O Martirológio Romano, que dá a esse Pontífice que viveu no século VII, o título de mártir pelo muito que sofreu pela fé. Dele diz a 16 de setembro: Em Roma “o natalício de São Martinho I, papa e mártir, que Constante II, imperador herético, mandou prender ardilosamente e conduziu a Constantinopla, porque ele convocara um Concílio em Roma durante o qual condenou como hereges a Sérgio, Paulo e Pirro. De lá foi banido para o Quersoneso, onde findou seus dias, ralado de dores pela fé católica. Seu corpo foi mais tarde trasladado para Roma, e depositado na igreja dos santos Silvestre e Martinho”.

Martinho é, de acordo com alguns historiadores, a mais nobre figura na longa lista dos Pontífices Romanos. De acordo com seu biógrafo Teodoro, era de nobre família, grande estudioso, de uma inteligência operativa, de profundo saber, e de grande caridade para com os pobres.

Nascido em Todi, na Umbria, Itália, pertencia à Ordem de São Basílio, e foi mandado como núncio a Constantinopla para tratar da deposição canônica do patriarca herético Pirro.

É necessário dizer que, nesse tempo, a heresia monotelita, que negava a vontade humana de Cristo, era muito popular na Corte de Bizâncio, imposta brutalmente pelo jovem imperador Constante II. Esse monarca, para ter a última palavra nessa delicada matéria, proibiu num documento de 648 chamado Typo, que se falasse de uma ou de duas energias, ou de uma ou duas vontades em Cristo.

O monotelismo era considerado útil para conciliar os partidários do monofisismo, que admitia uma só natureza em Cristo, com a teoria em vigor na Corte. Ora, a doutrina católica verdadeira é a de que Jesus é Deus e homem, e portanto tem uma vontade divina e uma humana.

São Martinho não admitia o Typo, pois punha no mesmo plano erro e verdade.

Com a morte do papa Teodoro em 649, São Martinho foi eleito para sucedê-lo, mas foi consagrado antes de esperar pela confirmação imperial. Assim mesmo, com grande coragem, logo convocou um concílio em Latrão em outubro de 649, no qual estiveram presentes mais de cem bispos, sobretudo italianos, e uns trinta eclesiásticos gregos que tinham sido expulsos pelos árabes.

O Concílio condenou o Typo de Constante II e a Ecthese, de Heráclios, que o precedera. Foram condenados também vários bispos que os defendiam, e promulgados vinte cânones definindo a doutrina católica sobre as duas vontades de Cristo. Os decretos foram assinados pelo Papa e pela assembleia dos bispos, e enviados numa encíclica a todas as Igrejas ocidentais; as atas do Concílio, com a tradução em grego, foram enviadas ao Imperador.

São Martinho procurou retomar contacto com numerosos prelados do Oriente, fazendo saber claramente que era preciso acabar com o monotelismo. Esta ousada atividade do Pontífice entretanto lá encontrou oposição. Por isso, em junho de 653 o exarca de Ravena, Calíope, criatura do Imperador Constante II, mandou prender o Papa quando estava na basílica de Latrão, que foi levado para Óstia. E de lá, depois de muitos sofrimentos e maus tratos, para Constantinopla.

À sua chegada, o Pontífice foi deixado por várias horas exposto aos insultos da plebe, e depois posto na prisão de Prandearia, onde ficou em cruel confinamento por 95 dias, sofrendo fome, calor e sede.

Depois de um julgamento tendencioso, o santo foi privado de quase toda a roupa, carregado de cadeias, e arrastado pelas ruas da cidade; depois, foi levado para outra prisão, na qual ficou mais 85 dias.

Constâncio o condenou finalmente ao exílio na Crimeia, onde São Martinho chegou no dia 15 de maio de 654 ou 655. Com relativa liberdade para poder escrever um memorial dirigido aos fiéis, ele lá passou seus últimos dias sofrendo fome e exaustão, entregando então sua bela alma a Deus ao que parece a 13 de abril de 656. Foi enterrado na igreja de Nossa Senhora, perto de Cherson.

Muitos milagres são relatados desse Santo durante sua vida, e depois da morte. A maior parte de suas relíquias foram transferidas para Roma, onde repousam na igreja de San Martino ai Monti.

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