Peça-mestra da Contra-Reforma católica, grande propugnador do Concílio de Trento, realizou profunda reforma na arquidiocese de Milão. Foi um exemplo de verdadeiro Pastor, por seu zelo pelas almas e santidade de vida.

A missão de um bispo é a de guiar suas ovelhas. São Carlos deu excelentíssimos exemplos desta dedicação. Sobretudo na Peste em Milão (1576).

Carlos Borromeu nasceu num cenário paradisíaco,  no castelo de Arona, nas margens do Lago Maior, Ducado de Milão, a 2 de outubro de 1538. Era filho dos condes Gilberto e Margarida de Medicis, irmã do Cardeal João Ângelo, que seria elevado ao Sólio Pontifício com o nome de Pio IV.

Desabrochou logo cedo em Carlos a vocação sacerdotal, de modo que já aos 8 anos recebeu a primeira tonsura; aos 12 seu tio, Júlio César Borromeu, resignou em seu nome a abadia de São Graciano e São Felino. Apesar da pouca idade, Carlos estava ciente de que as rendas dela eram patrimônio dos pobres. Pediu ao pai que as considerasse assim, e que fossem empregadas exclusivamente para esse fim

Aos 21 anos Carlos doutorou-se nos Direitos civil e eclesiástico. Seus pais tinham já falecido. Sua carreira começaria cedo, pois no ano seguinte seu tio João Ângelo, eleito Papa, chamou-o para junto de si, e o nomeou Cardeal Arcebispo de Milão. Encarregou-o, apesar de seus vinte e dois anos, da maior parte do governo da Igreja. Isto é, fê-lo Secretário de Estado sem o título, além de Protonotário Apostólico da Firma Pontifícia, e várias outras honrarias

Mas repentinamente ocorreu o falecimento do Conde Frederico, seu irmão mais velho, a quem o Papa chamara também a Roma e cumulara de honras. Todos esperavam que Carlos, não tendo ainda sido ordenado sacerdote e sendo agora o único herdeiro do nome da família, deixasse a carreira eclesiástica e se casasse para perpetuar o nome. Ele, pelo contrário, acelerou sua ordenação e consagração total a Deus de modo irrevogável.

Ao ser ordenado, considerando a sublime dignidade sacerdotal e a obrigação que tinha de ser o bom odor de Cristo, Carlos despojou-se das ricas vestes de seda, simplificou o serviço de sua casa, e escolheu o piedoso Pe. João Batista Ribeira, jesuíta, como seu diretor espiritual.

Uma de suas iniciativas mais importantes foi de trabalhar para a conclusão do Concílio de Trento, que fora interrompido. Não podendo dele participar  por causa de seus afazeres em Roma, empenhou-se na publicação de suas Atas, do Catecismo Romano, conforme dispunha o Concílio, e da reforma do breviário. Trabalhou também para pôr em prática as resoluções dessa magna assembléia, principalmente no que diz respeito à reforma do clero, contando para isso com a ajuda muito eficaz de São Felipe Néri. Foi quando o Papa o nomeou então arcebispo de Milão.

Como a missão de um bispo é a de guiar suas ovelhas, Carlos começou,  para esse fim, a exercitar-se na pregação, com assombro de todos, pois não era costume na época que cardeais se entregassem a esse ministério. Suas palavras penetravam fundo, obtendo grande fruto.

         Chegando a Milão, o Cardeal Borromeu, seguindo a orientação do Concílio, começou a reforma do clero. Que este necessitava urgentemente de reforma é certo, pois os padres eram ainda mais desregrados que o povo. Sua ignorância era tão grande, que a maioria não sabia as fórmulas dos Sacramentos. A bebedeira e o concubinato eram muito comuns entre eles, e acrescentavam a esses sacrilégios outros mais execráveis pela administração dos Sacramentos e celebração dos Santos Mistérios em  estado criminoso e escandaloso.

Ele começou a reforma que pregava por sua própria casa, estabelecendo nela um regulamento para que todos vivessem com simplicidade e modéstia. Havia horário para as orações vocal e mental e para o exame de consciência, e ninguém podia ausentar-se desses atos sem permissão. Os sacerdotes eram obrigados a se confessar todas as semanas e a celebrar o Santo Sacrifício diariamente. As refeições eram em comum, com a leitura de algum livro de vida espiritual. Enfim, ordenou sua casa como se fosse um colégio da Companhia de Jesus, com exercícios, costumes e ofícios semelhantes aos que há nas casas da Companhia. Quanto a si, dormia poucas horas, sobre pranchas, comia pouco, chegando, no fim da vida, a viver só de pão e água, e isso uma só vez por dia. Sua delicada saúde ressentiu-se disso, e foi necessário apelar-se para o novo Papa, São Pio V, para que lhe ordenasse atenuar um tanto suas penitências.

Entretanto, onde o zelo do Santo mais se desdobrou foi por ocasião da violenta peste que assolou Milão em 1576. Todos que puderam fugiram, inclusive as autoridades civis. Mas o Pastor não podia abandonar suas ovelhas feridas. Vendeu toda a prataria do palácio episcopal para socorrer os atingidos, deu-lhes todos os móveis de sua casa, e até seu próprio leito. Enfim, São Carlos Borromeu morreu prematuramente aos 46 anos, em 4 de novembro de 1584, sendo canonizado em 1610.

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