18 de janeiro de 2021 | Luiz Sérgio Solimeo
Os católicos argentinos deram um exemplo para o mundo ao lutar valentemente contra a legalização do aborto. Entretanto eles não tiveram o apoio do papa argentino. Sua agenda esquerdista não inclui tais preocupações.
Silêncio diante do aborto na Argentina
O silêncio do Papa Francisco durante a luta contra a legalização do aborto na Argentina foi chocante.
Por exemplo, o Prof. José Arturo Quarracino destaca que em sua última mensagem de Natal, o Papa Francisco falou sobre os problemas de vários países, mas não disse “nenhuma palavra sobre a Argentina, sua terra natal”. Ele enfatizou que “esta indiferença confirma o que é comumente dito entre os bispos e padres amigos de Bergoglio:‘ O aborto não é um assunto tão importante quanto o meio ambiente ou os migrantes’”[i].
Esse silêncio é ainda mais inexplicável considerando que o papa tem boas relações com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Este, pouco depois de ser eleito, foi calorosamente recebido pelo papa.
O professor Rubén Peretó Rivas escreveu:“O presidente argentino, Alberto Fernández, foi quem promoveu a lei e se comprometeu a pressionar pessoal e insistentemente vários legisladores para que mudassem de voto e permitissem sua aprovação [do aborto]. É o mesmo presidente que foi saudado com complacência e largos sorrisos pelo Sumo Pontífice em 31 de janeiro de 2020, o mesmo que naquele dia assistiu à missa celebrada pelo Arcebispo Marcelo Sánchez Sorondo para si e seus acompanhantes na cripta da Basílica do Vaticano [no túmulo de São Pedro], onde comungou com sua concubina, a ex-showgirl Fabiola Yañez”[ii].
Estamos no tempo de Amoris Laetitia…
Naturalismo sobre o aborto
O Papa Francisco se absteve de encorajar os católicos argentinos a lutar contra a legalização do aborto. Além disso, em cartas privadas às pessoas que o consultaram, ele disse que o aborto não é uma questão principalmente religiosa. Ele repetiu essa declaração em uma entrevista publicada recentemente[iii]. Essa postura sugere que não se deve empreender uma luta religiosa para bloquear a legalização desse pecado grave.
Em uma dessas cartas – que, embora privada, foi publicada pela Conferência Episcopal Argentina – o papa afirmou: “A [uma carta] me perguntando sobre o problema do aborto, eu respondi … [que] o assunto do aborto não é principalmente uma questão religiosa, mas humana, uma questão de ética humana anterior a qualquer confissão religiosa”[iv].
O papa prosseguiu sugerindo que argumentos não religiosos sejam usados na luta contra o aborto: “E eu sugiro que você se faça duas perguntas: (1) – É justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? E (2) é justo contratar um assassino para resolver um problema?”[v]
Uma coisa é usar tanto argumentos religiosos como de bom senso. Outra é dizer que o aborto não é principalmente uma questão religiosa.
O aborto é principalmente uma questão religiosa
Em questões morais, como o aborto, o argumento mais decisivo é o religioso, pois coloca a pessoa diante de seu destino eterno, seu fim último. Isso é especialmente verdadeiro em um país católico como a Argentina.
Por outro lado, dizer que o aborto não é fundamentalmente uma questão religiosa é negar que ele, acima de tudo, é uma grave ofensa a Deus. É a morte deliberada de um ser humano inocente. É um dos quatro pecados que clamam ao Céu por vingança[vi].
Além disso, o aborto procurado vai contra a infinita sabedoria de Deus ao vincular a relação sexual natural à procriação da humanidade. Também vai contra Sua adorável vontade, que determina que o ato sexual deve ser realizado apenas no casamento e sem interferências que o tornem infrutífero.
O aborto é, portanto, uma revolta contra Deus, “aversio a Deo, conversio ad creaturam” (afastar-se de Deus, voltar-se para algum bem criado), como Santo Agostinho definiu o pecado[vii].
O Pecado da Omissão
A mulher que procura um aborto voluntariamente, e a equipe médica que o pratica, pecam por ação. Quem deveria ter se oposto à legalização do aborto e não o fez, peca por omissão. Santo Tomás diz que ser negligente em “um ato ou circunstância necessária à salvação é um pecado mortal”[viii].
O aborto procurado é um pecado mortal extremamente grave. Não é apenas uma ofensa grave contra Deus, mas tem consequências na vida moral e social de um povo. Assim, aqueles cuja missão é guiar, especialmente espiritualmente, e não se opõem ativamente ao aborto, mas se limitam a declarações ambíguas ou fraca oposição, desproporcional à situação, cometem um pecado grave.
Sua omissão contribui para que o pecado do aborto procurado se generalize. Ajuda a fazer com que o crime pareça “normal”, levando muitos a pecar.
Obrigação de defender a verdade
O Papa São Félix III já advertia no século quinto:
“Um erro que não é resistido é aprovado; uma verdade que não é defendida é abolida…. Quem não se opõe a um crime evidente está sujeito à suspeita de secreta cumplicidade”[ix].
As autoridades religiosas argentinas, o Papa Francisco, que não combateram a legalização do aborto neste país católico como era seu dever, devem prestar contas a Deus por sua responsabilidade neste pecado nacional. “Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra por mim” (Gênesis 4:10).
[i] Marco Tossati, “Quarracino. Aborto en Argentina: la Indiferencia del Papa Bergoglio,” Stilum Curiae, Dec. 26, 2020, https://www.marcotosatti.com/2020/12/26/quarracino-aborto-en-argentina-la-indiferencia-del-papa-bergoglio/.
[ii] See Aldo Maria Valli, “L’aborto in Argentina e gli amici di papa Francesco,” AldoMariaValli.it, Dec. 30, 2020, https://www.aldomariavalli.it/2020/12/30/laborto-in-argentina-e-gli-amici-di-papa-francesco/. “Presidente argentino concubino y abortista recibe la Comunión en el Vaticano (Vídeo)”, https://gloria.tv/post/hwVfRJqDfVYR343VMcFmfztU8, acessado em 13 de Jan.de 2021.
[iii] Elisabetta Piqué, “Fuerte condena del papa Francisco al aborto: ‘¿es justo cancelar una vida humana para resolver un problema?’” La Nación, Jan. 10, 2021, https://www.lanacion.com.ar/politica/fuerte-condena-del-papa-al-aborto-es-nid2566081.
[iv] Conferencia Episcopal Argentina, “Carta del Papa Francisco a sus alumnos y compañeros de colegio,” Episcopado.org, Dec. 5, 2020, https://episcopado.org/contenidos.php?id=2707&tipo=unica.
[v] Ibid.
[vi] “8. P: Quais são os pecados que bradam ao Céu e pedem a Deus por vingança?. R: Os pecados que bradam ao Céu e clamam a Deus por vingança são quatro: 1º. Homicídio voluntário; 2º. Pecado impuro contra a natureza; 3º. Opressão dos pobres, principalmente órfãos e viúvas; 4º. Não pagar o salário a quem trabalha. P: Por que se diz que estes pecados pedem vingança a Deus? Porque o diz o Espírito Santo, e porque a sua malícia é tão grave e manifesta, que provoca o mesmo Deus a puni-los com os mais severos castigos” (Catecismo Maior de São Pio X, Diocese de Campos, RJ).
[vii][vii] Battista Mondin, Dizionario Enciclopedico del Pensiero di San Tommaso d’Aquino (Bologna: Edizione Studio Domenicano, 1991), 445.
[viii] Summa Theologiae, II–II, q. 54, a.3, c.
[ix] Citado por Leão XIII na Encíclica Inimica vis (Sobre a Maçonaria), 8 Dez.1892, no. 7. http://www.vatican.va/content/leo-xiii/en/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_08121892_inimica-vis.html