Este santo medieval é muito pouco conhecido no Brasil. Era o segundo filho dos Visdonini, família distintíssima na famosa e bela cidade de Florença, e nela nasceu no ano de 995. Foi educado num dos castelos dos pais, Gualberto e Da. Villa, seguindo os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo. O pai procurou fazê-lo um perfeito cavaleiro, hábil nas palavras e nas armas, para que depois pudesse administrar e defender o patrimônio e a honra da família.

Crescendo, como todo membro da nobreza, João cingira a espada com foro de cavaleiro, correspondendo aos anseios do pai.

Mas não a desembainhara ainda, pois queria que o primeiro uso dela fosse contra o assassino do seu irmão mais velho, a quem jurara vingar.

Numa de suas andanças pela região acompanhado de lacaios e servos, João encontrou numa das voltas do caminho, o homicida vagando sozinho. João Gualberto empunhou a espada e dirigiu-se a ele que, indefeso só pôde, de joelhos e braços em cruz, implorar clemência.

Ora, estava-se na Sexta-feira Santa. Aquela atitude suplicante do homicida com os braços em cruz fez o jovem cavaleiro lembrar-se de Cristo na Cruz. Comovido, com um gesto inesperado e generoso, ergueu da terra o assassino de seu irmão, e o abraçou em sinal de perdão, dizendo-lhe: “Perdoo-te pelo sangue que Jesus Cristo hoje derramou na Cruz”. Uma grande paz invadiu sua alma, e a partir desse momento sua vida mudou completamente. Decidiu abandonar o mundo, e foi bater na porta do mosteiro beneditino, vencendo as desculpáveis resistências do pai.

A capela do mosteiro era dedicada a São Miniato, do qual diz o Martirológio Romano no dia 25 de outubro: “Em Florença, a paixão do bem-aventurado Miniato, soldado que, sob o imperador Décio, lutou galhardamente pela fé de Cristo, e foi coroado de nobre martírio”. Nela o jovem ajoelhou-se diante de um  Santo Cristo, e rezou fervorosamente com a alegria de quem tinha cumprido um dificultoso dever. Ao levantar-se, olhou para o rosto de Cristo, e viu que por três vezes seguidas Ele se inclinava para si. Era a aprovação divina do perdão dado.

No mosteiro, João Gualberto tornou-se um humilde monge, exemplar na disciplina e na observância das Regras, no estudo, na oração, na penitência e na caridade. Só então aprendeu a ler e a escrever, pois para um nobre de sua época o mais importante era saber manusear bem a espada. Dotado do dom da profecia e dos milagres, João era muito considerado por todos.

Em 1035, com a morte do abade, ele foi eleito por unanimidade para sucedê-lo. Mas renunciou de imediato ao cargo quando soube que o monge tesoureiro havia subornado o bispo de Florença para escolhê-lo, pelo que decidiu sair do mosteiro..

João Gualberto tentou então a vida na camáldula fundada não havia muito por São Romualdo. Mas não encontrou nela o que almejava, e resolveu fundar o seu próprio mosteiro, seguindo as regras de São Bento.

O santo retirou-se então para as selvas dos Apeninos, no monte Vallumbrosa, perto de Florença, onde construiu seu mosteiro.

Seguia com rigor a disciplina e austeridade das regras da Ordem beneditina  mas, no lugar do trabalho manual, colocou muito estudo, leitura e meditação. João Gualberto implantou assim um centro tão avançado e respeitado de estudos, que a própria Igreja enviava para lá seus padres e bispos para aprofundarem seus conhecimentos.

De Vallumbrosa desciam os monges, temperados na Regra beneditina reformada, primeiro à vizinha Florença, depois a várias cidades da Itália procurando, seguindo o exemplo do santo abade, corrigir os costumes, e as próprias instituições civis que eram contrárias ao Evangelho.

Os florentinos chegaram até a confiar aos monges valombrosianos as chaves do tesouro e o sigilo da República. O Papa Leão XI realizou uma longa viagem para fazer-lhes uma visita.

São João Gualberto fundou outros mosteiros, inclusive o de Passignano, na Umbria, onde morreu no dia 12 de julho de 1073. Antes de sua morte, disse aos seus monges: “Quando quiserem eleger um abade, escolham entre os irmãos o mais humilde, o mais doce, o mais mortificado”.

Nos séculos seguintes, seus monges se especializaram em botânica, sendo por isso convidados a fundar essa cátedra na célebre Universidade de Pavia. Também as universidades de Pádua, Roma e de Londres buscavam naqueles mosteiros os seus mais capacitados mestres no assunto.

Canonizado em 1193, São João Gualberto foi declarado Padroeiro dos Florestais, pelo papa Pio XII, em 1951.

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