Vou tratar tema relevante, que já não transita nas manchetes. Justifico-me, o assunto tem importância perene, vale mais que notícias palpitantes, tantas vezes irrelevantes e efêmeras. Mais ainda, no Brasil tem atualidade candente, por baixo desde uns 40 anos, infelizmente para vergonha, desgraça e tristeza dos católicos.
Com efeito, CNBB, CPT, CIMI e entidades afins têm sido pertinazes companheiros de viagem das mais radicais correntes revolucionárias que sem trégua trabalham para arruinar o Brasil. As entidades acima referidas, nascidas no seio da Igreja Católica, de há muito bamboleiam pateticamente atrás das bandeiras de luta do PT, PC do B, MST. Lá na ponta, se tiverem êxito, vão conseguir transformar o país numa Cuba, numa Venezuela, numa Coréia do Norte, paraísos, como todos sabem, dos pobres (e dos quais, por razões desconhecidas, lutam por todos os meios para escapar).
Tem muito de misterioso essa obstinação de amplos, por vezes decisivos, setores eclesiásticos por causas gritantemente ateias e flagelo contínuo para os pobres. Presenciamos décadas de terrificante opção preferencial pela miséria (moral e material). Não espanta, muitos anos atrás, Paulo VI denunciou que a Igreja padecia “misterioso processo de autodemolição” (1968) e que “por alguma fresta, a fumaça de Satanás” (1972) havia penetrado n’Ela.
Vou tratar de tema relevante, disse acima, está no sermão de 12 de outubro último, proferido por Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. As palavras do Arcebispo, permitam-me o desabafo, despejadas sobre os ouvintes em cambulhada, são um charivari desconexo. Em nada evocam o Padre Antônio Vieira, “o imperador de nossa língua”, na bonita afirmação de Fernando Pessoa, nem ecoam os ditos do inteligente e culto Dom Geraldo Penido, cuja mesa frequentei, antecessor seu na sede episcopal.
Recordam contudo, é quase forçoso o paralelo, a confusão mental da ex-presidente Dilma Rousseff quando se metia em improvisos. Aqui vai uma proposta dela, exposta em Nova York, para auditório que a ouvia com horror divertido. “Até agora, até agora, a energia hidroelétrica é a mais barata. Em termos do que ela dura, da sua manutenção e também pelo fato da água ser gratuita. I da genti podê istocá. Cê, o vento podia sê isso também, mas ocê num conseguiu ainda tecnologia pra istocá vento. Então se a contribuição dos outros países, vamos supô que seja, desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica istocá, ter uma forma docê istocá, porque o vento ele é diferente em horas do dia, então vamos supô que vente mais à noite, cumé queu faria pra istocá isso. Hoje nós usamos as linhas de transmissão, cê joga de lá pra cá, de lá pra lá, pra podê capturá isso, mais si tivé uma tecnologia desenvolvida nessa área, todos nós nos beneficiaremos, o mundo inteiro”
Transcrevo alguns extratos do sermão do arcebispo de Aparecida para não pensarem que exagero (a íntegra está na rede): “Primeira leitura: órfã, adotada, pobre e principalmente, vivendo fora do seu país, exiliada, e se tornou rainha, esperança para os pobres. […] Pequenina, eu sou a pequena serva do Senhor, se tornou então rainha do Brasil. […] . Mãe Aparecida, precisamos sim da vida ecológica, da vida natural, da casa comum, bendito seja o Sínodo da Amazônia, que está pensando na vida daquelas árvores, daqueles rios, daqueles pássaros, mas principalmente daquelas populações. […] A mãe quer vida intrauterina, porque ela é a Imaculada Concepção.” Chega, né?
Coloco agora o texto que desejo em particular reproduzir e comentar rapidamente: “A segunda leitura mostrou o dragão. É claro que nas escrituras o dragão é o demônio, é o dragão, é o diabo, é o mal que se organiza no mundo. […] Temos o dragão do tradicionalismo. A direita é violenta, é injusta, estamos fuzilando o Papa, o Sínodo, o Concílio Vaticano Segundo. Parece que não queremos vida, o Concílio Vaticano segundo, o evangelho, porque ninguém de nós duvida que está é a grande razão do sínodo, do concílio, deste santuário, a não ser a vida, como já falei.” Como se vê, o orador empilha numa montoeira confusa várias realidades distintas, mas o objetivo fica claro: odeia o tradicionalismo, odeia a direita.
Contrasto o texto perturbador do confuso arcebispo de Aparecida com a clareza apaziguadora de um bispo como ele — São Pio X (1835-1914) — que ascendeu ao Trono de São Pedro e de lá iluminou o mundo com seus ensinamentos e santidade: “De todos os tempos, a Igreja e o Estado, em feliz acordo, suscitaram para isto organizações fecundas; que a Igreja, que jamais traiu a felicidade do povo em alianças comprometedoras, não precisa livrar-se do passado, bastando-lhe retomar, com o auxílio de verdadeiros operários da restauração social, os organismos quebrados pela Revolução, adaptando-os, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo ambiente criado pela evolução material da sociedade contemporânea; porque os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”. Constam da “Notre Charge Apostolique”, orientação atemporal para todos os fiéis, em especial para os católicos franceses.
Os revolucionários, adverte o Papa santo, não são amigos do povo, oportuna lembrança para a CNBB. O Pontífice não queria ver os bispos traindo a “felicidade do povo em alianças comprometedoras”. A admoestação seguinte contrasta com o que proclamou Dom Orlando Brandes: “os verdadeiros amigos do povo não são revolucionários, nem inovadores, mas tradicionalistas”. Contudo, para decepção nossa, parece que Dom Orlando deu as costas para São Pio X.
Termino. Tema relevante? Da maior importância. Tivéssemos entre nós vivo o ensinamento do santo Pontífice e, para felicidade do povo, seria inteiramente outra a história do Brasil.