Geysa, quarto Duque dos hunos ou húngaros, ainda bárbaro e pagão, teve a felicidade de se casar com a virtuosa Sarolta, filha do Duque de Giula, que aos encantos femininos unia os da virtude. Como uma nova Clotilde, empenhou-se ela com sucesso na conversão do marido, que com muitos de seus nobres, recebeu o batismo.
Essa conversão, embora sincera, não foi suficiente para fazê-lo cessar de vez com os costumes bárbaros, e sobretudo para torná-lo modelo diante de seus súditos. Um dia em que ele refletia sobre o modo de levar seu povo todo à conversão, um anjo lhe apareceu, e disse-lhe que, por ter as mãos ainda tintas de sangue, isso caberia só a um filho seu, o qual “será do número daqueles Reis que Deus escolheu para Reis eternos”. A Geysa, por sua vez, Deus enviaria como embaixador um santo varão que deveria ser obedecido pelo Duque em tudo o que mandasse.
Esse varão era Santo Adalberto, Bispo da Boêmia que, obrigado a sair de sua diocese em virtude da rebeldia de seus rudes vassalos checos, foi pedir asilo na Hungria. O Duque Geysa recebeu-o com grande benevolência, pondo-se em suas mãos para que o guiasse naquilo que julgasse ser da maior glória de Deus.
O santo Bispo com sua vida, doutrina e pregação divina, converteu grande número daquela gente que, por sua natural condição e por sua idolatria feroz e bárbara, vivia apartada do grêmio da Santa Igreja.
Enquanto isso a Duquesa, que em tudo animava e secundava seu esposo, estando para dar à luz, teve uma visão assegurando-lhe que o filho que ela portava no seio acabaria a obra que ela e o marido haviam começado, e que ele exterminaria o paganismo do meio de seu povo.
O esperado menino – futuro Santo Estevão – nasceu em 977, recebendo o nome do protomártir em sua honra. A criança soube pronunciar o nome admirável do Salvador antes de saber pedir o pão e saudar seu pai e sua mãe. Viu-se nele, desde a infância, tão belas inclinações para a piedade, que não se duvidou que ele levasse avante fielmente o que o Céu havia prometido e predito.
Foi dado ao menino como tutor Teodato, Conde da Itália que, de comum acordo com Santo Adalberto, fê-lo progredir nas sendas da virtude e da ciência. Desse modo, os conhecimentos com que ilustrou a inteligência do pupilo, e as virtudes com que adornou sua alma, fizeram de Estevão o príncipe mais completo de seu século.
Quando Estevão atingiu 15 anos, seu pai confiou-lhe parte dos negócios do Estado e, vendo que Deus o havia dotado de uma prudência singular, não tomava nenhuma medida importante sem ouvir antes seu parecer. Pouco mais tarde lhe confiou também o comando do exército.
No ano de 997, duas mortes feriram o generoso coração de Estevão: a de seu pai, a quem devia suceder, e a de Santo Adalberto, a quem considerava seu pai espiritual. Este, tendo ido evangelizar os povos da Prússia, lá obteve a coroa do martírio.
Talvez tenha sido por essa época que ele se casou com Gisela da Baviera, irmã do Imperador Santo Henrique.
O primeiro cuidado de Estevão, ao subir ao trono ducal, foi o de fazer a paz com seus vizinhos, a fim de poder se dedicar a estabelecer solidamente o cristianismo em seus Estados. Bem sucedido na primeira empresa, não o foi na segunda, pois alguns de seus vassalos ainda muito apegados ao paganismo e às superstições, se levantaram em armas contra ele, atacando a cidade de Veszprem, a mais importante do Ducado depois de Estergon.
Estevão se preparou para a campanha militar com jejum e oração, escolhendo para patronos de sua empresa São Martinho de Tours, seu compatriota, e São Jorge. E, embora com um número inferior de soldados, desbaratou o inimigo. No local da vitória mandou edificar um mosteiro em honra de São Martinho.
Livre assim para prosseguir seus desígnios, edificou igrejas e mosteiros, e mandou vir de outros países sacerdotes e religiosos recomendáveis por sua piedade para evangelizar seu povo. Alguns destes viriam a receber a coroa do martírio.
Mas faltava ao jovem Duque a chancela do Sumo Pontífice. Por isso, enviou uma embaixada a Roma com a finalidade de oferecer ao Pai comum da Cristandade aquele novo Estado cristão, pedir para si a bênção apostólica, e a confirmação das dioceses criadas. Mas sobretudo, conceder ao novo Duque cristão o título de Rei para que, com mais autoridade, ele levasse avante tudo o que pudesse servir para a propagação da fé e da verdadeira religião.
Narram os cronistas que, nessa mesma época, o Duque da Polônia, Miceslau, tendo-se convertido ao cristianismo, mandara ao Papa uma embaixada com o mesmo pedido. Silvestre II, para honrá-lo, havia mandado preparar magnífica coroa de ouro com riquíssimos esmaltes. Entretanto, um anjo lhe apareceu comunicando-lhe que aquela coroa não seria para o duque polonês, mas para Estevão, Príncipe da Hungria, cujos embaixadores chegariam no dia seguinte, porque suas virtudes e zelo pela fé lhe mereciam essa preferência.
O Pontífice concedeu então ao duque magiar o título de Rei, e a coroa presenteada a ele pelo Papa passou a ser uma verdadeira relíquia para os húngaros, e um símbolo de sua própria nacionalidade. Tem uma cruz um tanto inclinada por causa de um acidente, e é guardada exatamente assim até nossos dias.
Estevão submeteu sua coroa e Estados à Sé de Pedro, e consagrou seu Reino e pessoa à proteção especial da Mãe de Deus, de tal modo que só se referia ao Estado húngaro como “a família de Santa Maria”. “E tal é o respeito que os húngaros têm à Virgem, que ao falar d’Ela, a denominam sempre de ‘a Senhora’, ou ‘Nossa Senhora’, e inclinam a cabeça ao mesmo tempo, algumas vezes dobrando os joelhos”.
Na hora do combate, Estevão combatia como um bravo, mas ciente de que a vitória dependia de Deus. Quando seu cunhado e amigo o Imperador Santo Henrique faleceu, seu sucessor, Conrado II, quis apoderar-se do reino da Hungria. O santo preparou-se o melhor que pôde militarmente. Mas confiou-se sobretudo a Nossa Senhora. Ocorreu então um fato prodigioso: os generais do Imperador receberam ordem de retornar a seu país sem haver começado a batalha. Conrado, não tendo dado essa ordem, reconheceu no fato uma intervenção divina, e abandonou seu projeto de conquista.
Como todos os eleitos de Cristo, Estevão foi agraciado com Sua cruz. Durante três anos foi atormentado por violentas e agudas dores; morreram-lhe os filhos, restando-lhe apenas o mais velho, Américo. Neste, por sua disposição à virtude, depositara todas suas esperanças. Era o consolo de sua vida, e a esperança de sua velhice. Mas Deus quis também conduzir esse filho, Américo, para o reino do Céu, para o qual estava tão maduro, que foi elevado também à honra dos altares.
Santo Estevão faleceu no dia da Assunção do ano do Senhor de 1038, sendo canonizado em 1686 pelo Papa Inocêncio XI.
O Martirológio Romano Monástico, dos monges da abadia de Solesmes, dizem dele neste dia: “Em 1038, o nascimento no céu de Santo Estevão, rei da Hungria. Batizado pelo beneditino Santo Alberto e casado com a irmã do Imperador Santo Henrique II, foi coroado ‘Rei Apostólico’ no ano 1000 pelo primeiro papa francês, Silvestre II, antigo monge de Aurillac. De seu reinado data a conversão da Hungria ao cristianismo”.