Numa aparição a Santa Margarida de Cortona (1247-1297) Nosso Senhor lhe recomendou: “Que cada dia testemunheis, por um tributo de louvores, vossa respeitosa devoção para com a bem-aventurada Virgem Maria e para com São José, meu pai nutrício”.
Entre outros Santos, Nosso Senhor recomenda do mesmo modo a Santo Antônio Maria Claret (1807-1870) – grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora e fundador da Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria ou Claretianos – “que seja muito devoto de São José, e que acuda a ele com confiança”.
Pelo que Santa Teresa de Ávila afirma em sua autobiografia: “(Por isso) tomei por advogado e senhor ao glorioso São José, e muito me encomendei a ele. Claramente vi que desta necessidade, como de outras maiores referentes à honra e à perda da alma, esse pai e senhor meu salvou-me com maior lucro do que eu lhe sabia pedir. Não me recordo de lhe haver, até agora, suplicado graça que tenha deixado de obter”.
Isso tudo nos incita a ter uma devoção muito grande e uma confiança sem limites na intercessão do Casto Esposo de Maria. Mas há outros títulos ainda pelo qual ele merece nossa especial devoção.
É certo que a devoção ao Patrono da Igreja Universal – assim declarado pelo papa Pio IX atendendo aos votos e pedidos de todo o Orbe católico –, tenha começado relativamente tarde na Igreja. Mas depois, por inspiração do Divino Espírito Santo, encontrou um desenvolvimento extraordinário, sendo ele hoje um dos Santos mais populares do universo católico.
Pois, como se podia interpretar, por exemplo, o papel de São José na Sagrada Família, e seu matrimônio com a Virgem Santa, não estando ainda bem definida a concepção virginal de Jesus? Era preciso primeiro que ficasse bem clara e sólida na Igreja a divindade de Cristo e a virgindade de Maria Santíssima, antes que os teólogos tivessem condições de estudar o papel do santo Patrono dos Moribundos na economia da Redenção.
Foi só na Idade Média que a devoção ao santo Chefe da Sagrada Família começou realmente a se desenvolver. Para o que contribuíram muito os Padres Carmelitas, vindos do Oriente, que pregavam a devoção ao Pai Putativo de Jesus.
Porém a primeira Teologia de São José que merece verdadeiramente o nome de Josefologia apareceu somente com Frei Isidoro de Isolano († 1522), da Ordem dos Pregadores, o qual, como diz o Cardeal Aleixo Maria Lepicier, foi o primeiro que expôs a doutrina de São José com ordem e método escolástico.
Nos tempos modernos praticamente todos os Papas, a começar pelo beato Pio IX, enalteceram as virtudes e os privilégios do Patrono da Igreja Universal. Leão XIII dedicou-lhe sua encíclica Quamquam pluries, de 15 de agosto de 1889, que contém a mais profunda e densa doutrina sobre esse Santo que é chamado em sua Ladainha Terror dos demônios.
Dos grandes teólogos de São José de nossos dias, citamos Frei Bonifácio Llamera, O.P., o qual, com sua Teología de San José, ainda mais aprofundou a Josefologia. Frei Llamera, em seu trabalho, mostra que pouco disseram os Evangelistas sobre São José. E que “todos os dados que as Sagradas Escrituras nos dão sobre o santo Patriarca se resumem em quatro afirmações:
“1ª. – São José é o esposo da Virgem Maria: ‘Maria, a Mãe de Jesus, estava desposada com José, o carpinteiro’ (Mt 1, 18-25; Lc 2, 5);
“2ª. – Por isso, José era considerado por todos o pai de Jesus, Filho eterno de Deus feito homem nas entranhas de Maria, não por obra de José nem de varão algum, mas por obra do Espírito Santo (Lc 2, 42; 3, 23; Mt 13, 55);
“3ª. – José exercia o ofício e tinha os cuidados do pai de família em relação a Jesus e Maria, os quais, por sua vez, lhe estavam sujeitos como à sua legítima cabeça (Lc 2, 51);
“4ª. – Por fim, José, observa São Mateus, era um varão justo, adornado de todas as virtudes (Mt 1, 19).
Diz Frei Llamera: “Eis aqui as afirmações soltas na Sagrada Escritura. E pergunta: “Dizem pouco? Digamos mais bem que, em poucas palavras, dizem muito. Acaso temos meditado nos títulos de glória que encerram estas afirmações breves e simples?” E argumenta: “é verdade que os Evangelistas apenas mencionam São José nos Evangelhos. Mas também pouco disseram da Santíssima Virgem. Entretanto, ao chamá-la Mãe de Deus – Maria, de quem nasceu Jesus, compendiaram todas as suas glórias neste só título”. Pelo que, dizer que São José é o casto esposo de Maria e pai putativo de Jesus, é dizer muito.
São José foi uma tal súmula de perfeição e santidade, de que não há par na Igreja, pois que a bendita Virgem Maria lhe está acima.
Eis o que escreve sobre isso o grande líder católico do século XX, Plinio Corrêa de Oliveira: “[São José] era proporcionado a Jesus Cristo, era proporcionado à Sua excelsa Mãe. Quanta grandeza isso encerra! É tal a desproporção com o resto dos homens, que nós não podemos fazer idéia. É penetrar de tal maneira na alma santíssima de Nossa Senhora, é ter tal intimidade com o Verbo Encarnado, que o vocabulário humano não encontra palavras para exprimir adequadamente”.
Eis alguns dos privilégios que os teólogos atribuem a São José:
1 –Possível purificação no seio materno. Para ser pai putativo do Verbo de Deus encarnado e casto esposo de Maria, era muito conveniente que ele fosse, como São João Batista, purificado no seio materno.
2 – Por isso seria também muito conveniente que ele fosse confirmado em graça, como os Apóstolos, pelo menos desde seu casamento com a Virgem.
3 – Seria também muito conveniente que, entre os mortos que ressuscitaram por ocasião da Paixão, estivesse São José, e que pelas suas singulares virtudes, dado o convívio que teve na terra com Maria e Jesus, ele fosse também levado ao céu em corpo e alma.
4 – Se ele estava vivo no início da vida pública de seu Filho putativo, é bem provável que tenha sido batizado por Ele.
Concluímos com São Leonardo de Porto Maurício (canonizado por Pio IX em 1866):
“Que os Evangelistas guardem silêncio sobre São José, pouco importa. Que eles se abstenham de exaltar, como poderiam fazer, essas virtudes e prerrogativas excelentes que ressaltam sua dignidade; basta-me que eles o representem como o esposo de Maria, virum Mariae de qua natus est Jesus, quer dizer, como aquele de todos os mortais que se assemelha mais à obra mais perfeita entre as puras criaturas que tenham saído das mãos de Deus. Porque, diz São Bernardo, ‘José foi feito à semelhança da Virgem, sua esposa’; quer dizer, aquele que se aproximou mais dessa criatura sublime, a qual se elevou até o mais alto dos céus, e encanta de algum modo no seio do Pai Eterno seu Filho único. Esposo de Maria, quer dizer um mesmo coração e uma mesma alma com esse coração e essa alma que portou o coração e a alma do Filho de Deus”.