Patrono da juventude, São Luís Gonzaga aliou a nobreza de sangue à santidade. Fez voto de virgindade aos nove anos, e morreu como noviço da Companhia de Jesus aos 23, vitimado por sua assinalada caridade para com os empestados de Roma.

Primogênito de Ferrante Gonzaga, Marquês de Castiglione e Príncipe do Sacro Império, e de Dona Laura, que fora dama da rainha Isabel de França, esposa de Felipe II da Espanha, Luís nasceu no dia 9 de março de 1568 em Castiglione. Esse feliz acontecimento foi providencialmente comemorado com o júbilo de um nascimento real. E muito a propósito, pois o recém-nascido haveria de ser a maior glória da dinastia dos Gonzaga, uma das mais ilustres de toda a Itália, bem como da Igreja universal.

Com domínios de Mântua a Bréscia, e de Ferrara à fronteira da Lombardia, ao longo dos anos a dinastia dos Gonzaga acumulara riquezas, altos cargos eclesiásticos e principados em sua aristocrática linhagem.

Se o Marquês tinha no sangue o espírito combativo e militar de seus ancestrais, a Marquesa completava a belicosidade do marido com uma profunda piedade. E Luís recebeu a influência dos dois genitores.

Desde muito pequeno ele gostava de ouvir, falar, e pensar em Deus. Teve assim, quase desde o berço, um dom muito elevado de oração, sendo Deus seu único mestre.

Unido a essa feliz propensão de seu caráter e à sua piedade precoce, podia-se perceber nele o borbulhar belicoso do sangue ancestral. Assim é que o Marquês, quando ele tinha apenas cinco anos, lhe deu uma pequena armadura, elmo, espadinha e um pequeno arcabuz de verdade. E o levou ao acampamento de Casal-Major, onde deveria passar em revista as tropas que levava consigo para a guerra do rei espanhol contra Túnis.

Um dia Luís, disparando seu arcabuz, chamuscou o rosto. O pai então o proibiu de utilizar pólvora. Mas ele, travesso e valente, noutro dia, na hora do repouso após o almoço, conseguiu escapar à vigilância de seu tutor, aproximar-se de um canhão, e acender-lhe o pavio. O acampamento todo foi despertado com o estrondo, e encontraram o pequeno príncipe estirado ao solo, vítima do coice que recebeu da possante arma.

Luís gostava de estar junto aos tercios espanhóis — a mais famosa tropa de infantaria então existente — imitando seu passo marcial. Mas muitas vezes repetia seu jargão e as palavras às vezes inconvenientes de alguns deles. Seu tutor chamou-lhe a atenção, dizendo-lhe que aquela não era a linguagem de lábios limpos. Embora o menino de cinco anos não entendesse seu sentido, chorou amargamente essa involuntária falta, que acusará sempre como uma das mais graves de sua vida.

Desde então essa criança começou um processo de sério afervoramento espiritual. Segundo o parecer de outro Santo, São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, e que foi confessor do primogênito do Marquês de Castiglione, “na idade de sete anos é que Luís começou a conhecer mais a Deus, desprezar o mundo e empreender uma vida de perfeição. Ele mesmo com frequência me repetia que o sétimo ano de sua idade marcava a data da sua conversão”.

A infância do menino transcorreu de castelo em castelo, de corte em corte, de festa em festa, mantendo ele, contudo, sempre o coração ancorado em Deus. Provou assim, que era perfeitamente possível cultivar a santidade em meio aos esplendores da nobreza.

Com efeito, já aos 12 anos atingira alta contemplação. Para isso lhe fora de muita ajuda um livro de São Pedro Canísio, apóstolo da Alemanha. A meditação contínua tornou-se para ele quase uma segunda natureza.

Vivendo em plena época do Renascimento, estudou as línguas clássicas, chegando a escrever elegantemente em latim. Foi nessa língua que fez um discurso de saudação ao monarca espanhol Felipe II, quando suas armas foram vitoriosas em Portugal.

Espírito alerta, perspicaz e sério, triunfou facilmente nos estudos. Ele aliava magnificamente a nobreza, a cultura, a inteligência e a santidade.

Em 1581 Luís foi levado pelo pai para a Espanha para ser pajem dos infantes naquele país. Mas Deus tinha sobre ele outros desígnios. Na Corte de um dos mais poderosos soberanos da Terra, afirma-se no coração de Luís o desejo de apartar-se do mundo e dedicar-se totalmente a Deus. Quando cumpriu os 16 anos, decidiu falar sobre isso com o pai. O marquês que, encantado com as qualidades do filho, augurava-lhe um brilhante porvir no mundo, respondeu-lhe com um rotundo não.

Para dissuadi-lo disso, enviou-o de volta à Itália em missão junto a vários príncipes. Esperava que, em meio àquela vida brilhante da Itália renascentista, arrefecesse no filho o desejo de fazer-se religioso. Luís desincumbiu-se com tanto êxito das várias tarefas, que o pai mais se firmou no desejo de tê-lo como seu sucessor.

Mas, à força de muitas súplicas, o marquês, como bom católico, cedeu. E Luís — tendo também, como príncipe do Sacro-Império, obtido a permissão do Imperador — pôde abdicar de todos seus direitos dinásticos em favor de seu irmão Rodolfo, e assim entrar no noviciado da Companhia de Jesus em Roma, aos 18 anos incompletos.

Dentro do noviciado jesuíta Luís continuou a ser motivo de edificação para todos, como sucedera quando estava no século. Ele só saía para visitar os doentes e  os encarcerados. Mesmo nessas ocasiões, mantinha seu recolhimento em Deus e cumpria seus atos de devoção. Dizia que “aquele que não é homem de oração não chegará jamais a um alto grau de santidade, nem triunfará jamais sobre si mesmo; e toda a tibieza e falta de mortificação que se via em almas religiosas não procediam senão da negligência na meditação, que é o meio mais curto e eficaz para se adquirir as virtudes”. A tal ponto se tornara senhor de sua imaginação, que no espaço de seis meses, segundo ele mesmo reconheceu, suas distrações não haviam durado o tempo de uma Ave-Maria.

Caso seus superiores não o tivessem moderado, as penitências físicas que praticava teriam abreviado seus dias. Alguns diziam que ele lamentaria, na hora da morte, esse excesso. Bem pelo contrário: nesse momento ele fez questão de dizer a seus irmãos, reunidos em torno de seu leito, que se ele tinha alguma coisa a lamentar nesse sentido, eram as penitências que não havia feito, e não as que fizera.

Seu pai, que levara uma vida muito voltada às coisas do mundo, preparou-se tão bem para a morte, que atribuiu esses sentimentos às orações do filho.

Pouco depois do falecimento de seu progenitor, Luís teve que ir a Castiglione resolver áspera disputa entre seu irmão Rodolfo e seu tio, a propósito de terras. Sua mãe, que o venerava muito, com sentimentos de verdadeira nobreza, recebeu-o de joelhos.

Quando estava hospedado no colégio da Companhia em Milão, teve a revelação de que em breve morreria. Exultante, voltou para Roma, e empregou seus últimos dias cuidando dos empestados numa terrível epidemia que devastava a Cidade Eterna. Com isso, ganhou mais méritos. Vítima do contágio, faleceu santamente a 21 de junho de 1591.

Na Epístola Apostólica Singulare illud de 1926 sobre o centenário da canonização de São Luís, o papa Pio XI escreve: “Contemplar e imitar São Luís Gonzaga é o melhor meio que pode empregar a juventude para atingir a santidade. Desde que a Igreja o proclamou Padroeiro da Juventude, São Luís tem exercido uma influência maravilhosa sobre os jovens. Basta recordar que ele é o modelo e protetor de São Domingos Savio e de São João Bosco, que tanto pregou a sua devoção e a deixou em herança aos Salesianos. Em virtude de nossa autoridade, proclamamos São Luís Gonzaga celeste patrono da Juventude universal”.

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