Neste mundo cada vez mais ateizado, milagres aparentes são cada vez mais raros. Sabemos que eles ocorrem em Lourdes e outros locais de peregrinação. Mas não no dia a dia do comum das pessoas. Por isso nos surpreende um duplo milagre do qual foram beneficiados há pouco dois adolescentes de uma mesma família americana de Nova Jersey.
Charles e Cathy Lacey têm três filhos: Brendan, Patrick e Sean. O filho do meio, Patrick, de dez anos, tinha paralisia cerebral, e usava aparelho nas pernas desde os três. Além disso, como diz sua mãe: “Seus músculos não esticam o suficiente para ele ficar de pé”. O menino gostaria muito de passear pelo campo, mas isso mexe tanto com seu corpo, que depois ele precisa de dois a três dias para se recuperar. “Ele também tossia muito, tinha fadiga, falta de apetite, e às vezes pegava pneumonia”, acrescenta sua mãe Cathy.
O que piorava esse quadro clínico é que a paralisia acabava afetando a capacidade mental do menino, de maneira que ele tinha “problemas com letras e números, e nada parecia aderir à sua memória. Ler era para ele um problema”. Por isso Patrick estava recebendo terapia física, ocupacional e fono-audiológica intensa na escola, no Hospital Nemours/Alfred I. Dupont para Crianças, em Wilmington, Delaware, e com terapeutas particulares locais.
Acontece que uma desgraça geralmente não vem só: os Lacey descobriram que também o filho mais velho, de 12 anos, começava a ter problemas de saúde. Diz a mãe: “Naquela época, Brendan começou a ter dificuldade para comer. Em cada refeição ele tinha que se desculpar e limpar a garganta, pois a comida não descia”. Levado a um especialista, os médicos fizeram vários exames, incluindo uma endoscopia. Mostraram aos pais do adolescente fotografias da mesma, que acusavam que o esôfago de Brendan “parecia terrível lá dentro”. Receitaram ao adolescente quatro medicamentos diários para esofagite eosinofílica — doença crônica do sistema imunológico em que os eosinófilos (um tipo de célula sanguínea) se acumulam no esôfago provocando, entre outras coisas, dificuldade para engolir, engasgo, comida grudando no esôfago, e consequente dor abdominal. Com isso a vida da família complicou-se muito, pois agora eram dois filhos que tinham que fazer viagens semanais ao hospital, que ficava a uma hora de distância de sua casa, para tratamento.
Entretanto, a família Lacey era católica praticante. “Eu estava rezando muito durante esse tempo, especialmente o Rosário”, diz Cathy. “Deus estava me carregando por meio da oração”.
Um dia em que ela fazia adoração ao Santíssimo na capela da Igreja de Santa Rosa de Lima, em Haddon Heights, Nova Jersey, resolveu entrar pela primeira vez na livraria do centro espiritual da igreja. Nela se sentiu atraída por um DVD sobre a exposição “Tesouros da Igreja”. Tratava-se de uma exposição internacional, organizada pelo Pe. Carlos Martins, que incluía 150 relíquias de santos como Maria Goretti, Teresa de Lisieux, Francisco de Assis e António de Pádua, além de uma das maiores relíquias da Verdadeira Cruz, e um pedaço do véu que, segundo à tradição sancionada, pertenceu a Nossa Senhora.
A Sra. Lacey levou o DVD para casa: “Nós o assistimos em família. E assim que terminamos, Patrick disse: ‘Mãe, eu quero ir para ver isso’. Ele ficara fascinado pelo que viu. Eu rezei: ‘Por favor, Senhor, deixe-me saber quando essa exposição estiver por perto daqui.”
Verificando depois a programação da exposição, Cathy descobriu que ela chegaria a Nova Jersey no mês seguinte. Por uma “coincidência”, a apresentação do Padre Martins foi agendada para o dia de Santo Antônio, “ironicamente na Igreja de Santa Inês, a mesma igreja em que meu marido fez seu curso de formação católica para adultos, e recebeu todos os Sacramentos”, diz ela.
Durante a palestra do Padre Martins que precedeu a visita às relíquias, a família Lacey pôde sentar-se na primeira fila. “Estávamos a cinco pés de distância da Verdadeira Cruz e do véu de Maria”, explicou ela.
Primeiro Milagre
Naquela visita memorável aos “Tesouros da Igreja” após a palestra do sacerdote, Patrick foi de relíquia em relíquia, tocando sua Medalha Milagrosa em cada uma. Diz ele: “A primeira relíquia que toquei foi a madeira da Verdadeira Cruz. Depois disso, fui a todas as outras relíquias, e toquei minha medalha em cada uma delas”, contou.
Patrick continua: “Depois daquela noite, minha mãe começou a notar algo diferente em mim. Pedi então a ela licença para não usar meu aparelho. O que fiz, e não me sentindo nada dolorido. Então, alguns dias depois, minha mãe disse: ‘Você está curado!’ ”
A Sra. Lacey explica o que ocorrera quando chegaram em casa: “Patrick não estava dolorido. Ele subiu as escadas correndo direto para a cama. Eu pensei: “Como assim!!? Poderia ser?!!”
No fim da semana subsequente, como estava excepcionalmente quente para meados de fevereiro, Brendan e Sean pediram à mãe para ir andar de bicicleta no parque. Patrick quis ir também. “Ele não andava de bicicleta há anos”, explica ela.
Patrick foi de bicicleta todo o caminho até o parque. Lá continuou pedalando “o tempo todo, mais de uma hora”. Depois, outra surpresa: “Ele estava jogando! Não podíamos acreditar em nossos olhos”, disse Cathy. No dia seguinte ele quis novamente ir com seus irmãos em suas bicicletas, pedalando mesmo morro acima mais de uma vez.
“Naquela altura, eu sabia que era um milagre”, disse Cathy. “Eu estava chorando, vendo-o jogar com os irmãos. Ainda estávamos maravilhados”. De volta para casa, Patrick “nos diz que não precisa do aparelho, afirmando: ‘Estou curado’. E foi para a escola sem aparelho”, afirma a mãe.
Quando depois os Lacey levaram Patrick ao seu terapeuta regular — o mesmo terapeuta que estava tentando ajudá-los a conseguir a cadeira de rodas que o médico já dissera que Patrick precisaria, “porque seus ossos estavam crescendo mais do que seus músculos podiam esticar, e sabia o quanto eles lhe doíam pelas lágrimas que rolavam pelo seu o rosto” — o terapeuta ficou boquiaberto ao ver que Patrick corria sem o aparelho ortodôntico. A Sra. Lacey então lhe disse: “O Sr. realmente não sabe o que nos dizer, não é?” O terapeuta respondeu: “Não tenho nem idéia do que sucedeu”. Então Patrick contou-lhe toda a história da Exposição, e do papel das relíquias dos santos.
Mas não parou aí. De volta à escola o menino, que tinha muita dificuldade com adição e subtração, reservava outra surpresa: “A professora disse que fez os três primeiros problemas com Patrick; os próximos quatro ele mesmo fez sozinho, e acertou todos. ‘Ele está indo muito bem’”, afirma a mãe.
Segundo Milagre
Entretanto, havia o problema com Brendan.
Depois da Exposição, chegando em casa, ele afirmou aos pais: “Minha garganta está muito boa”. Eles perceberam que Brendan já era capaz de manter a comida no estômago. Então pararam com os remédios. Em sua próxima endoscopia agendada para a segunda-feira de Páscoa, os Lacey esperaram para ver as últimas imagens. Nelas o esôfago de Brendan parecia normal e saudável.
Um ano depois, em seu primeiro ano do ensino médio, Brendan voltou para casa do treino de futebol, faminto, e pegou um pedaço de frango, que ficou preso na garganta. Ele acabou no hospital e teria que fazer uma cirurgia. A caminho do hospital para “a galinectomia”, afirma ele que estava como que “petrificado”. “Tudo o que eu conseguia pensar era em rezar […]. ‘Senhor, por favor, poupe-me; me mantenha vivo. ‘Achei que pudesse parar de respirar”. Entretanto, “No hospital, fazendo todos os testes, eu mal conseguia falar e balbuciava constantemente. Minha mãe começou a rezar o Rosário para que eu tranquilizasse. E logo depois que ela terminou, eu pude falar. A Mãe Santíssima estava me protegendo, e me dando o conforto que eu estava desesperadamente precisando naquele momento ”, diz ele. O médico, especialista em esofagite e osinofílica, coletou amostras da esofagite de Brendan para exames.
Duas semanas depois, a enfermeira do médico ligou. “Temos os resultados. Mostra alergias e inflamação.”
Cathy perguntou: “E os eosinófilos?” que eram o que provocava todo o problema de Brendan. A enfermeira respondeu: “Não há eosinófilos”. “Ela [a médica] não fez o teste?” Cathy perguntou, só para ter certeza.
Claro, disse a enfermeira. “Mas não há eosinófilos”, enfatizou ela uma segunda e depois uma terceira vez.
A Sra. Lacey recebeu emocionada essa notícia que confirmava que Deus havia curado Brendan. “Deus é tão bom com esta reafirmação [a cura]”, exclamou ela.
Por sua parte, Brendan afirma: “Eu fui oficialmente curado. Fiquei maravilhado com a graça de Deus, e sua disposição de curar o que havia de errado comigo por meio da intercessão de seus santos e de sua grande misericórdia”.
Rememorando o tempo passado, o adolescente julgou que sentira que já tinha sido curado pela intercessão dos santos logo após a exibição das relíquias. “Quando penso no milagre que sucedeu comigo”, afirma Brendan agradecido, “honestamente, isso me ajudou a crescer como pessoa de muitas maneiras. Tudo sobre isso fazia parte do plano de Deus. Estávamos visitando as relíquias, e eu realmente esperava por graça de amor para mim. Logo depois que o milagre aconteceu, eu definitivamente poderia dizer que eu me sentia algo diferente. Eu estava cautelosamente otimista, porque não sabia se minha mente estava me pregando uma peça. Eu definitivamente estava sendo fortalecido na fé naquela época ”.
Desde a Exposição das relíquias e o episódio do hospital, explica Brendan que: “Minha fé cresceu astronomicamente”. De modo que ele se envolveu mais nas atividades da igreja, inclusive como líder do grupo de jovens de Santa Rosa de Lima, e como coroinha.
Por outro lado, Patrick explicou que “temos rezado um rosário em família todos os dias, e vamos a Santa Rosa para rezá-lo nas quintas-feiras“. Entre suas próprias orações, ele afirma que “todas as noites agradeço a Deus por me curar e aos santos anjos e santos por me curar, e pela manhã também”.
Como resultado do milagre, agora Patrick já joga futebol e basquete em um time com seu irmão Sean, e é também coroinha. O pai, que a princípio lutou com a dúvida sobre os milagres, está se preparando para o diaconato leigo.
Quando perguntam à Sra. Lacey qual o santo que mais especialmente teria obtido o milagre para seus filhos, ela afirma: “Foram todos os santos. Eu não poderia atribuir isso a nenhum. Era todo o exército celestial. ”
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