“A Igreja ensina, a respeito da vida, que ela, em cada ente vivo, resulta de um princípio, de um agente que existe neste ente. Esse agente é conatural com o ente, é o próprio ente, é uma qualidade desse ente. No homem é a alma humana; nos animais é a alma animal e nos vegetais é a alma vegetal.
Alma é o principium vitae
“Mas o que a Escolástica entende por “alma” quando ela diz isso? Ela entende por alma precisamente o principium vitae, o princípio misterioso do qual não se pode dizer outra coisa senão isso que dá, que confere, que é a vida do ente vivo.
“Então, há três graus de almas, como há três graus de seres: a alma do homem que é uma alma intelectiva, que compreende as coisas e que se conhece a si mesma. Estas são duas qualidades que não podemos perder de vista. O homem conhece as coisas não como um boi conhece. Se o boi olhar para esta panóplia e eu olhar também, vemos a mesma coisa. E como o boi não usa óculos e eu uso, provavelmente o boi vê melhor a panóplia do que eu. Mas ele não entende a panóplia. Ele não sabe qual é o fim, nem diferencia os objetos, ele apenas recebe nos olhos a imagem da panóplia que entra como numa máquina fotográfica. E ele tem para a panóplia uma sensibilidade ocular parecida com a da máquina fotográfica. É desse gênero, não é idêntico, mas é parecido com o da máquina fotográfica.
“Sobretudo o boi não se conhece a si próprio. Eu posso dizer uma coisa que é eu, por onde eu percebo que existo e não sou os outros, e que os outros não são eu. Nós adquirimos isso na primeiríssima infância, a noção de que somos um circuito fechado. É talvez a primeira ideia por onde nos vem a noção do “eu” é quando notamos que uma coisa nos agrada mas que toca aqui: eu sinto, e se eu não contar a ninguém, ninguém sente a não ser eu. Então, há um abismo. E se dói aqui eu gemo e ninguém geme a não ser eu. Então, eu sou um circuito. Mas se eu sou um circuito fechado, e os outros são circuitos fechados, nasce aí uma ideia de que eu sou outro. E de que eu tenho direitos, interesses ― e talvez bons e maus movimentos ― inteiramente diferentes dos movimentos dos outros.
“Isto faz um ser intelectual, um ser cuja alma é espiritual. O próprio desta alma, como os senhores estão fartos de saber, é que quando o homem morre ela se destaca do corpo e vai ver Deus face a face ― ou vai para o purgatório até ver Deus face a face, ou vai para o inferno para jamais ver Deus face a face. Mas ela é julgada e condenada. (…)
“Esse é o papel da alma espiritual no homem.
O animal não tem alma espiritual
“Agora, o animal não tem alma espiritual. O princípio de vida dele é ligado à matéria, é co-idêntico à matéria. De maneira que ele tem conhecimento das coisas exteriores, mas não entende o que vê, e não tem conhecimento de si mesmo, não tem ideia de que é um circuito fechado. Não tem nada. Ele funciona ― para termos ideia do que é um animal, mas assim mesmo ideia incompleta ― ele funciona como um homem que esteja dormindo tão profundamente que não tem consciência de si. Tem algumas reações físicas, se apertam ele vira de lado, essas coisas, mas ele não tem a menor noção de si mesmo.
“E depois tem o vegetal que nem sequer tem conhecimento do mundo externo. Não conhece nada. O princípio de vida do vegetal é tão mais baixo que ele apenas vive, mas não tem nem sequer movimento. Ele é um simples vegetal. (…)
“E em consequência, afirmar que há uma igualdade entre homens, animais e plantas, é negar a superioridade do homem, negar a alma espiritual que tem o homem, e que lhe dá direitos sobre os animais. E então, afirmar essa igualdade é negar a espiritualidade da alma humana. É fazer uma profissão de fé de materialismo. E quem nega a alma humana nega a Deus. Então, é fazer uma afirmação de fé de ateísmo, ou de não fé, porque o ateísmo não é uma fé. É afirmar o ateísmo”.
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