Na Praça de São Pedro e em suas vizinhanças, onde está hoje o Estado do Vaticano, deram-se os horrores da perseguição de Nero. Lá se localizavam então os jardins de Agripina, mulher do general Germânico, que depois passou para seu filho, Caio Júlio César Augusto Germânico. Mais conhecido como Calígula, esse imperador, que reinou do ano 37 a 41 quando foi assassinado, se destacava pela sua natureza extravagante, cruel e pervertida. Calígula construiu neles um circo e um lago, e com sua morte, eles passaram para o patrimônio imperial.

O filho de outra Agripina, Nero, fez mais tarde a ponte de ligação com a outra margem do Tibre, onde se encontra a maior parte da antiga Roma. Esses locais serviram de teatro para o martírio de muitos cristãos.

Do lado sul da atual Basílica Vaticana há um recinto pequeno, chamado ainda hoje “Praça dos Protomártires” ou “dos primeiros mártires” romanos. As iluminações que lá se vêem na noite de 26 de junho, evocam as fogueiras que, pelo ano 64 ou 65, consumiram e sublimaram humildes e heróicas vidas humanas.

O que ocorrera foi que o tresloucado Nero mandara incendiar Roma, que ardera seis dias e seis noites. O Circo Máximo, em parte de madeira, ficou inutilizável, e provavelmente o Circo Flamínio. Apesar disso, a população pagã não queria prescindir dos jogos em honra de Vênus, ainda quando atribuíssem a Nero a culpa do incêndio da cidade.

Tácito (55-120), escritor pagão e inimigo dos cristãos, assim se exprime sobre o que se passou então: “Para fazer calar esta voz [que atribuía o incêndio ao Imperador], Nero apresenta réus, e sujeita aos suplícios mais cruéis os homens, odiosos por seus crimes, a que o vulgo chama cristãos. (…) A execrável superstição [cristã], a princípio reprimida, irrompeu de novo, não só na Judéia, origem deste mal, mas até em Roma, aonde vem ter e onde se junta o que existe, por toda a parte e fora dela, de mais atroz e vergonhoso”.

Procurando depois dar um ar de imparcialidade, Tácito assim descreve os tormentos a que foram sujeitos os cristãos: “Prendem-se primeiro os que manifestam [seguir o Cristianismo], e depois, conforme as indicações que eles dão [sob tortura], prendem-se outros em massa, condenados menos pelo crime do incêndio, do que pelo ódio que lhes tem o gênero humano. Aos tormentos juntam-se as mofas; homens, envolvidos em peles de animais, morrem despedaçados pelos cães, ou são presos a cruzes, ou destinados a ser abrasados à maneira de luz noturna, ao acabar o dia”.

Também Sêneca (cerca de 4 até 65), outro pagão, narra os suplícios por ele presenciados: “O ferro, as chamas, as cadeias, a multidão dos animais ferozes saciando-se de entranhas humanas; a prisão, as cruzes, os ecúleos, os ganchos, o pau a atravessar o tronco da vítima e a sair-lhe pela cabeça, os membros esquartejados, a túnica embebida em matérias inflamáveis e com elas tecida”. E acrescenta: “Vejo aí cruzes não todas do mesmo feitio, mas fabricada de diversos modos: alguns condenados foram suspendidos nelas de cabeça para baixo” como São Pedro, segundo a tradição.

Temos então, descrito por testemunhas irrecusáveis, como foi o martírio desses heróis de Jesus Cristo, que por Ele deram sua vida. Terá São Pedro sido martirizado em companhia dessa multidão de eleitos? Não há concordância entre os antigos autores sobre a data de sua execução. Mas é certo, segundo confirmaram as escavações realizadas durante o pontificado de Pio XII (1939-1958), que São Pedro encontrou sepultura debaixo do altar papal e da cúpula de Miguel Ângelo. Enquanto que São Paulo, decapitado junto da estrada que leva a Óstia, em Ter Fontane, foi sepultado no túmulo de Lucina, existente num cemitério que em boa parte ainda hoje se vê. O local foi consagrado por uma grande basílica constantiniana.

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