Numa era muito conturbada para a Igreja como foi o final do século IV e a primeira metade do século V, surgiram simultaneamente na Cristandade grandes luzeiros de santidade e ciência, tanto no Oriente quanto no Ocidente: Santo Hilário, Bispo de Poitiers, Santo Ambrósio, de Milão, e a “Águia de Hipona”, o grande Santo Agostinho. Com São Jerônimo – cuja festa comemoramos no dia 30 – formam eles o ilustre grupo dos chamados quatro Padres da Igreja latina daquela época.

A vida de São Jerônimo é tão extraordinária, que se torna impossível resumi-la em poucas palavras. Dele diz o eminente jesuíta, Pe. Pedro de Ribadaneira, discípulo e biógrafo de Santo Inácio de Loyola: “Foi nobre, rico, de grande engenho, eloqüentíssimo; sapientíssimo nas línguas e ciências humanas e divinas; na vida, espelho de penitência e santidade; luz da Igreja e singular intérprete da divina Escritura, martelo dos hereges, amparo dos católicos, mestre de todos os estados e condições de vida e luzeiro do mundo”.

São Jerônimo nasceu em Stridon, na Dalmácia, cerca do ano 340.

Dotado de precoces aptidões para o estudo, quando adolescente o pai o enviou para estudar em Roma, então a capital do mundo civilizado.

         Na Cidade Eterna Jerônimo se dedicou ao estudo da gramática, da retórica e da filosofia. Tal era seu amor pelos escritores clássicos, que formou para si rica biblioteca, copiando à mão os livros que não podia obter. É preciso lembrar que só séculos depois surgiu a imprensa.

         O santo reconheceria depois com dor que, em sua inexperiência, se tornou vítima do ambiente mundano da grande e decadente metrópole, extraviando-se do bom caminho. Porém, ao mesmo tempo declara que seu passatempo aos domingos consistia em visitar as catacumbas e as relíquias dos mártires, além de ser catecúmeno pois, na época, a pessoa recebia o santo batismo já quase adulta.

Assim ele foi batizado aos 20 anos pelo papa Libério. Depois de alguns anos de vida recolhida num deserto da Síria, foi ordenado sacerdote em Antioquia.

Em Roma serviu de secretário ao Papa São Damaso, a pedido de quem traduziu a sagrada Bíblia, que deu na versão conhecida como Vulgata, que a Igreja adotou como sua versão oficial. Lá também dirigiu espiritualmente algumas damas da nobreza, chegando algumas delas à honra dos altares.

Quando faleceu São Damaso em 384, os inimigos de São Jerônimo iniciaram uma campanha de difamação tão feroz, que fez com que o santo deixasse definitivamente Roma e voltasse para a Terra Santa, estabelecendo-se em Belém. Seguiram-no Santa Paula e sua filha Santa Eudóxia.

Com o rico patrimônio de que as duas damas dispunham fundaram, sob a direção do Santo, um mosteiro masculino e um feminino, este dirigido por Santa Paula.

         Os 34 anos em que São Jerônimo viveu em Belém, passou-os escrevendo obras notáveis, combatendo os hereges, e dirigindo, por correspondência, inúmeras almas.

Por um mal-entendido, houve um princípio de polêmica entre os dois grandes Doutores da Igreja, Santo Agostinho e São Jerônimo. Mas, estabelecidas as coisas em seu lugar, uma amizade cheia de respeito os uniu. São Jerônimo dizia que Santo Agostinho era “seu filho em idade, e seu pai em dignidade”, uma vez que era Bispo. Por seu lado, o Bispo de Hipona escreveu-lhe: “Li dois escritos vossos que me caíram nas mãos, e achei-os tão ricos e plenos que não quereria, para aproveitar em meus estudos, senão poder estar sempre a vosso lado”.

Até a morte, em 419 ou 420, São Jerônimo se ocupou de grandes obras literárias e se empenhou em violentas polêmicas. Seu grande saber, seus comentários à Sagrada Escritura, e o vigor com que combateu as heresias, valeram-lhe o título de Doutor da Igreja.

         O empenho insuperável de São Jerônimo na tradução das Escrituras foi por ele mesmo assim descrito: “Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo que diz: ‘Examinai as Escrituras e procurai e encontrareis’ para que não tenhais de ouvir o que foi dito aos judeus: ‘Estais enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus’. Se, de fato, como diz o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as Escrituras não conhece o poder de Deus nem a sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”.

         São Jerônimo faleceu no dia 30 do mês de setembro do ano 420, muito avançado em idade e virtude. No mesmo dia, aparecia a Santo Agostinho e lhe desvendava o estado das almas bem-aventuradas no Céu.

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