- Fonte: Revista Catolicismo, Nº 826, Outubro/2019
De tal maneira a terra é um lugar de exílio, que um velho desejo do homem é realizar sua felicidade fora da terra, no ar ou na água. Em Veneza o homem se imagina habitando nas águas, o que lhe confere a impressão de uma cidade paradisíaca.
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Todos apreciamos um belo hotel. Mas se ele é ao mesmo tempo um transatlântico, apreciamos ainda mais, por estarmos sobre a água. Um avião é atraente pelo fato de estar no ar — mas quando não se está dentro dele… Seria mais agradável “voar” naqueles primeiros balões Montgolfier, dentro daquela cesta e ao ar livre!
O sonho de morar sobre as águas
Em Veneza há realmente o encanto de morar sobre as águas. Ela tem algo de nobre e altamente sonhador. Até certo ponto, é um sonho que se realiza. Apesar disso, tem uma nota de tristeza e melancolia em seus ambientes: no palácio dos Doges, nas praças, na esplêndida catedral de São Marcos, nos vários palácios, em seus canais, em sua própria entrada marítima. Paira nos ambientes da cidade uma forma de tristeza, pela consideração melancólica de como são insuficientes as coisas humanas, mesmo quando magníficas. Não é propriamente paradisíaco, mas sumamente harmonioso.
Veneza é a cidade da resignação bem disposta no bem-estar, na opulência e até no poder. Sabe-se que ela não tem tudo, pois a perfeição é inatingível durante esta vida humana. Nisso há uma lição de equilíbrio humano em ordem ao sobrenatural. É uma posição equilibrada diante da vida e da dor, mas também diante do prazer e do gáudio. Ensina-nos que há algo ainda superior, para o qual devemos olhar com nostalgia e esperança.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 22 de março de 1985. Esta transcrição não passou pela revisão do autor.