A Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo aos céus coroa sua vida terrena, e é a suprema glorificação do Filho Unigênito de Deus e nosso Redentor, como diz a liturgia de hoje, que ascendeu ao céu por vontade própria, entre o júbilo das legiões celestes, e cercado pelo cortejo das almas justas do Limbo. Ele se acha assentado à direita do Pai, como diz o Credo, com a nossa frágil natureza, unida à sua Pessoa divina.
Santo Agostinho atribui a instituição da festa da Ascensão aos Apóstolos. Mas os primeiros testemunhos seguros dessa festividade são do ano 300. No século V a festa da Ascensão já era universal. Antigamente fazia-se também uma procissão para recordar a caminhada de Jesus e dos discípulos ao Monte das Oliveira, e seu ingresso triunfal no céu. Atualmente esse fato prodigioso da Ascensão é ainda recordado pela extinção do Círio pascal após o canto do Evangelho, cerimônia esta introduzida por São Pio V. (Missal Romano Quotidiano, Edições Paulinas, 1959).
Santa Joana d’Arc, Virgem e Mártir
Recebendo de Deus a missão de libertar a França do jugo dos ingleses, a admirável donzela de Orleans enfrentou o martírio no cumprimento dessa sublime missão.
O Reino Cristianíssimo da França, aquela que era chamada a Filha Primogênita da Igreja, em 1429 estava prestes a desaparecer. Justamente castigada por Deus com quase cem anos de guerras contra os ingleses, consequência do pecado de revolta contra o Papado, cometido no início do século XIV por seu rei Filipe IV, o Belo, e pela elite da nação. Seu território estava reduzido a menos da metade, e os ingleses cercavam a cidade de Orleans, última barreira que lhes impedia a conquista do resto do país.
O herdeiro do trono, o delfim Carlos, duvidada da legitimidade de seus direitos, e seus capitães e soldados estavam desmoralizados. É significativo o seguinte relato dessa lamentável situação conforme a narra Mons. Henri Delassus (La Mission Posthume de Sainte Jeanne d’Arc, Editions Saint Remi, p.223):
“O Analista de Saint Denis, começando a narração do ano de 1419, escrevia: ‘Era de se temer, segundo a opinião das pessoas sábias, que a França, essa mãe tão doce, sucumbisse sob o peso de angústias intoleráveis, se o Todo Poderoso não se dignasse atender do alto dos Céus as suas queixas. Assim apelou-se para as armas espirituais: cada semana faziam-se procissões gerais, cantavam-se piedosas ladainhas e celebravam-se Missas solenes. Em sua terrível decadência, sentindo-se incapaz de salvar-se a si mesmo, o Delfim guardava sua fé no Deus de Clóvis, de Carlos Magno e de São Luís, a sua confiança na Santíssima Virgem”.
Em sua infinita misericórdia, quis Deus atender a essas preces, e escolheu para salvar a França não um grande chefe de guerra ou um hábil político, mas uma virgem, a fim de mostrar que era unicamente d’Ele e de seu poder que vinha a vitória.
Joana nasceu na festa da Epifania de 1412, na pitoresca aldeia de Domrémy (Lorena francesa). Seus pais foram Jacques D’Arc e Isabel Romée, “excelentes trabalhadores e fervorosos católicos que serviam a Deus com um coração simples e educavam seus filhos no trabalho e no temor de Deus”, conforme testemunho de contemporâneos.
Logo que a idade o permitiu, Joana entregou-se aos trabalhos da casa. Mais que uma criança precoce, ela era uma criança virtuosa. Tinha um coração bom e compassivo, uma prudência madura; era modesta, humilde mas determinada, e apontada como exemplo em toda a aldeia.
A inocência de vida e a simplicidade de coração de Joana atraíram-lhe os olhares do Céu. E foi assim que lhe apareceu por vez primeira o arcanjo São Miguel, rodeado de Anjos. O Príncipe da milícia celeste narrou-lhe o triste estado (“grande penúria”) em que estava a França, dizendo-lhe que ela deveria apressar-se em socorrê-la; e que Santa Margarida e Santa Catarina viriam também, da parte de Deus, para incentivá-la a isso. E elas vieram. E falaram também da “grande penúria” e da necessidade de ela cumprir essa missão.
Joana mostrou-se digna da missão que lhe foi confiada. Seguindo as diretrizes do “Senhor São Miguel, da Senhora Santa Catarina e da Senhora Santa Margarida”, ela venceu todas objeções e foi avante. E, de fato, chegou à corte do rei, em Chinon.
Segundo um contemporâneo, “seu discurso foi abundante, poderoso e inspirado, como os de uma profetiza”. Disse ao rei que vinha da parte de “seu Senhor, o rei do Céu”, a quem pertencia o reino da França, e não a ele. Mas “seu Senhor” queria muito confiar a guarda desse reino ao rei, e ela o levaria a Reims para ser coroado. Para provar o caráter divino de sua missão, em particular revelou a Carlos VII um segredo que somente ele e Deus poderiam saber.
A retumbante vitória que alcançou fazendo levantar o cerco de Orleans, conseguiu mudar o quadro de então. O caminho para a sagração em Reims estava praticamente aberto.
Após a sagração, Joana afirmou ao Arcebispo daquela cidade: “Praza a Deus, meu Criador, que eu possa agora partir, abandonando as armas, e ir servir meu pai e minha mãe guardando suas ovelhas, com minha irmã e irmãos, que terão grande alegria em me rever!” No auge de sua glória, ela não desejava senão retirar-se para a sombra.
Entretanto o rei, influenciado por seu péssimo conselheiro La Tremouille, não lhe deu o apoio necessário. Os soldados insistiram com ela para que continuasse a comandar as tropas. Aquiesceu, mas limitou-se a comandar seguindo os conselhos dos generais, pois, suas “Vozes” não mais lhe indicavam o que fazer. Elas se limitavam a lhe dizer que seria feita prisioneira e vendida aos ingleses, mas que confiasse, pois Deus não a abandonaria.
No dia 23 de maio de 1430, em Compiègne, apesar de prodígios de valor, Joana caiu na mão dos borguinhões, que a venderam a preço de ouro para os ingleses.
Ao tribunal iníquo reunido em Rouen, presidido pelo péssimo bispo Couchon, Joana afirmou: “Tudo o que eu fiz de bem pela França, eu o fiz pela graça e segundo a ordem de Deus, o Rei do Céu, como Ele me revelou por seus Anjos e Santos; e tudo o que eu sei, o sei unicamente pelas revelações divinas”. Consciente de que havia feito bem o que lhe fora pedido, afirmou: “Tudo o que as vozes me ordenaram, eu o fiz do melhor modo que pude, segundo minhas forças e minha inteligência. Essas vozes não me ordenaram nada sem a permissão e o beneplácito de Deus, e tudo o que eu fiz obedecendo-as, eu creio ter bem feito”.
Após a farsa do processo em que essa adolescente analfabeta respondeu perguntas que confundiam até teólogos, ela foi condenada à fogueira. Morreu a 30 de maio de 1431, lançando um supremo brado de fé e de confiança: “As vozes não mentiram! Jesus! Jesus! Jesus!”
Incentivada e com o apoio de Carlos VII, Isabelle Romée, mãe da santa, resolveu trabalhar pela reabilitação de sua filha. Ela reclamou de Roma a revisão da horrível iniquidade, e a obteve. Antes de fechar os olhos, teve a augusta alegria de ver o Papa Calixto III reformar, abrogar, anular como mentirosa, ilegal, injusta, a sentença do bispo de Beauvais.
Mas a maior glorificação da Donzela de Orléans viria da Igreja, que a beatificou em 18 de abril de 1909, no reinado do grande Pontífice São Pio X. E Bento XV a canonizou em 1920.