No império de Diocleciano (284-305), veio à Espanha seu delegado Daciano, homem desumano e perverso, com o intuito de dar à perseguição contra os cristãos um caráter de ferocidade capaz de amedrontar os mais intrépidos. Ele já havia feito derramar ondas de sangue em Saragoça, Barcelona, Toledo e outras povoações quando chegou a Talavera de la Reina.
Nessa cidade viviam três irmãos, Vicente, Sabina e Cristeta, irredutíveis cristãos, aos quais nenhuma ameaça fazia tremer. Daciano quis pô-los à prova. Mandou chamar Vicente, e vendo-o composto e com galhardia, fingiu uma falsa compaixão para pervertê-lo com afagos e carícias. Não podendo curvá-lo, pois ele continuava proclamando corajosamente sua fé, o pagão mandou que o obrigassem a ofertar incenso aos ídolos, ou deveria ser duramente torturado até morrer. Quando o levaram para junto do altar dos ídolos, o piso junto a ele amoleceu como cera. Os algozes não puderam deixar de confessar que o Deus de Vicente era o verdadeiro Deus. Para salvar o jovem confessor da fé, eles o levaram para uma casa particular, dizendo a Daciano que Vicente pedia três dias para deliberar sobre o cumprimento de sua ordem.
Nessa casa a ele se juntaram suas duas irmãs, que com ele sofreram o martírio a 27 de outubro do ano de 303 ou 304.
O Martirológio Romano nos dá detalhes horríveis de sua tortura. Diz ele neste dia: “Em Ávila, na Espanha, a paixão dos santos Vicente, Sabina e Cristeta. Os verdugos estiraram-nos com tal força sobre o cavalete, que se lhes rompeu a articulação dos membros; depois, apoiadas as cabeças em blocos de pedra, martelaram-nas com pesadas alavancas, até que os miolos saltassem para fora. Assim se consumou seu martírio, sob as ordens do prefeito Daciano”.
Tão célebre se tornou seu sepulcro, que os cristãos tinham o costume de jurar sobre ele, costume que os Reis Católicos Fernando e Isabel proibiram nas cortes de Toro, pelos perjúrios freqüentes que havia.