É muito difícil escrever sobre os santos dos primeiros tempos da Igreja. Isso porque, devido às perseguições e à conseqüente vida tumultuada da Igreja nas catacumbas, somado aos julgamentos arbitrários a que eram sujeitas as vítimas, falta documentação fidedigna do que se passou que possa nos orientar. Geralmente, as Atas dos martírios ou as “Paixões” dos mártires da Igreja primitiva surgiram nos séculos posteriores, quando já havia relativa paz e normalidade na Igreja. Com Santa Inês ocorre o mesmo. Os documentos que temos a respeito de seu martírio surgiram a partir de meados do século IV.

A respeito dessa que é a santa mais louvada na Igreja primitiva desde o século IV, já o calendário das festas dos mártires, o Depositio Martyrum, aponta sua festa no dia 21 de janeiro. O mesmo fazem os primeiros Sacramentários, e a Igreja latina também adotou essa data.

Embora desde o século IV os Padres da Igreja e os poetas cristãos cantaram os louvores dessa popular santa, e exaltaram sobretudo sua virgindade e heroísmo diante da tortura, entretanto não há uma narração acurada e fidedigna relativa aos detalhes de seu martírio.

Os três mais antigos relatos do martírio de Santa Inês são os de Santo Ambrósio, em sua obra De Virginibus; uma inscrição do papa São Damaso em mármore no sepulcro da Santa, e a obra do historiador Prudêncio, Peristepahnon em que fala de Inês.

O Martirológio Romano, baseando-se nas antigas tradições e nessas fontes, dá um resumo do que tradicionalmente se diz do martírio de Santa Inês: “Em Roma, a paixão de Santa Inês, virgem e mártir que, sob as ordens de Sinfrônio, prefeito da Urbe, foi lançada numa fogueira. Como o fogo se apagasse em virtude de sua oração, mataram-na à espada. Dela escreve o bem-aventurado Jerônimo: ‘Em livros e discursos de todos os povos, mormente nas igrejas, louva-se a vida de Inês, porque ela venceu a pouca idade e o tirano, e pelo martírio consagrou a prerrogativa de sua virgindade’”.

A respeito da idade que teria Inês por ocasião do martírio, Santo Ambrósio afirma que seria 12 anos, e Santo Agostinho, 13; por sua vez, São Damaso a descreve “saltando” para o martírio do regaço de sua mãe ou ama.

Esse papa Santo diz que, imediatamente após a promulgação do edito imperial contra os cristãos, Inês declarou-se cristã, e sofreu corajosamente o martírio do fogo, não estremecendo diante dos terríveis tormentos a que seria submissa, mas empenhada sobretudo em cobrir, com sua longa cabeleira, seu casto corpo exposto aos olhares dos pagãos. Ao que Prudêncio acrescenta que essa virgem puríssima foi levada a uma casa de prostituição para perder sua pureza; entretanto, quando um jovem a olhou lascivamente, caiu fulminado no solo atingido pela cegueira, e ficando como que morto. Por isso Santo Ambrósio afirma: “Eis, portanto, na mesma vítima, um martírio duplo: um da modéstia, o outro da religião. Ela permaneceu virgem, e obteve a coroa do martírio”.

Não se sabe ao certo em qual perseguição Inês conquistou a coroa do martírio. Costumava-se assinalar sua morte durante a perseguição de Diocleciano (cerca de 304); entretanto, baseado na inscrição de São Damaso, modernos historiadores provam que o martírio teria ocorrido durante uma das perseguições do III século, subseqüente à de Décio.

O sagrado corpo da vitoriosa mártir foi colocado num sepulcro da Via Nomentana, e ao seu redor surgiu a catacumba que traz seu nome. Durante o reinado de Constantino, graças aos esforços de sua filha Constantina, foi erguida uma basílica sobre o túmulo da Santa, que foi mais tarde remodelada pelo papa Honório (625-638), e permaneceu inalterada até hoje.

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