“O Reino Heremita” por sua obstinação em receber estrangeiros, talvez seja a única nação nos anais missionários a ter-se evangelizado a si própria.

A Coréia, outrora Tsio-sien (“Serenidade da manhã”) e posteriormente cognominado “O Reino Heremita” por sua obstinação em receber estrangeiros, talvez seja a única nação nos anais missionários a ter-se evangelizado a si própria. Essa evangelização teve a peculiaridade de começar pela alta camada social – a dos nobres e sábios – para espraiar-se pelas demais. Antes que algum sacerdote tivesse penetrado em seu solo, o Catolicismo aí se desenvolvera tão esplendidamente, que já contava com vários mártires.

Pois o cristianismo foi proibido no país sob pena de morte e, em várias épocas, católicos generosos derramaram seu sangue pela fé, inclusive os missionários estrangeiros que tinham entrado clandestinamente no país.

Quando, no início do século XIX, a Igreja na Coréia estava outra vez acéfala após o martírio dos missionários franceses que a atendiam, nova esperança se abriu com a ordenação sacerdotal de um dos seminarista que estudavam na China, André Kim, filho e neto de mártires. Já então diácono, conseguiu penetrar no país para organizar a entrada de dois outros missionários, Pe. Antoine Daveluy e Jean Férreol, este último designado como seu novo Vigário Apostólico que, ainda na China, conferiu as ordens sacras a André Kim, primeiro coreano a receber tal graça

O jovem sacerdote conseguiu entrar oculto na Coréia, e lá trabalhou algum tempo com o risco da própria vida, quando foi chamado pelo bispo de Xangai para ir à China para preparar terreno para a ida de mais dois missionários franceses, um deles designado como Vigário Apostólico.

Tornando-se marinheiro por necessidade, o Pe. Kim estava num junco à caminho do Celeste Império, seu barco foi apreendido. Traído por dois de seus marinheiros cristãos, teve sua identidade e atividades reveladas. Foi então preso e condenado à morte.

André Kim foi executado no dia 16 de setembro de 1846, aos 25 anos de idade, com mais oito cristãos que receberam também a honra dos altares.

Com os católicos martirizados durante a terrível perseguição de 1866, elevou-se o número de Santos Mártires Coreanos a 103.

Deles fala o Martirológio Romano Monástico neste dia: “No século XVII houve muitas conversões na Coréia, ficando a comunidade cristã sem pastores até a chegada de missionários franceses em 1836. Nas perseguições de 1839, 1846 e 1866, cento e três homens, mulheres e crianças foram martirizados, dentre os quais se destacam os santos hoje festejados”. Finalmente, no dia 12 de junho de 1881 um edito real anunciou o fim da perseguição e a tolerância religiosa. Dois anos depois, os missionários constataram que, dos 20 mil cristãos batizados até 1866, reencontraram apenas 12.305. Desses é que se origina a maioria dos católicos coreanos de hoje.

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