Se as crises e catástrofes de nossos dias, portadoras de trevas, coincidem com o que a Virgem de Fátima proclamou em 1917 aos três pequenos pastores na Cova da Iria, Ela como Mãe também garantiu aos seus filhos que as trevas seriam dissipadas pela luz através da devoção ao seu Imaculado Coração.
Diante do paradoxo, a alma cristã sente a sua contingência e se volta confiante, na certeza do triunfo, para Aquele que é “o caminho, a verdade e a vida”. Segundo São Luís Grignion de Montfort, a era prenunciada por Fátima será a mais brilhante da história da Igreja.
Para esse período de fé, de certeza, de ordem, de piedade e de paz, a Virgem pediu a consagração do mundo, com especial menção da Rússia, ao seu Imaculado Coração. Caso seu pedido fosse aceito haveria paz; caso não, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo promovendo guerras e perseguições à Igreja.
O Santo Padre o Papa, Vigário de Jesus Cristo, deveria consagrar a Rússia ao seu Imaculado Coração em união com todos os bispos do mundo. O normal seria que essa consagração fosse feita no mesmo horário e momento em que a Cabeça da Igreja, representante de Jesus Cristo entre nós, procedesse à solicitada Consagração indicada pela Virgem.
Por que então Deus, através de sua santíssima Mãe, pediu ao Papa que consagrasse a Rússia ao Imaculado Coração de Maria como condição para que esta se convertesse? Por que o próprio Divino Filho não tomou a iniciativa de converter a Rússia sem exigir contrapartida do Papa?
Tudo leva a crer que Nosso Senhor tenha colocado essa condição para que a História registrasse a consagração, e mostrar assim a ação do Imaculado Coração de Maria sobre os grandes acontecimentos terrenos, favorecendo ao mesmo tempo a maior difusão possível da devoção a Ele.
Nestes 100 anos das aparições (1917-2017), os erros da Rússia penetraram em todos os campos da atividade humana, até mesmo dentro da Igreja Católica. Eis a razão das perseguições aos bons e de se promoverem desordens no campo moral como o aborto, a eutanásia, a ideologia de gênero, as uniões homossexuais. Afinal, o que resta da moral contida nas tábuas da Lei?
Lendo recente obra publicada pelo Carmelo de Coimbra – Um Caminho Sob o Olhar de Maria –, encontrei fatos interessantes que elucidam a situação angustiante da atual crise moral e religiosa, sem dúvida consequência do não atendimento dos apelos da Virgem à conversão e à penitência.
A Irmã Lúcia, em carta ao Bispo de Leiria, afirma: “Jacinta se impressionava muito com algumas coisas reveladas no segredo e no seu amor ao Santo Padre e aos pecadores dizia-me muitas vezes: coitadinho do Santo Padre, tenho muita pena dos pecadores.”
E prossegue: “Se ela vivesse agora que estas coisas estão perto de acontecer, quanto mais não se impressionaria. Se o mundo conhecesse o momento da graça que ainda lhe é concedido e fizesse penitência! O tempo passa, as almas não morrem, a eternidade permanece!”
Em outro lugar, Lúcia fala que na terra purificada haverá uma só fé, um só batismo, uma santa Igreja Católica Apostólica, como a exclamar o triunfo do Corpo Místico de Cristo através do Imaculado Coração de Maria, quebrando o processo revolucionário que, como uma serpente insidiosa e peçonhenta, vem se arrastando em meio a revoluções e guerras ao longo de mais de 500 anos.
Digna de nota nesse sentido foi a expressão de Paulo VI ao afirmar que de algum modo a fumaça de Satanás invadiu o Templo Santo. Seria desalentadora a situação caso não existisse a garantia de Nosso Senhor Jesus Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Santa Igreja.
Ademais, teremos sempre no Coração Imaculado de Maria Santíssima o “refugium nostrum” de cada dia para as dores e angústias que solapam a nossa fé e atentam contra as nossas esperanças. E por maiores que nos pareçam as provações, esta devoção nos assegura que o socorro e o anteparo não nos faltarão jamais.
Outro aspecto de suma importância: para os que recorrem a Nossa Senhora com confiança, Ela é “terrível como um exército em ordem de batalha” para os inimigos da Igreja.
Estas reflexões são de molde a nos dar a certeza de que estamos trilhando o caminho certo ao recorrermos aos favores de tão boa Mãe. Em estreita união com o seu Imaculado Coração, avançaremos resolutos ao encontro do seu divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, pois onde está Maria, está Jesus Cristo.
Na linguagem aquilatada e cheia de amor de Deus de São João Eudes desprende-se uma maravilha do pensamento: ele nos diz que Jesus está tão intimamente ligado a Maria, que é mais fácil apartar do fogo o calor, do que separar Maria de Jesus.
Aprendamos d’Ela e com Ela, para buscarmos este progresso junto ao seu Imaculado Coração, sobretudo em ocasiões como a sua festa transcorrida no dia 22 de agosto.
*Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira-RJ