Talvez nenhum bispo tenha gozado em vida maior prestígio e autoridade moral do que Santo Ambrósio. Isso lhe era merecido por sua nobreza de caráter, santidade de vida, energia e retidão do proceder, ciência, conhecimento, e prudência no governo. Como figura de grande prestígio que era, veio a desempenhar no decurso do múnus episcopal papel de extraordinário relevo. Foi conselheiro do Imperador, combateu energicamente a heresia, levou com a firmeza esclarecida da sua grande calma, o Imperador Teodósio a penitenciar-se publicamente pelo massacre de Tessalônica, e finalmente, como remate dum pontificado brilhante, conduziu ao seio da Igreja o futuro Santo Agostinho, cuja doutrina havia de ser a fonte inesgotável de toda a cultura medieval.

Oriundo de antiga família de Roma que tinha dado à Igreja mártires, e ao Estado altos oficiais, Santo Ambrósio era o terceiro filho do virtuoso Prefeito das Gálias, do mesmo nome.

Nasceu pelo ano 340, e fora precedido uns dez anos antes por uma irmã, Marcelina, que foi depois virgem consagrada, também elevada à honra dos altares, e por Sátiro que, como leigo, é também venerado como santo.

Graduado em Direito, Ambrósio logo se distinguiu na Corte de Justiça pela sua eloquência e habilidade, pelo que foi nomeado governador consular da Ligúria e Emília, com capital em Milão.

Com a morte do último bispo da cidade, que era ariano, os verdadeiros católicos queriam um bispo fiel, ao contrário dos arianos, que trabalhavam por um que continuasse a amparar sua heresia.

Clero e povo estavam reunidos na catedral para escolher o novo bispo, quando ouviu-se uma voz infantil exclamar: “Ambrósio, bispo!”. Esse brado caiu como um raio sobre a assembleia, que começou a repeti-lo acaloradamente. O santo teve que curvar-se e aceitar esse ônus.

Ora, Ambrósio era leigo, e formado apenas nas artes liberais. Para ser ordenado, ele entregou-se então ao estudo das ciências divinas para completar sua formação.

Esse Santo – que, com São Jerônimo, Santo Agostinho e São Gregório Magno, formam os quatro grandes Doutores da Igreja latina – escreveu vários trabalhos sobre a virgindade, que o mais das vezes eram seus sermões sobre essa virtude que foram anotados. O mais importante deles é o tratado “Sobre as Virgens”, dedicado à sua irmã Marcelina. Pelo que São Jerônimo diz que ele foi o mais eloquente e exaustivo de todos os expositores da virgindade, o que é também opinião da Igreja.

O santo bispo mantinha um muito bom entendimento com o Imperador Teodósio, que se estabelecera temporariamente em Milão. Entretanto, esse relacionamento foi rompido uma vez: Em Tessalônica o governador da cidade fora morto pela população enraivecida, porque havia posto a ferros um comediante muito querido da multidão. Num primeiro assomo de ira, Teodósio decretou que todos, sem exceção, fossem passados a fio de espada, num total de sete mil pessoas. Quando o Imperador arrependeu-se, já era tarde.

Santo Ambrósio admoestou-o por isso, e o proibiu de entrar na catedral enquanto não fizesse penitência pública pelo pecado. Na oração fúnebre que fez desse grande imperador, Santo Ambrósio narra o que seguiu: “Despojando-se de todo emblema da realeza ele, publicamente, na igreja, deplorou seu pecado. Essa penitência pública, da qual os particulares fogem, um Imperador não se envergonhou de fazer; nem houve depois um dia em que ele não se afligisse por seu erro”.

Foi então que o general Eugênio, que era secretamente pagão e queria restaurar o paganismo, usurpou o trono imperial. O invicto Teodósio foi ao seu encalço e o derrotou. Dividiu então o Império entre seus dois filhos Arcádio e Honório, e morreu pouco depois, tendo ao seu lado Santo Ambrósio, que lhe administrou os últimos Sacramentos.

O grande bispo seguiu o imperador dois anos depois, falecendo na noite do Sábado Santo, 4 de abril de 397. Sua festa foi fixada para o dia 7 de dezembro, aniversário de sua sagração episcopal.

Em seu leito de morte ele pronunciou estas palavras que Santo Agostinho não se cansava de admirar: “Não vivi de tal modo que tenha vergonha de continuar vivo; mas não tenho medo de morrer, porque temos um Senhor que é bom”.

O Martirológio Romano diz dele no dia de seu sepultamento, 4 de abril: “Entre outras provas de doutrina e milagres, converteu pelo seu zelo quase toda a Itália à fé católica, quando grassava a perfídia ariana”.

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