Se é muito difícil praticar-se a virtude no auge da glória temporal, também o é em meio às maiores desolações. Conhecendo alternadamente em sua agitada vida, momentos de glória e de desprezo, Santa Adelaide soube neles manter uma constância na virtude, que faz dela não só uma grande Imperatriz, mas também uma grande Santa.
Filha do Rei Rodolfo II da Borgonha, e de Berta, da Suábia, Adelaide nasceu no ano de 934. Apesar do fausto da Corte, teve pais piedosos e hábeis educadores, que souberam inspirar-lhe o amor à virtude, à disciplina e à mortificação. Aos dezesseis anos casou-se com Lotário, filho do rei da Itália. Preparou-se para receber o santo Sacramento do matrimônio com orações, esmolas e boas obras.
Quando tudo parecia sorrir-lhe, eis que a mão do infortúnio bate por vez primeira às suas portas. Seu marido Lotário, que tinha herdado o trono do pai, foi deposto e envenenado por Berengário II, de Ivrea. O usurpador quis forçar Adelaide a se casar com seu filho, para legitimar a usurpação. Ela recusou-se, e foi por isso aprisionada no castelo de Garda, às margens do lago do mesmo nome.
Assim, de um momento para outro, tendo apenas dezenove anos, a rainha perdia marido, Estados, e até a filha, que lhe foi arrebatada por Berengário para forçá-la a ceder.
Alguns meses mais tarde, com o auxílio do capelão, Adelaide conseguiu fugir, e se refugiar no castelo-fortaleza de Canossa. Berengário foi-lhe ao encalço. Adelaide então chamou em seu socorro o rei da Alemanha, Oton. Este venceu o inimigo, e como era também viúvo, casou-se com a rainha destronada. Isso lhe dava novos direitos sobre à coroa da Itália.
Alguns anos depois Oton, tendo ido em auxílio do Romano Pontífice João XII, dele recebeu a coroa do Sacro-Império Romano-Alemão. Oton I será o único Imperador, a partir da Idade Média, a merecer da História o título de “Grande”.
A Imperatriz, depois de perder dois filhos em tenra idade, teve o que seria Otón II, e sucederia ao pai. Ela mesmo foi sua educadora, auxiliada pelo cunhado, São Bruno, arcebispo de Colônia, e pelo Pe. Gerbert. Estes se esforçaram em incutir no jovem príncipe uma grande submissão à Igreja, como Mãe e Mestra da Verdade, e a defendê-la sempre, se necessário, com as armas. A Imperatriz frequentemente levava seu filho em suas visitas aos pobres e doentes, para que ele se tornasse assim suscetível às misérias de seus futuros súditos.
O falecimento do Imperador em 993, provocou em sua esposa profunda dor. Oton II sucedeu ao pai. Entretanto, por má influência de sua esposa, que tinha inveja da influência da santa sobre o filho, Santa Adelaide começou a ter problemas com ele. De maneira que, para o bem da paz, retirou-se para junto de seu irmão na Borgonha.
Mas Otón II faleceu inesperadamente aos 29 anos, e a santa foi chamada outra vez para exercer a regência até a maioridade de seu neto, Oton III. Este, chegando à maioridade também, influenciado pela esposa, mostrou-se ingrato para com a avó, levando-a a afastar-se novamente da Corte.
Entretanto, a morte inesperada do neto fez com que Santa Adelaide fosse chamada novamente a assumir a regência.
Sua administração caracterizou-se por uma grande sabedoria. Ela não procurou vingar-se de seus inimigos. Sua Corte era como uma casa religiosa, e ela multiplicou mosteiros e igrejas em várias províncias, e empenhou-se incessantemente na conversão dos pagãos do Norte.
Santa Adelaide teve que viajar para a Borgonha para reconciliar seu sobrinho Rodolfo com seus vassalos. No caminho visitou a abadia de Cluny, onde o abade Santo Odilon, ficou tão impressionado com suas virtudes, que depois tornar-se-ia seu biógrafo.
A Imperatriz Santa Adelaide ainda em viagem, faleceu junto à abadia de Seltz, assistida pelos monges beneditinos, em 16 ou 17 de dezembro do ano de 999, na idade de sessenta e nove anos