Iniciador e organizador da vida monástica na Palestina, esse santo tornou-se muito popular na Idade Média por causa de seus milagres. São Jerônimo, que o descobriu na Terra Santa quando lá morou, escreveu sua biografia.
Hilarião nasceu na pequena cidade de Tabada, perto de Gaza, na Palestina por volta de 291. Seus pais eram pagãos, e aos dez anos o enviaram a Alexandria para estudar. Lá ele se distinguiu por sua vivacidade, engenhosidade e integridade de costumes. Logo entrou em contacto com fervorosa comunidade cristã, que influenciou em sua conversão ao catolicismo.
Sobretudo floresciam naquela cidade grandes sábios como Orígenes e Clemente. Hilarião tornou-se discípulo de Áquila, ilustre figura na catequese e na ciência bíblica cristã. Visitando a Tebaida, conheceu também Santo Antão, que havia vinte anos vivia na solidão do deserto, atraindo para si inúmeros discípulos. Hilarião quis tê-lo por mestre, mas Antão só o admitiu por dois meses, porque o julgava muito jovem para ficar definitivamente no deserto. Entretanto, esses dois meses foram suficientes para ele aprender o profundo amor à solidão, à oração e à penitência.
Santo Antão já era muito famoso na época. Dele fala o Martirológio Romano Monástico no dia 17 de janeiro: “Abade, seguindo o conselho do Evangelho, distribuiu aos pobres tudo quanto possuía para seguir a Cristo no deserto do Egito, onde as tentações do demônio não lhe foram poupadas. Por causa de sua irradiação exemplar, e pela sua biografia redigida por Santo Atanásio, atraiu uma multidão de discípulos, e mereceu tornar-se o ‘Pai dos monges cristãos’. Morreu em 356 no alto da montanha ao pé da qual se situa o mosteiro que traz o seu nome”.
Voltando então para a Palestina em 307, Hilarião soube que seus pais haviam falecido. Vendeu seu rico patrimônio distribuindo o obtido pelos pobres. Retirou-se depois para o abrupto e impenetrável deserto de Majuma, onde se estabeleceu diante do mar, atrás de rochas escarpadas. Construiu ali uma choça de juncos e ramos, que fortificou com pedras, ao lado de uma lagoa, palmeiras e figueiras bravas. Comia só ervas e uma só vez por dia. Mais tarde consentiu em comer um pedaço de pão e regado com azeite.
Hilarião não tinha ainda vinte anos quando principiou essa vida de rigor, e foi só passados vinte e dois anos que o mundo começou a dar-se conta dele.
O ardor com que se entregou à vida monástica transformou aquele deserto, que antes servia de covil aos assassinos, em um oásis de santos que, dirigidos por ele, erigiram nele vários mosteiros. Uma vez questionado por alguns criminosos sobre como se comportaria se os ladrões o tivessem atacado, Hilarião respondeu: “Um homem pobre e nu não tem medo de ladrões”. “Mas eles podem lhe tirar a vida”, argumentaram. “É verdade, respondeu o Santo, mas não temo a morte, porque estou sempre preparado para morrer bem”.
Ele subjugou admiravelmente suas paixões com orações e contínuas penitências contínuas, reduzindo o corpo rebelde à obediência da vontade. Passava seus dias exclusivamente no serviço do Senhor, alternando a oração e a contemplação com o estudo das Sagradas Escrituras e o trabalho manual. Vestia-se muito mal, e sempre comia ervas e alguns figos. Só nos últimos meses de vida foi forçado a tomar uma sopa.
Apesar das macerações e mortificações que infligiu ao corpo, Hilarião atingiu a bela idade de 80 anos. Viajou depois para o Egito, onde já morrera o grande Santo Antão. Em sua viagem, ele se encontrou com dois bispos, Dracontio e Filor, banidos pelo imperador Constâncio. Foi viver depois em Braquio, cerca de Alexandria, e quando soube que os emissários de Juliano, o Apóstata, o procuravam, retirou-se para um deserto na Líbia. Daí foi depois para a Sicília, onde viveu por bom tempo como eremita cerca de do promontório de Paquinum. Seu discípulo Esíquio, que de há muito o procurava, lá o encontrou cercado de discípulos que seguiam seu exemplo.
O santo foi depois para a Dalmácia, e navegou para Chipre, onde viveu só em uma gruta no interior da ilha até seus últimos anos. O bispo local era então Santo Epifânio de Salamina. Este santo admirou a santidade do peregrino, enquanto Hilarião admirou a ciência do bispo, de quem fala o Martirológio Romano no dia 12 de maio: “Em Salamina, em Chipre, Santo Epifânio bispo que se assinalava por vasta erudição e profundo conhecimento das Sagradas Escrituras. Objeto de admiração se tornou também a santidade de sua vida, o zelo pela fé católica, a liberalidade para com os pobres, e o poder de operar milagres”.
Na introdução da vida sobre Hilarião que escreveu, São Jerônimo cita uma carta que recebeu de Santo Epifânio, referente à vida do primeiro, afirmando que o tinha conhecido pessoalmente nos seus últimos dias.
Quando Santo Hilarião morreu pelo ano de 372, Santo Epifânio foi o seu primeiro panegirista.
Ao morrer Santo Hilarião deixou apenas uma túnica de esparto, um manto, uma cógula, e um Evangelho. Seu discípulo Esíquio recolheu essas preciosas relíquias, e as transportou para a Palestina. Os habitantes de Gaza saíram para recebê-las como se fossem de mártires.
É preciso dizer que Santo Hilarião foi dos primeiros confessores a serem venerados como santos, pois essa honra se reservava a princípio só para os mártires.
Dele diz hoje o Martirológio Romano Monástico: “No século IV, Santo Hilarião, abade. Nascido perto de Gaza, na Palestina, criado e batizado em Alexandria, foi durante algum tempo discípulo de Santo Antão, voltando depois a seu país de origem para viver como anacoreta. Sua irradiação exemplar atraiu-lhe uma multidão de discípulos, e o fez ser considerado como pai do monaquismo palestino”.