De nenhum dos grandes santos penitentes a Igreja celebra a conversão como celebra a de São Paulo. E uma das razões é a excelência de todas as virtudes que Nosso Senhor comunicou-lhe, fazendo-o de perseguidor a apóstolo, e o Apóstolo por excelência.

Os teólogos asseguram que uma conversão é obra mais maravilhosa que a ressurreição dos mortos. Assim, a conversão de São Paulo foi fato maior e mais notável que a ressurreição de Lázaro, encerrado havia quatro dias no sepulcro, já cheirando mal.

Um dos maiores santos do firmamento católico, São Paulo, nos diz que era judeu, nascido na “ilustre” Tarso, na Cilícia, Ásia (At 21, 39), de pai cidadão romano (At 22, 26-28), de uma família na qual a pureza de consciência era hereditária (II Tim, 1, 3), muito apegada às tradições e observâncias dos fariseus (Fil, 3, 5-6). Como pertencia à tribo de Benjamim, foi-lhe dado o nome de Saul (Saulo), muito comum nessa tribo em memória do primeiro rei dos judeus.

Como todo judeu respeitável tinha que ensinar a seu filho uma profissão, o jovem Saulo aprendeu a tecer os fios dos quais eram feitas as tendas e a confeccioná-las, o que lhe seria de muita utilidade no futuro.  Ainda muito jovem foi enviado a Jerusalém para receber educação na escola de Gamaliel.

Formado na tradição dos fariseus, que até exageravam o cumprimento das exterioridades da lei, seu fanatismo ardente, que nada podia moderar, iria se chocar contra o Cristianismo nascente. A doutrina deste, dotada de força e vida, ameaçava tudo conquistar para Cristo, o que preocupava muito a Saulo. Diante dessa marcha conquistadora, ele não hesitava opor-se com todas suas forças e até pela violência, conforme narram os Atos dos Apóstolos (9, 1-2): “Respirando ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, apresentou-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém quantos achasse desta doutrina, homens e mulheres”. A isso comenta São João Crisóstomo: “Que males não havia feito? Havia enchido de sangue Jerusalém, matado os fiéis, afligido a Igreja, perseguido os Apóstolos, apedrejado Estevão, e não perdoando a homem nem mulher, porque não se contentava com levá-los aos tribunais e acusá-los ante os juízes, senão que os buscava em suas casas, tirando-os delas; e, como uma fera, os arrebatava”.

Entretanto, no caminho de Damasco o Senhor o esperava. “Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele caiu do cavalo diante da fulgurante luz. Comenta o Pe. Ribadeneira, discípulo e biógrafo de Santo Inácio: “Coisa maravilhosa é considerar que, tendo sido toda a vida de Cristo, nosso Redentor, semeada de trabalhos, perseguições e penas, e sua sagrada paixão cheia de tantas e tão inexprimíveis afrontas e tormentos, nunca o Senhor se queixou nem abriu a boca para dizer: ‘Por que me persegues?’ …E agora, com voz portentosa e sonora, diz a Saulo: ‘Por que me persegues?’ Como podia Saulo perseguir a vós, Senhor, sendo ele um pouco de pó e vós o Rei da glória, estando ele na Terra e vós no céu? Mas porque Saulo perseguia os membros de Cristo, nossa cabeça, Ele tomava por próprias as injúrias que contra seus membros se faziam”.

         “Senhor, que quereis que eu faça?” Era a coerência falando. Se Aquele que lhe aparecia era o próprio Cristo, Filho de Deus, Saulo deveria, em vez de perseguir seus discípulos, entregar-se inteiramente e de vez a seu serviço.

Os teólogos asseguram que uma conversão é obra mais maravilhosa que a ressurreição dos mortos. Assim, a conversão de São Paulo foi fato maior e mais notável que a ressurreição de Lázaro, encerrado havia quatro dias no sepulcro, já cheirando mal.

Para Santo Agostinho, se a ressurreição de um morto e a conversão de um pecador são obras de igual poder, a conversão é obra de maior misericórdia.

 Se isso se pode dizer de qualquer conversão, mais se pode dizer da de São Paulo como afirma o Pe. Giry em sua Vies des Saints: “Com efeito, se todas as outras são milagrosas, estando elevadas acima da ordem da natureza, esta o é na mesma ordem da graça, sendo como um milagre estabelecido sobre outros milagres. O que parecerá evidente tanto se se consideram os efeitos que produziu, quanto os grandes frutos que a Igreja dela tirou”.

A conversão de São Paulo foi também, como afirma o escritor Daniel Rops, um “prodigioso acontecimento, de incalculável importância, sem o qual todo o futuro do Cristianismo teria mudado de feição. […] A transformação foi nele radical e completa. O que havia odiado, passa, da noite para o dia, a adorar, e a causa que combateu com toda a violência, vai, igualmente com toda a violência, servi-la de futuro. Num segundo e na pista do deserto, Deus vencera o adversário e liga-o a si, para todo o sempre”.

Arrebatado ao terceiro Céu, São Paulo viu com os olhos da alma tudo o que Cristo havia padecido e obrado na Terra e os íntimos pensamentos, dores, afetos e desejos de seu amantíssimo Coração. Acima de tudo, foi ele ensinado diretamente pelo próprio Nosso Senhor, pelo que pôde afirmar: “O Evangelho que preguei não é coisa de homens; pois não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo”. Depois de ter sido arrebatado aos céus, passou a viver somente em função da vida futura: “Nossa conversação está no Céu, e minha vida é Cristo; e morrer por Ele é lucro para mim”, pois “vivo, mas não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim”. Que gênio, que potentado, que erudito, quem na Terra a não ser ele, pode dizer algo semelhante?

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