depois de todos seus ornamentos, e revestiu-se do hábito religioso, que ela mesma tinha costurado. E assim transformou-se em esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo no mosteiro por ela fundado.
Como a mais humilde religiosa, Cunegundes, apesar de ser a mãe de suas religiosas, as servia humildemente, cuidava das doentes, empregando seu tempo na oração e no trabalho manual, para não ficar ociosa.
Depois de viver quinze anos em religião sendo a edificação não só das outras religiosas, mas de toda a cidade, ela chegou ao fim de sua carreira terrena. Entretanto, vigilante até no último extremo, vendo que preparavam o tecido mortuário para cobrir seu corpo, notou que ele estava entremeado de bordados à ouro, e disse: “Esse tecido não me convém, retirai-o. Quando eu esposei um homem mortal, portei ricas vestes. Mas o pobre hábito que trago hoje é o de esposa de Jesus Cristo. Não procurai, pois, outros ornamentos para cobrir meu corpo, e enterrai-me junto de meu irmão e senhor, o imperador Henrique, que me chama, eu o vejo”. Com essas palavras entregou sua alma a Deus.
O imperador Santo Henrique foi canonizado em 1146, e sua ilustre esposa no ano de 1200.