A festa da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é a mais importante do ciclo litúrgico, ainda mais que a do Natal pois, como diz São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Cor 15, 14).

A ressurreição de Cristo Jesus é o seu mais estupendo milagre, o fato mais glorioso de sua existência humana, a prova mais luminosa de sua divindade. É a base ou pedra angular de nossa fé. A ressurreição tem seu coroamento na ascensão, e alcançará seu triunfo completo no Juízo Universal.

A Páscoa, celebrando a vitória de Cristo e de seus fiéis sobre a morte e o pecado, representa a passagem das almas do estado de culpa à condição de filhos amados de Deus. Está intimamente coligada com o santo Batismo, o qual não só é figura dessa vitória e passagem, mas a efetua, conferindo a vida espiritual da graça.

Por isso o tempo da Páscoa deve lembrar-nos as exigências morais da vida nova adquirida no Batismo , que se assentam no princípio enunciado por São Paulo: ressuscitado com Cristo, o cristão levanta as suas aspirações para o Céu, para desprender-se das satisfações terrenas, e saborear as coisas do alto.

Caberá ao Espírito Santo acabar de formar no batizado “o homem novo” que, pela santidade de vida, será testemunha de Cristo ressuscitado.

 São Júlio I, Papa e Confessor

 O Martirológio Romano traz neste dia a seguinte entrada: “Em Roma, na Via Aurélia, o natalício [para o céu] do papa Júlio I, que muito lutou pela fé católica contra os arianos. Afamado pela santidade, descansou em paz depois de muitas e gloriosas realizações”.

O imediato sucessor do papa Silvestre, Arcus, governou a Igreja Romana somente por um breve período, de 18 de janeiro a 7 de outubro de 336. Depois de sua morte, a Sé de Pedro ficou vacante por quatro meses. Não se sabe o que provocou essa comparativamente longa vacância.

No dia 6 de fevereiro de 337, Júlio, filho de Rústico e nativo de Roma, foi eleito Papa.

Pouco se sabe da vida deste Papa, a não ser que seu pontificado notabilizou-se principalmente por sua judiciosa e firme intervenção na controvérsia ariana, sobre a qual temos abundantes fontes de informação.

Ocorrera que, depois da morte em 337 de Constantino o Grande, o imperador que, pelo Edito de Milão deu liberdade à Igreja, o Império Romano dividiu-se entre seus três filhos. Um deles, Constantino II, logo faleceu. Constâncio II ficou com o Império do Oriente, e Constante I com o do Ocidente. Enquanto Constante era firmemente católico, Constâncio tornara-se ariano.

Em 350 Constante foi assassinado, e o Império reunificou-se sob Constâncio, que desenvolveu fortíssima perseguição à Igreja.

O Imperador Constantino havia permitido que Santo Atanásio retornasse do exílio à sua Sé de Alexandria, no Egito. Entretanto, o partido ariano nesse país era tão forte, que pôs um dos seus como bispo daquela capital. E mandaram uma embaixada ao Papa, pedindo-lhe que o admitisse em sua comunhão, alegando que o Concílio de Tiro, em 335, provava que Atanásio tinha sido validamente deposto.

Santo Atanásio, por sua vez, enviou mensageiros a Roma para entregar ao papa Júlio uma carta sinodal dos bispos egípcios, contendo a completa justificação de seu Patriarca. Os hereges arianos, não se dando por vencidos, pediram então ao Papa para reunir um grande sínodo diante do qual os dois partidos se apresentassem para sua decisão.

Para simplificar as coisas, digamos que foi convocado o concílio de Sardica, a principal cidade da província da Dacia Mediterrânea (moderna Sofia), ao qual os bispos arianos do Oriente não compareceram, sendo assim reconhecida a inocência de Santo Atanásio. Contudo ele só foi restaurado à sua diocese com a morte do usurpador George em 346.

O papa São Júlio I então escreveu uma carta aos padres, diáconos e fiéis de Alexandria, congratulando-se com eles pelo retorno do seu pastor.

O mérito de São Júlio I esteve em manter o mistério da Santíssima Trindade contra os que tentavam fazer do Evangelho um monofisismo racionalista a meias, aceitável por todos. Foram precisos quase dez concílios falhados para se chegar ao I Concílio ecumênico de Constantinopla em 381, que representou uma vitória.

Com efeito, nele todas as Igrejas locais que faziam parte da única Igreja Católica, Apostólica e Romana, foram unânimes em rejeitar o arianismo e os movimentos que lhe tomaram o lugar.

Quanto ao pontificado de São Júlio, sabemos que ele não só reabilitou Santo Atanásio, mas proclamou a primazia da Sé Episcopal de Roma, e renovou a adesão ao texto exato do Credo de Niceia.

Isso levou o Cardeal Franjo Séper, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé de João Paulo II, a afirmar que, foi graças ao credo simples rezado pelos fiéis católicos, que se deveu a vitória final sobre essa seita ariana que tanto mal fizera à Igreja.

Durante o pontificado de São Júlio houve um rápido crescimento no número dos fiéis em Roma, onde o Pontífice erigiu duas novas basílicas, a atual Santa Maria in Trastevere, e a Basílica Julia, agora Igreja dos Doze Apóstolos. Construiu também mais 3 igrejas sobre os cemitérios fora dos muros de Roma, nas vias Flavínia, Aurélia e Portuense, respectivamente as igrejas de São Valentim, São Calisto e de São Félix. Cuidou da organização eclesiástica e da catequese catecumenal, ou seja, dos adultos e anciãos candidatos ao batismo. Também sob seu pontificado vieram a uso o catálogo das festas dos Santos, e o calendário de festas de Filocalus datado do ano de 336.

Um dos efeitos da longa estadia de Santo Atanásio em seu exílio em Roma por muitos anos depois de 339, a ele se deve que a vida monástica dos egípcios tornou-se muito conhecida na capital da cristandade, e o exemplo dos eremitas de seus desertos encontrou muitos imitadores na Igreja Romana.

O papa Júlio I faleceu no dia 12 de abril de 352 após quinze anos de pontificado, e foi enterrado nas catacumbas de Calepódio, na Via Aureliana. Logo após sua morte, esse Pontífice passou a ser honrado como santo. Seu corpo foi mais tarde, em 1505,transferido para a igreja de Santa Maria no Trastevere, que ele tinha construído, reavivando assim o seu culto.

São Júlio é considerado o fundador do arquivo da Santa Sé, tendo ele ordenado a conservação dos documentos.

Foi em 350, durante seu pontificado, que o Natal passou a ser comemorado em 25 de dezembro. No princípio esse dia era uma data pagã conhecida como “férias de inverno” em homenagem a Saturno, o deus da agricultura. Um decreto de São Júlio, nesse ano, determinou a substituição da veneração ao deus sol pela data em que nasceu Jesus, o Salvador.

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