Natural de Aquila, na Campânia, no século II, Vitorino e seu irmão Severino eram bem ricos, mas venderam seu patrimônio, distribuindo o produto pelos pobres. Vitorino retirou-se para o deserto, onde passou a levar vida de contemplação e penitência. Sua virtude e santidade logo se tornaram conhecidas porque começaram a resplandecer com  milagres, curando enfermos de todas as moléstias, ressuscitando mortos, e expelindo demônios.

Morto o bispo de Áquila, o povo aclamou Vitorino para sucedê-lo. Foi então ordenado sacerdote, e governou sua diocese com muita sabedoria, dando exemplo de vida santa e milagrosa. Segundo uma tradição e como diz o Martirológio Romano, por ordem do imperador Nerva, por sua fidelidade a Cristo foi pendurado de cabeça para baixo sobre águas mefíticas e sulfurosas, entregando sua alma a Deus no terceiro dia, pelo que consta, no dia 5 de setembro do ano 100.

Aqui encontramos uma dificuldade no que diz o Martirológio Romano e outras fontes, que São Vitorino foi morto no império de Nerva e Trajano. Pois o Imperador Marco Coceio Nerva (8nov30-27jan98) governou somente 2 anos, e é tido segundo conspícuo historiador como um dos “cinco bons Imperadores romanos” (ele e seus quatro sucessores imediatos), dos quais um era Trajano.

Por outro lado, Nerva  é considerado pelos historiadores antigos como um imperador sábio e moderado, interessado no bem-estar econômico de seu povo, procurando reduzir as despesas do governo e conquistá-lo por suas benevolências.

Quanto a Trajano, que dividiu o Império com Nerva, com o advento do cristianismo em Roma e na Idade Média, houve um embelezamento de sua lenda. Assim, era comumente dito em tempos medievais que o papa Gregório I, pela intercessão divina, ressuscitou Trajano da morte, e o batizou na fé cristã. O que levou teólogos medievais como Tomás de Aquino, a dizer que Trajano foi um exemplo de pagão virtuoso. Por isso Dante Alighieri, na Divina Comédia, vê o espírito de Trajano no primeiro círculo do seu Inferno, onde ficavam os pagãos virtuosos.

Entre as obras sociais mais beneméritas desse Imperador, está que ele foi o impulsor de um plano de ajuda aos proprietários agrícolas, consistente na concessão de crédito com taxas de juro abaixo das usuais, e cuja originalidade consistia em que os juros cobrados se destinavam à manutenção de crianças de condição livre. Assim, buscava-se favorecer o aumento da natalidade, que havia caído a índices alarmantes.

O que poderia explicar o martírio de São Vitorino durante o governo desses dois imperadores, seria haver entre os seus subalternos,  alguns governadores mais papistas que o Papa, quer dizer, mais radicais que os imperadores, e que, movidos por seu ódio aos cristãos, tenham sido os responsáveis por esse martírio como diz o Martirológio Romano neste dia: “Num subúrbio de Roma, o bem-aventurado Vitorino, bispo e mártir. Notável pela sua santidade e milagres, foi eleito bispo da cidade de Amiterno (Áquila), por sufrágio de toda a população. Mais tarde, no império de Nerva-Trajano, foi relegado com outros servos de Deus para Cutilias, onde manam águas mefíticas e sulfurosas. Suspenso de cabeça para baixo por ordem do juiz Aureliano, sofreu ali durante três dias, pelo nome de Cristo. Afinal, após glorioso martírio, passou triunfantemente desta vida ao Senhor. Os cristãos arrebataram o corpo, e deram-lhe honrosa sepultura em Amitermo, no Abruzzo”.

Outra dificuldade é a de que Cutilias ou Cutilium ficava na antiga Reate, hoje Rieti, na Itália central, e não era pois um subúrbio de Roma. E a de que as águas de uma nascente junto a seu lago eram consideradas medicinais, boa para o estômago e nervos. Não consta que havia na região águas mefíticas. O imperador Vespasiano costumava ir lá todo verão para beber suas águas, e faleceu lá. Seu filho, imperador Tito, também faleceu lá.

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