Um artigo esclarecedor
IPCO
A razão é o dom natural inapreciável que Deus nos concedeu. Acima dele estão os dons sobrenaturais, que nos unem ao Criador e nos fazem esperar a vida eterna.
Porém, como tudo quanto há no homem, também a razão pode ser mal utilizada; e, quando exacerbada, presta-se a distorções inaceitáveis. Para não se deixar levar pelas más tendências, fruto do pecado original, a razão deve ser iluminada pela fé. A caricatura da razão é o racionalismo.
Assim, a razão foi “outrora hipertrofiada pelo livre exame, pelo cartesianismo, etc., divinizada pela Revolução Francesa, utilizada até o mais exacerbado abuso em toda escola de pensamento comunista”, ensina Plinio Corrêa de Oliveira em sua magistral obra “Revolução e Contra-Revolução”.
O arcabouço político-jurídico das sociedades contemporâneas, oriundas da Revolução Francesa e posteriormente influenciadas profundamente pelo socialismo, é fortemente estatizante. Ou seja, tudo deve ser racionalizado pelo Estado, que tudo deve prever, fazer, controlar, dominar etc.
Mas esse arcabouço funciona como uma camisa-de-força, cuja consequência é que os indivíduos procuram dele evadir-se, seja por meio das drogas, da violência, dos jogos etc. Para fugir de um extremo errado, lançam-se num outro, talvez pior.
A saída para esse falso dilema é a sociedade orgânica, apontada no livro “Return to Order” do escritor John Horvat, da TFP americana. Aqui transcrevemos um artigo desse Autor, que trata desse problema.
Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
A contradição do nosso estilo de vida frenético
Em um mundo onde tudo é tão racionalista e bem organizado, parece ser uma contradição o fato de as pessoas procurarem coisas tais como drogas, abuso de álcool, promiscuidade, violência, esportes radicais, música intensa, jogos de vídeo violentos e outras atividades que tocam no irracional.
No entanto, como o sociólogo Richard Strivers observa, tal comportamento é, na verdade, uma consequência de instituições excessivamente racionalistas. À medida em que estruturas técnicas e burocráticas proliferam, afirma ele, as pessoas sentem que perderam o controle sobre suas vidas. Sua reação é escapar para um mundo de êxtase, aparentemente rebelando-se contra esta existência excessivamente ordenada.
O paradoxo é que a tecnologia se torna ao mesmo tempo uma suprema organizadora e uma força desorganizadora. Quanto mais racional e tecnológica a sociedade se torna, mais ela manifesta comportamentos e atitudes irracionais. As pessoas sentem a necessidade de escapar rumo a buscas irracionais, ao menos para desfrutar de temporária amnésia ou lazer. A tecnologia produz diretamente uma espécie de êxtase ao impor um ritmo frenético à sociedade, que funciona como uma espécie de compensação pela arregimentação.
“Os seres humanos não aguentam viver de maneira totalmente racional, sujeitos a horários, listas e normas”, conclui Stivers. “Seus instintos exigem um desafôgo que produza um estado alterado de consciência—seja misticismo ou êxtase”. 1
O que se perdeu foi o equilíbrio que antigamente caracterizava a sociedade cristã orgânica, que foi capaz de conciliar desenvolvimento ordenado e progresso com buscas espirituais dentro da calma. As ordens material e espiritual costumavam trabalhar juntas para favorecer o bem-estar geral da sociedade. Hoje, uma trabalha com a outra para favorecer comportamentos auto-destrutivos.
1 Richard Stivers, Shades of Loneliness: Pathologies of a Technological Society, Rowman & Littlefield Publishers, Lanham, Md., 2004, p. 70.
(*) Tradução de José Aloisio Aranha Schelini