Vigiai! Tendes olhos e não vedes?

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    Alguns animais se utilizam de disfarces para se arremessarem melhor contra a presa. É o caso, por exemplo, do leopardo ao escolher sua vítima; da cobra, cuja coloração furta-cor serve ao mesmo tempo de camuflagem e atração; do camaleão, do latim stellio, lagarto, que muda de cor para passar despercebido. Eles parecem ter inspirado os legisladores na tipificação de crimes praticados por estelionatários.

    Ser racional, o homem vai além: vê, julga e age em consequência para fazer o bem ou o mal. O ideólogo do mal, por exemplo, opera com facilidade e está sempre aprimorando suas abordagens a fim de inocular mais eficazmente o seu ideário.  Assim como um réptil muda a cor da pele por mero instinto, os difusores do mal se transmutam ao utilizar linguagem capciosa e envolvente para iludir incautos e fazer prosélitos e simpatizantes.

    Lobo com cara de ovelhaÉ o que podemos constatar ao analisarmos a metamorfose do comunismo e suas influências nocivas nos ambientes, costumes e instituições. Assim, os agentes revolucionários, tendo por doutrina o igualitarismo e o amor livre, trabalham ardilosamente para o apodrecimento da sociedade. Ficam sempre à espreita para golpear um valor que concorre para a sustentação do mundo no qual vivem.

    As suas metamorfoses táticas visam apenas alcançar seus objetivos, não importa o campo de atuação. Restrinjo-me ao erro declarado ou larvado que passou a grassar nos meios católicos por meio da infiltração comunista ou das ideias comunistizantes da Teologia da Libertação que vem descaracterizando o povo fiel. Na verdade, ao longo deste último século o meio religioso foi acossado a se adaptar ao mundo moderno.

    Entre o clero, para não falar de algumas personalidades de destaque até do episcopado, passou-se a ter uma concepção do comunismo e do socialismo que nunca correspondeu à realidade. Chega-se a ouvir com certa frequência que o comunismo morreu, e, portanto, que as condenações pontifícias de outrora perderam a razão de ser.

    Procura-se justificar o caráter “desprovido” de ideologia de partidos comunistas quando se ocupam de questões sociais, como os interesses dos marginalizados e excluídos; das minorias; do “direito” à prática do aborto e da prostituição; também da erradicação da homofobia e da propulsão da igualdade de gênero; do apoio às manifestações públicas em paradas homossexuais; da defesa exacerbada do meio-ambiente…

    Convém, contudo, focalizar que o mundo contemporâneo encontra-se numa fase tal que pretende tragar, com reformas antinaturais e contrárias à Lei de Deus, o que ainda resta de ordem, como a família e a propriedade. Diga-se, aliás, que a Revolução passa da fase propriamente comunista (igualdade social e econômica) para o campo cultural e místico, a fim de instaurar o caos social e nas mentes.

    Lembremo-nos que os homens de Igreja, até meados do século passado, tinham uma posição clara, definida, categórica a respeito da ideologia marxista, impondo até mesmo penas canônicas ao católico que colaborasse ou defendesse a ideologia ateia, pois, entre o socialismo e a doutrina social da Igreja há uma oposição irreconciliável. De lá para cá, vem-se configurando um distanciamento paulatino de tudo aquilo que ensinaram os Papas, os Santos e os Doutores da Igreja.

    b0a9f-reportaje_padregustavogutierrezProva disto foi a invenção, pelo Pe. Gustavo Gutierrez, da Teologia da Libertação, a qual quase se identifica com a visão marxista da luta de classes, dos pobres revoltados em luta contra as desigualdades, preconizando a vida comunitária sem bens particulares. Ela ataca a classe mais favorecida e os meios de produção da livre iniciativa para sacudir mais facilmente o jugo dito “escravagista” dos privilegiados e implantar uma utópica sociedade igualitária.

    Cumpre notar que os líderes revolucionários fingem desconhecer que o final do processo de transformação e da consequente consolidação de seus planos tende para um nivelamento drástico das classes num patamar social aviltante, porquanto uma minoria desfrutará das benesses que o novo sistema lhe proporcionaria. É o que ocorre em Cuba há mais de meio século e agora também visa a acontecer na Venezuela. Algo disso começou a esgueirar-se no Brasil na era do PT.

    Outra tese revolucionária é a de que só se alcança a dignidade humana através do estabelecimento da igualdade de todos, ainda que na miséria. Se o empregado é teoricamente igual ao patrão, este último acaba por se sentir livre da obrigação moral de lhe prestar assistência e proteção. Em nome dessa igualdade os empregados são lançados contra as classes mais favorecidas que os protegiam em sua própria dignidade, nos costumes e nas suas necessidades.

    Por sua vez, os empregados ficam entregues à própria sorte e passam a explorar cada vez mais o empregador, ancorados, aliás, em leis favorecedoras da luta de classes. Esse quadro prenuncia uma profunda desmoralização, geradora de miséria espiritual e material, com vícios de toda ordem a devorar os salários e agravar mais e mais a triste situação de um povo alheio à fé, desguarnecido das leis e desprovido de lares.

    Cabe, pois, aludir à advertência do nosso Divino Mestre: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. Que tentação? – A de nos deixarmos envolver pelo otimismo sedutor, produto da propaganda revolucionária, e nos tornarmos cegos, como muitos homens verdadeiramente cegos, que nada veem através do coração ou do pensamento, mas só com os olhos do corpo. Se lhes perguntarmos se Babilônia e Palmira existiram de fato e foram destruídas, eles responderão que sim, pois podem ver as ruínas de edifícios encobertos pelas areias do deserto. Mas se lhes dissermos que a sociedade atual está sendo destruída, não irão nos compreender e rir-se-ão de nós, porque veem à sua volta os campos cultivados, as casas e cidades habitadas pelos homens. O que dizer a esses cegos, senão o que o Senhor disse a outros semelhantes: “Têm olhos e não veem” (Sl. 115, 5 e 135, 16, Delassus, Espírito de Família).

    Sob os auspícios de Nossa Senhora Rainha, cuja festa no calendário tradicional se celebra no dia 31 de maio, peçamos-Lhe que difunda luzes para que a nossa sociedade conturbada escape das armadilhas veladas ou declaradas de seus predadores. Que sua festa nos traga a clareza de espírito capaz de discernir essas armadilhas e seus encadeamentos, que nos impedem de agir em conformidade com a nossa fé.

    *Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ

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    1. Apocalipse 6:12-17
      12 – E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como sangue;
      13 – E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.
      14 – E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares.
      15 – E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas;
      16 – E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro;
      17 – Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir?

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