No cerro que domina o vale no seu santuário atual, descansam desde 1750 as relíquias de Santa Cacilda, “a virgem moura que veio de Toledo”, muito venerada em Burgos, em uma urna obra de Diego de Siloé, em que aparece recostada. O local tem sido centro de peregrinação durante séculos, e não deixa de ser frequentado atualmente.

Entretanto, tudo em torno a Santa Cacilda é incerto quando não confuso e contraditório. Mas sua figura tem o encanto da simplicidade e o sabor do heroico no amor. Cativou o povo cristão medieval, e o animou à fidelidade. Seu próprio nome, “Cacilda”, em árabe significa “cantar”, é como um verso em tom de canção.

Segundo a legenda, esta santa era filha do rei mouro de Toledo, Almancrin, o príncipe mais poderoso de todos os que repartiram entre si os restos do califado de Córdoba. Ele dominou Toledo e todo o planalto, até Guadarrama pelo norte, e pelo sul até a Serra Morena.

Embora vivendo no meio de toda a riqueza da corte moura, a princesa era dotada de abundante clemência e ternura, e não suportava a aflição dos desafortunados cristãos que estavam nas masmorras, principalmente os mais pobres. Ela procurava consolá-los, levando-lhes alimentos escondidos em sua saia. Um dia o pai a surpreendeu, e ocorreu o mesmo que com as Santas Isabel da Hungria e a de Portugal: os alimentos se transformam em rosas.

É provável que os próprios prisioneiros lhe falassem da religião cristã, e a instruíssem nela. Convencida da veracidade do cristianismo, Cacilda quis receber o batismo. Mas como, entre os islamitas que a rodeavam?

Ocorreu então que a princesa foi atacada de grave doença, com fluxos de sangue que os médicos da corte não conseguiam estancar. Ela teve então a revelação de que encontraria o remédio para sua cura nas águas milagrosas de São Vicente cerca de Burgos, na cristã Castela. O pai concordou com a viagem, deu-lhe acompanhamento régio e cartas de recomendação a Dom Fernando I, rei de Castela.

Depois de banhar-se nas águas do poço, Cacilda recebeu o batismo em Burgos. Decidiu então a passar o resto de seus dias na solidão, dedicada à oração e à penitência.

Cacilda morreu em idade avançada, sendo sepultada na mesma ermida que mandou construir, que logo se converteu em lugar de peregrinação, e onde começou-se a sentir o efeito de sua proteção.

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