O Martirológio Romano traz neste dia os seguintes dados a respeito desse bispo: “Em Jerusalém, o natalício do bem-aventurado Narciso, bispo, recomendável pela sua santidade, paciência e fé. Era já ancião de cento e dezesseis anos quando passou ditosamente desta terra à presença do Senhor”.

Com efeito, esse santo do início do século III não devia ter menos de oitenta anos quando foi eleito bispo de Jerusalém, sendo a imagem de uma velhice espiritualmente vigorosa, na saúde do corpo e da mente.

Ele era o trigésimo bispo de Jerusalém, não de origem israelita, mas certamente gentio, nascido por volta de 96, quando as ruínas da destruição de Tito ainda estavam frescas na Cidade Santa.

Por quase um século ele viu a cidade de Davi ressuscitar e repovoar meticulosamente, hospedando, ao lado dos judeus, uma vasta comunidade cristã.

Sabe-se que ele presidiu com Teófilo de Cesaréia, um concílio no qual foi aprovada a determinação de se celebrar sempre a Páscoa num domingo.

Eusébio narra que em certo dia de festa, provavelmente a Páscoa, em que faltou o óleo necessário para as unções litúrgicas Narciso mandou vir água de um poço vizinho e, com a sua bênção, a transformou em óleo. O mesmo escritor sacro conta também as circunstâncias que levaram esse bispo santo a se  demitir de suas funções: por ser um bispo enérgico, São Narciso atraiu o ódio de três corruptos e desonestos que se sentiam ameaçados pela sua severidade. Para o atacarem, espalharam uma terrível calúnia por contra o muito idoso Bispo. Para prová-la, disse um deles: “Que me queimem vivo se eu minto”. “E a mim, que me devore a lepra”, disse o segundo. “E que eu fique cego”, acrescentou o terceiro.

São Narciso ficou tão desgostoso com isso que, despertando nele um antigo desejo de viver em recolhimento, resolveu partir para o deserto. Partiu assim sem dizer para onde ia, depois de perdoar seus caluniadores.

Todavia, os três perjuros não tardaram a sofrer os castigos que em má hora tinham invocado: o primeiro pereceu num incêndio com toda sua família; o segundo morreu roído pela lepra, e o terceiro ficou cego de tanto chorar seu pecado.  

Depois de passar alguns anos no isolamento, o terceiro de seus caluniadores decidiu dizer a verdade, confessando que havia jurado em falso. Enquanto isso, como São Narciso estava desaparecido, os cristãos elegeram um outro bispo para sua diocese.

Foi então que o santo resolveu voltar à sua cidade episcopal. Foi com um misto de alegria e estupor que seus fiéis o viram chegar são e salvo. Como nunca tinham crido na calúnia que lhe imputavam, rogaram-lhe que reassumisse seu posto na direção de sua grei.

São Narciso permaneceu em sua cátedra até uma idade centenária, mas tomando como coadjutor Alexandre, que depois seria também elevado à honra dos altares, a governar a sua diocese até uma idade centenária.

  É de Santo Alexandre, seu bispo auxiliar, que temos a última notícia do longevo bispo de Jerusalém: “Narciso te saúda. Cumpriu cento e dezesseis anos, e te exorta, como eu, a manter a concórdia”.

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