São João chama este apóstolo Natanael, ou “dom de Deus”. Os três Evangelhos sinóticos chamam-no sempre Bartolomeu, ou Bar-Tolmai, filho de Tolmai. É o mesmo caso de São Pedro, que se chamava Simão, filho de João. Assim, o Discípulo amado refere-nos o nome próprio, enquanto os outros evangelistas o apelido. Desse modo, não há dúvida de que os dados evangélicos insinuam a mesma identidade.
É São João quem narra o primeiro encontro do futuro apóstolo com o Santíssimo Redentor. No início de Seu ministério público, ia Jesus para a Galileia com Pedro, André, Tiago e João, seus primeiros discípulos. No caminho, encontraram Felipe, e Nosso Senhor disse-lhe simplesmente: “Segue-me”, e ele seguiu o Messias. Ora, Felipe encontrou-se com seu amigo Natanael e comunicou-lhe a feliz notícia: “Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e que os profetas anunciaram. É Jesus, filho de José de Nazaré.”
Natanael, que era versado nas Escrituras, sabia que o Messias devia nascer em Belém. Por isso retrucou-lhe: “Pode vir algo de bom de Nazaré?”. Felipe simplesmente respondeu: “Vem e vê”.
Quando chegaram onde Jesus estava, Ele assim disse: “Eis um verdadeiro israelita no qual não há artifício”. Surpreso, Natanael perguntou: “De onde me conheceis?” Respondeu-lhe Cristo Jesus: “Antes que Felipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira”.
Natanael reconhece que o Salvador não podia vê-lo à distância, nem saber o que se passara debaixo da figueira, sem uma ciência sobrenatural, e por isso exclamou: “Mestre, Vós sois o Filho de Deus, sois o Rei de Israel” (Jo I, 45-51).
O novo apóstolo se une então à comitiva de Jesus, e sem dúvida assistiu às bodas de Caná, que confirmou a sua fé.
Aqui cessa o que as Sagradas Escrituras dizem sobre este apóstolo, fora a menção da lista dos Doze. Nenhuma menção de São Bartolomeu ocorre na literatura eclesiástica antes de Eusébio, que menciona que Panteno, o mestre de Orígenes, enquanto evangelizando a Índia, foi informado que o Apóstolo teria pregado lá antes dele e dado aos seus convertidos o Evangelho de São Mateus, escrito em hebraico, que ainda era valorizado pela Igreja. Ora, a “Índia” era um nome que cobria uma área muito ampla, incluindo até a Arábia Felix. Outras tradições afirmam que São Bartolomeu pregou na Mesopotâmia, Pérsia, Egito, Armênia, Licaônia, Frigia e nas margens do mar Negro.
O modo de seu martírio, que teria ocorrido em Albanópolis, na Armênia, é igualmente incerto. Segundo alguns, foi decapitado, segundo outros, esfolado vivo e crucificado de cabeça para baixo por ordem do rei Astíages, por ter convertido seu irmão, Polímio, rei da Armênia. Por conta desta última lenda, ele é frequentemente representado na arte (por exemplo, no Julgamento Final de Michelangelo) como esfolado e segurando em sua mão sua própria pele.
Suas relíquias são consideradas por alguns como preservadas na igreja de São Bartolomeu na Ilha, em Roma.
O Martirológio Romano, seguindo essas tradições, nos diz que ele “pregou o Evangelho de Cristo nas Índias, de onde passou para a Grande Armênia. Depois de converter muitos à Fé cristã, foi ali esfolado vivo pelos bárbaros. Consumou seu martírio quando o rei Astíages mandou cortar-lhe a cabeça. Levaram o sagrado corpo para a ilha de Lípari, depois para Benevento, finalmente para Roma, à ilha do Tibre, onde os fiéis lhe tributam piedosa veneração”.
Em Roma, seus restos mortais foram transferidos para a igreja de Santo Adalberto no ano 1000, que desde então passou a chamar “São Bartolomeu In Insula”, e chegou a ter o título cardinalício.