No último dia 11 transcorreram 15 anos do maior atentado terrorista já perpetrado no mundo. O ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, marcou o fim de uma era. Desde então, o mundo não foi mais o mesmo. A insegurança reinou por toda parte. Das mais de três mil vítimas desse atentado, cada uma tem sua história. É de uma delas que vamos tratar.
Uma reportagem “não politicamente correta”
A cadeia americana de televisão CNN é uma das mais poderosas do mundo. Evidentemente, como toda a mídia, ela só traz matérias que interessem aos seus telespectadores e rendam dividendos.
Por isso, surpreende uma longa reportagem “não politicamente correta” e contra seus hábitos, publicada por ela no dia 6 de setembro, sobre uma família numerosa e genuinamente católica, atingida pelo infortúnio. Tinha como título: “Os 10 Palombo: como perdendo o pai em 11 de setembro, e em seguida a mãe, transformaram o sofrimento em força”[i].
Trata-se da família de Frank Anthony Palombo, bombeiro em Nova York, que perdeu a vida no atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro. Lídimo católico, por ocasião de sua morte aos 46 anos de idade, era pai de dez filhos, oito homens e duas mulheres, na idade de 11 meses a 15 anos. [foto acima]
Família numerosa e feliz
Frank e sua esposa Joana se conheciam praticamente desde criança. No entanto, ele entrou para o seminário pensando ser sacerdote. Saiu algum tempo depois, convencido de que sua vocação era o matrimônio. Em 1979 entrou para o corpo de bombeiros de Nova York, e em 1982 casava-se com Joana, que era professora.
No início houve alguns problemas a superar. Enquanto Frank era profundamente religioso, Joana “não queria saber de religião”. Ele queria ter muitos filhos, e ela não queria ter nenhum.
Foi só em 1985 que as coisas mudaram. Um dia Frank viu em sua paróquia o anúncio de uma série de palestras com o título: “Qual o sentido de sua vida?”. E convenceu sua esposa a delas participar. Joana foi a contragosto, mas as palestras a impressionaram profundamente. As palavras do sacerdote: “Por que você não deixa Deus entrar em sua vida?” foram-lhe diretamente ao coração. Rendeu-se. “Saber que Deus a amava, deu-lhe a força para levar a vida adiante, sem se assustar com o sofrimento”, diz sua filha Maria.
Casualmente ela encontrou na igreja um casal italiano com quatro filhos, que parecia ser muito feliz.“Por que não hei de fazer o mesmo?”, pensou. Isso a reconciliou com o pensamento da maternidade.
A partir de então os filhos começaram a chegar, um após outro. E o casal os recebia com alegria, como um dom de Deus. Não lhes importava ficar ricos, mas sim amar os filhos que Deus lhes dava. Desse modo, o que não podiam dar financeiramente aos filhos, eles compensavam com o carinho e a disponibilidade.
Mais tarde Frank se emocionava quando via à mesa seus numerosos filhos, e agradecia a Deus por tê-los dado.
Frank, com seu bom temperamento, era a alma da ruidosa família. Em tudo os filhos recorriam ao pai, que os ajudava nas tarefas escolares ou nos jogos, e os encorajava a se esforçarem muito no estudo. “Se vocês tirarem nota baixa por não se terem esforçado, eu ficarei muito bravo”, dizia-lhes.
De seu lado, Joana era uma mãe amorosa, que tratava os filhos com muita delicadeza. Muito ativa, ela os levava e buscava na escola, assistia-os nos estudos e nos jogos, e, sobretudo, instilava neles uma profunda piedade.
O zelo apostólico de Frank levava-o a se interessar também pelos jovens da paróquia. A cada três anos, conduzia um grupo deles para fazer missões no ultramar.
Certa vez comentavam o gosto que ele teria salvando muitos das chamas nos incêndios. Com espírito sobrenatural, ele respondeu que antes “era mais satisfatório salvar uma alma das chamas eternas”.
Nas horas vagas em sua corporação, Frank lia a Sagrada Escritura. A quem lhe dizia que, em vez disso, deveria empregar seu tempo estudando para ser promovido a tenente, ele respondia: “Você nunca irá ao Céu só lendo a apostilha para ser tenente”.
Frank poderia aposentar-se em 1999. Não o fez, mas começou a fazer trabalhos extras, julgando que necessitava de mais alguns anos para ter seu próprio negócio. A esposa terminara seu mestrado, e esperava poder lecionar de novo para ajudar nas despesas.
A primeira tragédia: o 11 de Setembro
Foi então que, em setembro de 2001, sobreveio a tragédia. Frank e mais seis colegas foram esmagados pelas ruínas em chamas do prédio das Torres Gêmeas, no qual trabalhavam.
O trágico acontecimento provocou uma como que devastação não só na família, privada de seu mais firme suporte, mas em toda a paróquia que Frank frequentava e em muitos de seus amigos.
Sozinha, às voltas com dez filhos — o mais velho dos quais tinha apenas 15 anos e o mais novo seis meses —, Joana, com sua fé em Deus, enfrentou com coragem a nova situação.
Naturalmente, o choque dos filhos foi tremendo. Eles se perguntavam: “Como pôde Deus permitir isso? Como pôde Deus deixar-nos sem um pai?” A mãe procurava explicar-lhes que os desígnios de Deus são insondáveis, mas que, permitindo essa desgraça, Ele não os desamparava; pelo contrário, continuava a assisti-los.
O temor de Joana era de que o Estado pusesse em dúvida sua capacidade de criar tantos filhos sem o marido, e que, portanto, os separassem dela. Felizmente isso não ocorreu. Mulher enérgica, ela queria a todo custo manter unida a família, baseada no que o esposo sempre lhe dizia: “Deus proverá”.
Do ponto de vista financeiro, eles contavam com a pensão do pai, mais uma compensação extra por sua morte em serviço, além de doações de parentes e amigos.
Todos ajudam a família enlutada
E as ajudas vinham de todos os lados, a começar pelos bombeiros da unidade de Frank. Eles já se tinham familiarizado com os meninos quando o pai os levava para a corporação, e começaram a ajudar de vários modos, executando pequenos reparos e outros serviços na casa, dando-lhes carona nos seus carros de serviço, e jogando com eles em frente da casa.
Além disso, estranhos começaram a lhes dar alguma ajuda, em espécie ou em dinheiro. Por exemplo, Jim Fassel, técnico do famoso clube de futebol americano New York Giants, ficou tão comovido com a notícia de que um bombeiro tinha morrido deixando 10 filhos, que procurou ajudá-los como pôde. Concedia-lhes ingresso grátis para os treinos e jogos do seu clube, e até os convidava para entrar no campo com seus jogadores nos dias de jogo. Um pequeno episódio ocorreu num desses dias, durante a execução do hino nacional. Um dos filhos de Frank, o adolescente Tom, ouvia um tanto displicentemente o hino. Então um dos mais conhecidos jogadores do clube, Michael Strahan, deu-lhe um tapinha na cabeça dizendo: “Ponha as mãos juntas”.
A segunda tragédia: a morte da mãe
A vida para eles seguia com relativa normalidade quando, em 2008, Joana foi diagnosticada com câncer no cólon. Cirurgias, quimioterapias, tratamentos diversos se seguiram enquanto ela lutava desesperadamente pela vida.
Mas sentia que era preciso preparar os filhos para o pior. Quando sentiu que o fim se aproximava, recomendou-lhes que permanecessem sempre unidos e que não se preocupassem com os irmãos mais novos, “porque agora eles teriam uma Mãe melhor. Amem a vida, e façam o melhor que possam”.
No dia 8 de agosto de 2013, rodeada pelos filhos, irmãos, e por muitos de sua paróquia, Joana entregou sua alma a Deus, enquanto os presentes cantavam o Credo. O primogênito tinha 27 anos e o caçula, 12.
A vida sem os pais
Já vimos num artigo anterior que a união existente entre os membros das famílias numerosas é muito maior. Isso se deu com os Palombo: seguindo o desejo da mãe, todos os irmãos resolveram permanecer juntos em sua casa de Nova Jersey, para se ajudarem mutuamente.
Antonio, o mais velho, está agora no seminário para ser sacerdote. Frank Jr., o segundo, é o único casado e já tem três filhos. Joe, o terceiro, é o contador que controla o orçamento da família. Maria, a quarta, é enfermeira especializada em oncologia. Tornou-se a “mãe” e a dona da casa. O quinto filho, Tom, seguiu a profissão do pai. João, o sexto, foi admitido na academia dos bombeiros. Patrick, o “chefe” da casa, está trabalhando como cozinheiro num restaurante italiano. Daniel, o seguinte, está no colégio, e a última, Margarete, está no ginásio.
Joe afirma: “Tendo esse vínculo [de união entre si] apesar da diferença de cada um e da diferença de personalidades, eu penso que isso nos mantem unidos”. E Patrick acrescenta: “Nossos pais instilaram em nós a importância de estarmos juntos, comermos juntos, e rezarmos juntos”.
Como o domingo é o dia em que todos estão em casa, os 10 se reúnem para fazer a oração da manhã em conjunto, como os pais lhes ensinara[ii].
As considerações sobre essa família tão religiosa e tão unida diante de tanto sofrimento nos mostram a importância da Religião Católica e do afeto na formação dos filhos. E como Deus socorre e abençoa os que são d’Ele, mesmo em meio às piores tragédias.
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[i] http://edition.cnn.com/2016/09/06/us/palombo-10-siblings-from-9-11/index.html. É nessa fonte que baseamos o presente artigo.