Muitos querem rezar, poucos lutam, raríssimo são aqueles que se oferecem a Deus como vítima expiatória para a salvação dos pecadores. Destas almas raríssimas temos hoje Santa Ludovina.

Dentre as almas escolhidas pela Divina Providência para sofrerem pelos pecados do mundo como vítimas expiatórias, Santa Ludovina é das mais extraordinárias. Praticamente não houve dores físicas, morais ou espirituais que ela não padecesse, unida à Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Natural de Schiedam, nos Países Baixos onde nasceu em 1380, Ludovina era filha de pais pobres, mas religiosos e honestíssimos. Desde a infância já notavam nela uma profunda religiosidade, que se manifestava sobretudo por uma admirável devoção à Santíssima Virgem.

Ainda muito menina, um dia em que ela se demorou mais na igreja, a mãe foi repreendê-la, e ela lhe disse que Nossa Senhora a estava olhando com tanta ternura, que ela se deixou ficar ao pé do altar.

Quando Ludovina tinha 12 anos, já era muito bonita, e atraía os olhares, principalmente dos rapazes que procuravam uma noiva. Mas ela rejeitava todas as propostas, dizendo que era esposa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, para se ver livre das propostas de casamento, heroicamente rogou a Deus que lhe tirasse a beleza do rosto e toda formosura. Esse pedido foi aceito ao pé da letra: Ela foi atacada por uma moléstia no rosto, que praticamente a desfigurou.

Ocorreu então que, quando Ludovina estava com 15 anos de idade, no dia 2 de fevereiro de 1395, festa de Nossa Senhora das Candeias, ela estava vendo suas colegas patinarem na neve. De repente, um fortíssimo empurrão de uma companheira que não a vira, fê-la cair com tanta infelicidade, que a adolescente fraturou uma das costelas. Essa foi a primeira estação de sua Via Crucis que terminou só com a sua morte 38 anos depois.

Ludovina teve então que sujeitar-se aos mais dolorosos tratamentos. As dores se generalizaram em seu organismo, e não havia órgão que funcionasse perfeitamente. Os pulmões, os rins, estômago e fígado apresentavam sucessivamente os mais alarmantes sintomas de moléstias gravíssimas. A insônia passou a ser sua companheira inseparável.

Para piorar as coisas, muitas pessoas atribuíam seu extraordinário estado a influências diabólicas, pois ela não podia sequer alimentar-se. Os próprios magistrados de Schiedam declaram, em 1421, que Ludovina “estava havia sete anos sem comer nem beber”.

A situação tornava-se mais aflitiva porque faltava alguém que a animasse e consolasse em suas desolações. Deus compadeceu-se dela, enviando-lhe um confessor e diretor espiritual exemplaríssimo, que dirigiu a atenção da penitente para a Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ludovina abandonou então o desejo de curar-se, e passou a procurar, por uma paciência heroica, a conversão dos pecadores.

Realmente foram muitos os que se converteram ao ver sua admirável conformidade com a vontade divina, e que abandonaram os vícios e voltaram à graça de Deus.

Pelo fim da vida Ludovina foi acometida de hidropisia, e cálculos renais causavam-lhe sofrimentos atrozes. O corpo parecia uma chaga. Já não suportava a maciez da cama, e passou a deitar-se sobre duas tábuas.

A esses sofrimentos físicos juntaram-se outros morais causados pela invasão do exército de Felipe de Borgonha na Holanda. A rude soldadesca foi de um procedimento indigno para com a pobre doente. A santa recebeu de Nosso Senhor o aviso de sua morte, que ocorreu no dia 14 de abril de 1433. O corpo de Ludovina, tão maltratado e desfigurado pelas moléstias, depois de morto retomou toda a formosura primitiva. Muitos milagres testemunharam a sua santidade.

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