Nenhuma santa dos tempos modernos conheceu um “furacão de glória” como Santa Teresinha. Sua popularidade, mesmo antes de ser canonizada, espalhou-se pelo mundo. Pilotos na I Guerra Mundial tinham sua foto em suas aeronaves, e soldados da infantaria se recomendavam a ela nas trincheiras. Sua “História de uma Alma” encantou toda uma geração, sendo traduzida para dezenas de idiomas com milhões de exemplares.

Entretanto pode-se dizer que Santa Teresinha é ainda pouco conhecida. E a iconografia que geralmente a representa concorre muito para dar dela uma ideia deformada. Basta comparar suas correntes representações água com açúcar com suas fotos reais, das quais felizmente há muitas.

Santa Teresinha nasceu em Alençon, a 2 de janeiro de 1873, tendo santos como pais. Caçula da família, foi criada com muito amor, mas sem mimos. Sua santa mãe faleceu quando ela tinha 5 anos, sendo criada pelas irmãs. A família mudou-se para a simpática cidade de Lisieux, que estará para sempre ligada ao seu nome.

Cuidadosamente preparada por sua irmã Maria, Teresinha fez sua Primeira Comunhão aos 12 anos. Sua união com Deus já era tal, que ela comenta em seu manuscrito: “Como foi doce o primeiro beijo de Jesus à minha alma!… Foi um beijo de amor, sentia-me amada e dizia também: ‘Eu vos amo, eu me dou a Vós para sempre’. Não houve pedido, lutas, sacrifícios; desde há muito Jesus e a pobre Teresinha se haviam olhado e compreendido… Naquele dia não era mais um olhar, mas uma fusão; não éramos mais dois, Teresa desaparecera como a gota de água que se perde no oceano. Ficava só Jesus, Ele era o Mestre, o Rei!”

Aos 15 anos ela entrou para o Carmelo, onde já estavam suas duas irmãs mais velhas no dia 9 de abril de 1888. Dois meses depois, ela pôde fazer uma confissão geral com o Pe. Pichon, que era também confessor de suas irmãs. A respeito dessa confissão, ela narra: “Ficou surpreso ao ver o que Deus fazia em minha alma; disse-me que, na véspera, considerando-me rezar no coro, cria meu fervor todo infantil, e meu caminho muito doce”. No fim da confissão, “o padre disse-me estas palavras, as mais consoladoras que vieram ressoar ao ouvido de minha alma: ‘Em presença de Deus, da Santíssima Virgem, e de todos os Santos, DECLARO QUE JAMAIS COMETESTES UM SÓ PECADO MORTAL’. Depois acrescentou: ‘Agradecei a Nosso Senhor o que fez por vós, pois se Ele vos abandonasse, em vez de ser um anjinho, tornar-vos-ieis um demoninho’” As maiúsculas nas várias citações são da própria santa.

Pela imolação e sacrifícios, Teresinha queria ajudar os sacerdotes, os missionários e toda a Igreja. Por sua maturidade e prudência levaram a Priora a confiar-lhe o Noviciado.

Tendo lido na Sagrada Escritura este convite: “Se alguém é pequenino, vinde a mim”, abandonou-se para sempre a Deus como ao mais bondoso dos pais, com a confiança duma criança na sua “pequena via”.

Santa Teresinha diz: “Compreendo muito bem que só o amor pode tornar-nos agradáveis a Deus, e este amor é o único bem que ambiciono. Jesus apraz-se em mostrar-me o caminho único que conduz a esta fornalha divina. Este caminho é o abandono da criancinha que adormece, sem temor, nos braços de seu Pai”.

Nessas palavras se vê o cerne de sua Pequena Via. Tanto mais que ela acrescenta: “Ah! Se todas as almas fracas e imperfeitas sentissem o que sente a mais pequenina de todas, a alma de vossa Teresinha, nenhuma delas desesperaria de chegar ao cume da montanha do amor, já que Jesus não pede grandes ações, mas unicamente o abandono e a gratidão. […] Eis tudo o que Jesus reclama de nós. Ele não tem necessidade de nossas obras, mas somente de nosso amor”

Num ousado voo, Santa Teresinha, formula todos os seus desejos a Nosso Senhor: “Ser tua esposa, ó Jesus, ser carmelita, ser, por minha união contigo, a mãe das almas, isto deveria bastar-me… Não é assim… Estes três privilégios, Carmelita, Esposa e Mãe são, sem dúvida, minha vocação. Entretanto, sinto em mim outras vocações. Sinto-me com a vocação de GUERREIRO, de PADRE, de APÓSTOLO, de DOUTOR, de MÁRTIR. Enfim, sinto a necessidade, o desejo de realizar por ti, Jesus, todas as obras mais heroicas… Sinto em minha alma a coragem de um Cruzado, de um Zuavo pontifício. Quisera morrer sobre um campo de batalha pela defesa da Igreja”.

Muito enfática, Santa Teresinha afirma: “No excesso de minha alegria delirante, exclamei então: ó Jesus, meu Amor… encontrei, enfim, minha vocação… MINHA VOCAÇÃO É O AMOR!” E exclama: “No Coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor… Assim serei tudo… assim será realizado meu sonho!!!.”

A sua vida foi curta e simples, mas corajosa e generosa. Minada pela tuberculose, expirou aos 24 anos de idade.

Beatificada em 1923, dois anos depois foi canonizada. Em 1927 foi proclamada Padroeira das Missões, e uma das padroeiras da França. Sua festa no calendário tradicional é no dia 3.

Dela diz hoje o Martirológio Romano Monástico: “Memória de Santa Teresa do Menino Jesus. A sólida formação cristã recebida no seio de sua família em Alençon, e depois nas beneditinas de Lisieux, despertou nela uma precoce vocação religiosa. Durante os nove anos passados no Carmelo de Lisieux, de 1988 até sua morte, ela praticou e depois ensinou o caminho evangélico da infância espiritual, aquela caridade que, do coração da Igreja, pode sozinha fecundar todo esforço apostólico. Por esse motivo foi proclamada, juntamente com São Francisco Xavier, padroeira das missões apostólicas”.

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