O nome “Deodato”, ou em latim “Deusdedit”, que significa “dado por Deus”, era muito comum já na Igreja primitiva. Foi, por exemplo, o que Santo Agostinho escolheu para seu filho, em agradecimento a Deus por tê-lo dado. No Martirológio Romano há vários santos com esse nome. Mas o mais conhecido deles é o Papa que viveu no século VII, São Deodato I.
Esse santo era romano de nascimento e formação, e desde cedo seguiu a melhor tradição eclesiástica. Praticamente não se tem dados de sua infância e juventude. Ele foi elevado ao sólio pontifício sucedendo ao Papa Bonifácio IV, em 19 de outubro de 615. Na época, o Papa era não somente o Bispo de Roma e pai espiritual de todos os fiéis, mas também seu guia civil, o juiz e supremo magistrado, a garantia da ordem. Com a morte de cada Pontífice, os romanos se sentiam privados de proteção, expostos às invasões dos bárbaros nórdicos, ou às reivindicações do Império do Oriente.
Nessa época o Império Romano que alcançara tanta glória, já havia desmoronado, e a Itália estava sendo ocupada pelos bárbaros godos e longobardos, provenientes do norte da Europa. Quanto ao sul do país, sofria a poderosa influência do Império Bizantino.
A Igreja de Roma, na pessoa do Sumo Pontífice, devia muitas vezes, intervir a fim de pacificar situações de conflitos armados, e sua autoridade se afirmava cada vez mais, como árbitro sobre príncipes e povos.
No tempo do Papa Deodado, houve de fato revoltas e invasões armadas que exigiram a mediação pacificadora do Papa, como a entre o príncipe de Ravena e o tirano João Consino do sul da Itália.
O breve período de apenas três anos do pontificado de São Deodato foi perturbado por duas graves calamidades: um grande terremoto que se abateu nas vizinhanças de Roma no mês de agosto de 618, e uma peste que deformava tanto os corpos, que os tornava irreconhecíveis.
O Papa desenvolveu então uma providencial obra de assistência, transformando-se inclusive, ele próprio, em enfermeiro, cuidando dos atingidos pela desgraça, aliviando-lhes os sofrimentos. A história fala de curas milagrosas operadas por ele ao tocar ou abraçar os atingidos pelo terrível mal. Os romanos o veneravam como um pai bondoso e extremado, que aliviava seus sofrimentos.
Na atividade pastoral, conservam-se deste papa determinações litúrgicas a serem observadas nas basílicas romanas. Ele teve um grande amor ao clero, favorecendo que os padres seculares ocupassem ofícios ou cargos fixos na diocese, e providenciando os benefícios para sustentação dos sacerdotes.
Com este papa teve início o uso de selar os documentos pontifícios com uma pequena peça de chumbo em forma redonda, chamada em latim: bulla. A partir de então, todos os documentos pontifícios sigilados com este selo de chumbo foram chamados bulas pontifícias e, geralmente tratam de questões de doutrina ou de disciplina eclesiástica.
Ainda se conservam alguns documentos deste papa trazendo o selo de chumbo que representa a imagem do Bom Pastor com as siglas: “Alfa e Ômega”, símbolo de Cristo, princípio e fim de todas as coisas.
Desconhecem-se as circunstâncias da morte de São Deodato, que a história colocou no dia oito de novembro de 618.
O Martirológio Romano traz um milagre operado pelo santo: “Em Roma, São Deusdedit I, papa, de tanto merecimento, que com um beijo curou um leproso de sua doença”.
É todavia em geral aceito o título de santo que a tradição lhe conferiu. Seu corpo foi sepultado na Basílica de São Pedro em Roma.