Dificilmente forma-se um santo em lar pouco cristão, pois o exemplo dos pais costuma desempenhar importante papel na formação dos filhos. Vemo-lo claramente na vida de São Francisco de Paula, cujos progenitores eram modestos agricultores na pequena cidade de Paula, na Calábria. Tiago, o pai, tirava do campo o sustento da família e santificava-se na oração, jejum, penitência e boas obras. Sua esposa, Viena, era também virtuosa, secundando-o em suas boas disposições.

Mas não tinham filhos. E, para obtê-los, faziam violência ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco, de quem eram devotos. Prometeram dar seu nome ao primeiro filho que tivessem. O Poverello de Assis deixou-se comover, e nasceu o rebento tão desejado no ano de 1416.

Entretanto, o filho tão esperado foi atacado por séria doença na vista, que ameaçava fazer-lhe perder um dos olhos. Os pais prometeram ao Poverello de Assis conservar o menino um ano num convento de sua Ordem caso ele se curasse. Como isso ocorreu, em obediência ao voto, Francisco viveu dos 13 para os 14 anos no convento de São Marcos, em Paula.

Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o precipitadamente buscar brasas para o turíbulo, mas sem indicar-lhe como. Ele, com toda simplicidade, trouxe-as em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e esta sobre o carvão, esquecendo-se contudo de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, olvidando-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear, respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos.

Depois Francisco retirou-se para uma das propriedades do pai, e vivendo como solitário numa cova, sem outro vestuário que uma túnica de cilício. Seu exemplo logo atraiu outros dois jovens que passaram a seguir seu modo de vida.

Surgindo outros discípulos, esse eremita de 19 anos obteve do Bispo local licença para construir um mosteiro no alto de um monte próximo a Paula. Essa foi a origem da Ordem religiosa a qual Francisco, por humildade, deu o nome de Mínimos – isto é “os mais pequeninos na Casa de Deus” –, no ano de 1435. Essa construção, como outras posteriores, constituiu um contínuo milagre. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus. E foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz, pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas, alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos… Com isso, mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas.

O papa Sisto IV aprovou a ereção do mosteiro em maio de 1474, e nomeou Francisco como Superior.

Os milagres do santo continuaram sem cessar, inclusive o de ressurreições, aos quais sucediam-se profecias todas realizadas. Entre outros grandes carismas, São Francisco era dotado de uma graça especial para obter de Deus o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do Santo em Tours.

Foi durante esse tempo que lhe apareceu o Arcanjo São Miguel, seu protetor e da nascente Ordem, trazendo-lhe uma espécie de ostensório em que aparecia o sol num fundo azul e a palavra Caridade, que o Arcanjo recomendou que o Santo tomasse como emblema de sua Ordem.

Aos poucos as fundações foram se estendendo pelo sul da Itália, até à ilha da Sicília. A fama de santidade de Francisco, ultrapassando as fronteiras italianas, chegou à corte de Luís XI, “O Prudente”, da França, que estava muito doente, e quis que o santo fosse curá-lo.

Francisco resistiu, mas o rei apelou ao Papa, que lhe ordenou que fosse atender o rei. No caminho o santo passou por Roma, onde o Papa o deteve e, tanto gostou dele, que concedeu toda espécie de favores aos Mínimos.

Chegando à França, Francisco disse ao rei: “Senhor, pedirei a Deus pela vossa saúde, mas o que mais importa é a saúde de vossa alma”. Tendo revelação de que não era da vontade de Deus a cura do rei, preparou-o para a morte em 1461.

São Francisco dirigiu a propagação de sua Ordem na França e na Espanha. Retocou as regras, que foram aprovadas por Alexandre VI, e morreu em Plessis-les-Tours no dia 2 de abril de 1507, Sexta Feira Santa, aos 91 anos de idade.

Ele foi canonizado em 1519, sendo um dos santos de quem se conta maior número de milagres em vida e depois da morte.

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