Nas crônicas dos mártires aparecem várias com o nome de Flávia Domitila. O Martirológio Romano fala no dia de hoje de uma virgem com esse nome, conhecida como “a Jovem” para a distinguir das anteriores: “Em Terracina, na Campânia, o natalício [para o céu] da bem-aventurada Flávia Domitila, virgem e mártir, filha de Santa Plautila e irmã de São Flávio Clemente, cônsul e mártir. Das mãos do papa São Clemente recebeu o santo véu de virgem consagrada a Deus. Na perseguição de Domiciano, foi primeiro exilada para a ilha de Ponza, onde padeceu longo martírio pelo testemunho de Cristo.

“Finalmente foi levada para Terracina, onde converteu muitos à fé de Cristo com sua doutrina e milagres. Por esse motivo, mandou o juiz incendiar o quarto em que ela morava com as virgens Eufrosina e Teodora, suas companheiras. Assim terminou o curso de seu glorioso martírio”.

Segundo a tradição, essa Flávia Domitila de que fala o Martirológio, pertencia à família imperial, e era neta, ao que parece de Pompônia Grecina, e como diz o Martirológio, filha de Santa Plautila. Mas era ainda pagã.

Não sabemos como conciliar o fato de  constar que a mãe e o tio de Santa Domitila eram cristãos, e que a filha era pagã. Com efeito, de sua mãe diz o Martirológio Romano no dia 20 de maio: “Em Roma, Santa Plautila, matrona consular, irmã do bem-aventurado cônsul mártir Flávio Clemente, mãe da bem-aventurada virgem Flávia Domitila. Batizada que foi pelo apóstolo São Pedro, refulgiu na glória de todas as virtudes, e finalmente descansou na paz do Senhor”.

Já de seu tio diz o mesmo Martirológio no dia 22: “Em Roma ainda, a trasladação de São Flávio Clemente, consular e mártir, irmão de Santa Plautila, tio da bem-aventurada virgem e mártir Flávia Domitila. O imperador Domiciano, com quem exercera as funções de cônsul, mandou exercutá-lo por causa da fé em Cristo. Encontrado na basílica do papa São Clemente, foi o corpo novamente sepultado nesse mesmo lugar, com toda a solenidade”.

O que ocorreu foi, segundo a tradição, que entre os servos de Domitila estavam dois piedosos irmãos, Nereu e Aquiles, que eram cristãos. Sua piedade fez com que ganhassem a estima de sua jovem senhora que, apesar de pagã, tinha boas disposições para com os pobres e necessitados.

Como quer que seja, narra ainda a tradição que, um dia em que Domitila se preparava esmeradamente para encontrar-se com seu noivo, o nobre Aureliano, os dois irmãos Nereu e Aquiles, cheios de zelo pela glória de Deus, lhe representaram respeitosamente como era indigno a uma alma imortal procurar agradar a um mortal, sem pensar na vida futura. Os dois santos apresentaram-lhe com tanta unção e beleza a virgindade consagrada a Jesus Cristo, que a princesa, iluminada pela graça, pediu-lhes que lhe pregassem essa religião tão elevada.

Convertendo-se assim seriamente, Domitila recebeu o batismo e o véu de virgem consagrada das mãos do papa São Clemente.

Ora, quando Aureliano soube do ocorrido, enfureceu-se, e após ter tentado, por súplicas e promessas, que Domitila voltasse atrás, resolveu mandar prender como cristãos, todos os que tinham influenciado a jovem e participado em sua conversão.

Desse modo foram encarcerados os santos Nereu e Aquiles, de quem fala o Martirológio Romano, também neste dia: “Em Roma, na Via Ardeatina, os santos irmãos mártires, Nereu e Aquiles que, por amor de Cristo, passaram longo degredo na ilha de Ponza, com Flávia Domitila, de quem eram servidores. Depois, sofreram duríssimos açoites. Então, pelo suplício do cavalete e da fogueira, quis o consular Minúcio Rufo obrigá-los a sacrificar. Eles, porém, responderam que de modo algum poderiam imolar aos ídolos, pois haviam recebido o batismo do bem-aventurado Pedro. Por esse motivo, foram degolados”.

“No dia de ontem (11 de maio), o papa Clemente VIII mandou trasladar solenemente suas sagradas relíquias, com as de Flávia Domitila, da diaconia de Santo Adriano para a antiga igreja titular, onde antes estavam, e que acabava de ser restaurada. O mesmo Pontífice determinou que, neste dia, também se celebrassem, dali por diante  a festa da bem-aventurada virgem Domitila, cuja paixão é comemorada no dia 7 deste mês”.

Santa Flávia Domitila então, por seu ilustre nome, bondade e beleza, não foi martirizada por ser cristã, mas exilada, como diz o Martirológio, com os dois confessores da fé, para a ilha de Ponza, cerca de Terracina.

Ainda segundo a tradição, entretanto Aureliano, ainda com esperanças de a fazer voltar atrás em sua resolução, conseguiu do Imperador que a trouxesse de volta do exílio, e que ela ficasse em prisão domiciliar. E contratou, para lhe fazer companhia, duas jovens donzelas, Eufrosina e Teodora, ambas pagãs, que deveriam tentar fazê-la retornar ao culto dos ídolos. Em vão, pois foi Flávia Domitila que as converteu com sua sabedoria e ardor. Consta que teve influência nisso o fato de que ela obteve a cura milagrosa da serva de uma delas, muda desde nascença. Acrescenta a tradição, como diz o Martirológio, que também estas duas acabaram consagrando sua virgindade a Deus.

Quando Aureliano soube do ocorrido, desesperado, para vingar-se, conseguiu do cônsul Rufo que pusesse fogo na casa onde moravam as três virgens, para queimá-las vivas. Foi o que ocorreu.

Segundo ainda a tradição, quando o diácono São Cesário foi recolher as cinzas das mártires, encontrou-as prosternadas com a face contra a terra, como se estivessem em oração. E assim entregaram suas belas almas a Deus.

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