A este santo se podem aplicar as palavras da Sagrada Escritura: “Tendo vivido pouco, encheu a carreira de uma larga vida; sendo a sua alma agradável a Deus, por isso Ele se apressou a tirá-lo do meio das iniquidades” (Sab 4, 13). Com efeito, São Gabriel morreu aos 24 anos, mas viveu muito para o céu, pois em pouco tempo adquiriu grandes méritos e realizou obras dessas que se contam nos faustos da eternidade, ainda que não figurem nas páginas da História.

São Gabriel, que no batismo recebeu o nome de Francisco em louvor do Poverello, nasceu no dia 1º. de março de 1838 em Assis, em numerosa família. Seu pai Sante era governador do Estado Pontifício, e foi muito estimado pelo papa Pio IX, e Leão XIII o honrava com sincera amizade. Sua mãe Agnese era de nobre família de Civitanova d’Ancona. Estes cônjuges eram modelos de esposos cristãos, vivendo muito unidos no santo temor de Deus.

Aos 4 anos Francisco ficou órfão de mãe. Seu pai, católico modelar, não voltou a casar, e empenhou-se ele mesmo em cuidar dos numerosos filhos. À noite ele os reunia e lhes dava sábios conselhos e úteis exortações. Falava-lhes sobretudo dos deveres para com Deus, do respeito devido à autoridade paterna, e do perigo das más companhias. ‘Os maus companheiros’, dizia ele, ‘são os assassinos da juventude, os satélites de Lúcifer, traidores escondidos, e por isso é para os temer e deles ter cuidado”. Depois rezava o rosário com os filhos, a quem incutia profunda devoção à Virgem, cuja imagem como Mãe das Dores com seu divino Filho ao colo presidia o dormitório de Francisco.

Tendo a família se transferido para Espoleto, lá o menino fez os primeiros estudos com os Irmãos das Escolas Cristãs, e os continuou no colégio da Companhia de Jesus, onde foi eleito presidente da Academia de Literatura.

Ao chegar à juventude, Francisco era um rapaz inteligente, de caráter exuberante, aberto ao fascínio de tudo que a vida podia oferecer-lhe. Sempre vestido de maneira impecável, tinha um porte senhoril e muito distinto.

Quando Leão XIII o beatificou, afirmou que “ele, durante os estudos, pelo ardor da idade, concedeu um pouco com os afagos do mundo”. Consta que essa condescendência foi com festas, danças, e leitura de romances.

O comandante da guarnição militar de Spoleto o ensinara a manejar a pistola e o fuzil, tornando-se ele exímio atirador e ótimo cavaleiro. A caça com agradável companhia era seu lazer favorito. Mais tarde seu diretor espiritual afirmará que essa sua paixão pode ter sido a causa de abreviar-lhe a vida.

Quando Francisco tinha 18 anos, participava de uma procissão em louvor da Padroeira da cidade. Já várias vezes Deus lhe havia tocado a alma entre moléstias e graves doenças, mas ele tinha dado pouca correspondência aos apelos da graça. Desta vez porém, durante a procissão, o jovem fixou a face da Virgem, e pareceu-lhe que Ela o fitava de modo especial e lhe falava ao coração: “Francisco, o mundo não é para ti, espera-te a religião”. Ele não duvidou desse apelo e, no dia 21 de setembro de 1856, entrou para o noviciado dos Padres Passionistas – fundados por São Paulo da Cruz –, em Morrovalle de Ancona.

Ao vestir o hábito negro, ele tomou o nome de Gabriel de Nossa Senhora das Dores, pelo qual ficaria então conhecido.

O Irmão Gabriel aprofundou-se no carisma de sua Ordem, que é o do amor a Jesus Crucificado e a Nossa Senhora das Dores, seguindo suas Regras com um amor prático e sacrificado, na linha austera e cogente marcadas por elas. Entretanto, em meio à penitência, conservava um caráter alegre, simpático, colocando-se inteiramente nas mãos de Nosso Senhor, na pessoa de seus Superiores.

Aqui se insere um fato na vida de São Gabriel que nos mostra que, se ele foi sempre muito amável e afável, sabia também ser forte quando preciso, o que é diferente de algumas representações água com açúcar que dele fazem.

Ocorreu que no ano de 1860, após a batalha de Castelfidardo, cerca de vinte mercenários renegados ligados ao exército de Garibaldi, apareceram em Espoleto para pilhá-la e aterrorizar os moradores.

O Irmão Gabriel obteve autorização do reitor do seminário para enfrentá-los, encaminhando-se desarmado para onde estavam os arruaceiros.

Ora, um desses mercenários, que estava prestes a violentar uma jovem, ridicularizou-o por vir sozinho enfrentá-los. O santo então, numa rápida manobra, tirou-lhe o revólver da cintura, e ordenou-lhe que soltasse a vítima.

Enquanto o homem obedecia, Gabriel rendeu outro soldado que se aproximava, e apropriou-se também de seu revólver. Acorreram então os demais mercenários em defesa dos companheiros, para subjugar o impertinente frade.

Nesse momento uma lagartixa ou salamandra atravessava a rua entre o santo e os mercenários. Quando, por um breve momento, o animal parou, o Ir. Gabriel fez pontaria, e com um único tiro certeiro matou-o.

Apontando depois os dois revólveres para o bando, ordenou-lhes que largassem as armas imediatamente.

Diante da exibição de tão boa pontaria, os soldados obedeceram. Gabriel lhes ordenou também que apagassem todos os focos de incêndio que haviam iniciado, e que deixassem a cidade imediatamente. O que fizeram.

Por tudo isto, atiradores e proprietários de armas de todo mundo estão em campanha para torná-lo o Padroeiro dos Cidadãos Armados

Deus chamou-o a Si quando só tinha as Ordens Menores. Com os benditos nomes de Jesus e Maria nos lábios, ele entregou sua bela alma a Deus no dia 27 de fevereiro de 1862, na ilha do “Gran Sasso”. Como São Luís Gonzaga, tinha apenas 24 anos e, como ele, tinha passado somente seis anos na vida religiosa.

Os milagres por intercessão do humilde passionista foram num crescendo, de maneira que o imortal São Pio X o beatificou em 1908; e, em 1920, Bento XV o canonizou juntamente com Santa Margarida Alacoque.

Com propriedade diz o Intróito de sua Missa, citando o livro do Eclesiástico, 11, 13): “O olhar de Deus penetrou-o com amor, levantou-o da terra onde jazia, e exaltou a sua cabeça: admiraram-se muitos ao vê-lo, e glorificaram a Deus”.

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