Irmã Lúcia (Fátima) descreve a pandemia de 1918: contraste com o lockdown, 2021

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A pandemia de 1918 — gripe espanhola — estimulou a caridade cristã, nos conta a Irmã Lúcia; a pandemia do vírus chinês substituiu a caridade introduzindo o egoísmo, a desconfiança, ver no próximo um potencial inimigo portador do vírus.

Um exemplo de como os católicos portugueses enfrentaram a gripe espanhola, em 1918, descrito em um relato da Irmã Lúcia, então com 11 anos. O calor da caridade católica, do amor ao próximo, em um relato singelo feito por Lúcia: – “Não há de Deus pagar-me com o mal o bem que eu faço por Ele!

E assim aconteceu! A confiança de meu pai não foi confundida, que tenho quase 82 anos e ainda não senti o mínimo de vestígio dessa doença!” (Memórias da Irmã Lúcia V, n.º 3, pp. 19-21).

Também, em 1918, não havia o lockdown socialista de governadores e prefeitos que tentam acionar a polícia e nos ameaçam de prisão impedindo até a liberdade de culto. Quanto ao Clero, também não decretou o fechamento das igrejas …

Estamos pondo em foco, nesse artigo, a mentalidade dos católicos face à pandemia em 1918. Somente espíritos superficiais, mal intencionados, sectários poderiam ver nessas considerações um convite à atitudes imprudentes como se estivéssemos suprimindo medidas necessárias de higiene. Cada século usa os conhecimentos sanitários de sua época.

Não disputamos nesse terreno, elevem as vistas: comentamos duas atitudes face à epidemias, dois modos de ver a existência dos homens sobre a Terra. Passemos ao artigo:

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Por Pedro Sinde, Bibliotecário

A Irmã Lúcia narra nas suas Memórias como foi a pandemia de 1918, a pneumónica ou gripe espanhola. A leitura dessa descrição mostra-nos a diferença civilizacional que existe quando vemos a reacção do mundo à pandemia de covid-19 ou vírus chinês. Comecemos pelo excerto das Memórias:

«A epidemia (pneumónica, de 1918) atingiu quase toda a gente. A mãe e minha irmã Glória andavam de casa em casa a tratar os doentes. Um dia, o ti Marto foi avisar o meu pai de que não deixasse a mãe nem as filhas andar por casa dos doentes a tratá-los, porque era uma epidemia que contagiava e podíamos, também nós, ficar doentes.
À noite, o pai, ao chegar a casa, proibiu a mãe e as filhas de irem às casas dos doentes para tratá-los. A mãe escutou, em silêncio, tudo o que o pai disse e depois respondeu:

–  Olha, tu tens razão. É mesmo assim como tu dizes. Mas, olha lá, como podemos nós deixar morrer aquela gente, sem ter(em) quem lhe(s) chegue um copo de água? O melhor seria que viesses tu comigo e vias como as pessoas estão e se nós podemos deixá-los assim abandonados. E, apontando para uma grande panela que tinha pendurada na corrente da chaminé, sobre o braseiro da lareira, disse:

– Vês esta panela? Está cheia de galinhas. Algumas nem são nossas; trouxe-as de casa dos doentes, que as nossas não chegavam para tudo. Está a ferver, para fazer caldos, e já tenho aí as panelinhas que trouxe das suas casas, para lhos levar. Se tu quisesses vir comigo, ajudavas-me a levar as cestas com as panelas dos caldos e, ao mesmo tempo, vias e resolvíamos como se há de fazer.

O pai aceitou. Encheram as panelas de caldo e lá foram os dois, cada um com duas cestas, uma em cada mão. Daí a pouco, volta o pai com um bebé num bercinho e disse para a minha irmã Glória e para mim:

– Tomai conta deste menino. Os pais estão os dois de cama, com febre, e não podem olhar por ele.
Voltou a sair e, daí a pouco, regressou com mais duas crianças que já andavam, mas ainda não podiam valer-se, e disse:

– Tomai conta de mais estas duas, que não fazem senão chorar, à volta da cama dos pais, e eles estão com febre e não podem atendê-las.

E assim trouxe mais. Não me lembro quantas. No dia seguinte, vieram dizer que também em casa da tia Olímpia, estavam todos de cama com febre. Os meus pais lá foram também tratá-los. Aí, na ocasião, melhoraram todos, mas quatro ficaram sempre com algumas décimas de febre que os foram minando e, um após outro, em poucos anos, morreram quatro: o Francisco, a Jacinta, a Florinda e a Teresa.

Nesses dias, os meus pais não fizeram outra coisa mais que andar de casa em casa, a tratar dos doentes. O pai com o meu irmão Manuel tratavam também dos animais que estavam nos currais a gritar com fome, e tiravam o leite para se dar aos doentes e às crianças. (…) Foi tão grande a necessidade, que meus pais não hesitaram em deixar-me ir focar, algumas noites, em casa de uma viúva que vivia só com um filho que estava tuberculoso no último grau, para que ela pudesse descansar, sabendo que tinha ali uma criança de 11 anos, que chegasse ao filho um copo de água ou uma tigelinha de caldo, ou a chamasse, se ele precisasse de outa coisa. (…) Também advertiram o meu pai de que era temerário deixar-me ir a essa casa porque podia contagiar-me. O pai respondeu:

– Não há de Deus pagar-me com o mal o bem que eu faço por Ele!

E assim aconteceu! A confiança de meu pai não foi confundida, que tenho quase 82 anos e ainda não senti o mínimo de vestígio dessa doença!” (Memórias da Irmã Lúcia V, n.º 3, pp. 19-21)

O que vemos neste magnífico trecho? É muito simples: a Cristandade, isto é, a civilização cristã em acção exprimindo as suas virtudes: a caridade, amar o outro como a si mesmo, a heroicidade, a capacidade de sacrifício, a consciência de que estamos vivos e podemos morrer e de que morrer a fazer o bem é melhor do que viver covardemente encerrado em casa; e ainda, a confiança em Deus.

Um século volvido, temos a polícia a percorrer as estradas e altifalantes avisando: «Fique em casa»; e estamos proibidos «para nosso bem», naturalmente, de sair de casa, de ir trabalhar, de ir ajudar um vizinho, de ir ao hospital ver o nosso pai ou a nossa mãe pela última vez, ou de o ir buscar ao lar, ou de ir um funeral, etc., etc., etc..

Colocadas lado-a-lado, parecem duas civilizações diferentes. E são.

O que aconteceu, pois, entre as duas civilizações? Como chegámos a este ponto de extremo egoísmo e covardia? A resposta é simples: a Cristandade decaiu em Europa. Agora somos uma civilização sem esqueleto, sem dimensão vertical; em duas palavras: sem Deus.

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Havia também o anticatolicismo militante em Portugal a ponto das três crianças, videntes de Fátima, terem sido interrogadas, ameaçadas e presas pela autoridade civil local.

Esse artigo retrata muito bem o estado de alma católico português do ínicio do século XX. São ainda os restos da civilização cristã, vivos em 1918, que moviam a família de Lúcia a socorrer os doentes. Amor de Deus, amor ao próximo.

Também não haviam bispos e sacerdotes que preferiam seguir as leis do mundo e fechar as igrejas. Rezava-se, implorava-se a Deus misericórdia, operava a caridade para com o próximo.

Esse será, por certo, o ponto mais agudo da presente pandemia do vírus chinês: o Poder Espiritual se omite e não permite aos fieis terem acesso aos Sacramentos, em tanto lugares, nem na Semana Santa.

Que Nossa Senhora de Fátima, que teve na irmã Lúcia a principal interlocutora de sua mensagem, apresse os dias de sua vitória ainda que precedida pelas ameaças: várias nações serão aniquilidas.

Fonte: https://sol.sapo.pt/artigo/730179/a-abissal-diferenca-civilizacional-entre-a-pandemia-de-1918-e-a-de-2019

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