Plinio Corrêa de Oliveira Inocência, tentação, provação, queda, arrependimento, oração – Restauração espiritual Santo do Dia, 23 de fevereiro de 1985, sábado Ouça o áudio aqui: https://pliniocorreadeoliveira.info/Mult_850222_apologo_inocencia_pecado.htm#.YJm35bVKiMo | |
A D V E R T Ê N C I A (*) Com um apólogo (estória) imaginado enquanto desenvolvia a exposição, para ilustrar no que consiste a tentação para o inocente, mas também para quem é reincidente no pecado e se tornou até mesmo um tarado, mas que por intercessão da Mãe de todas as mães – Nossa Senhora -, converte-se, arrepende-se sinceramente e faz penitência, o Prof. Plinio proporciona ensinamentos tão úteis quanto acessíveis às mais diversas idades. “Meus caros, para ter um pouco de ideia do que é o pecado, vamos imaginar uma coisa assim… que houvesse num lugar maravilhoso, um rei e uma rainha muito mais maravilhosos do que o lugar, de tal maneira que, por mais belo que nós imaginássemos o palácio, por mais magníficos que imaginássemos o parque, por mais esplendidos que imaginássemos os móveis, por mais suntuosos que imaginássemos os trajes, eles não seriam nada em comparação com o esplendor pessoal do rei e da rainha. Os cortesãos mais altos e mais finos, mais nobres, mais fortes; generais vitoriosos em batalhas memoráveis enchendo a corte e festejando a rei e a rainha. Lugar de esplendor contínuo, lugar de felicidade completa, lugar do qual se poderia dizer, era como o céu, como o céu a terra. Mas, por causa destas coisas que se podem dar na história, onde as coisas inverossímeis são muito mais frequentes do que se imagina, este rei e essa rainha tinham alguns exilados, presos e encarcerados, morando num lugar péssimo, numa caverna subterrânea aonde goteja apenas a umidade, o horror, onde mal penetrasse a luz, aonde nenhuma forma de conforto, nenhuma forma de beleza, nada se fizesse notar a não ser o lento passar dos tempos nos lugares de uma tristeza inexorável. Os filhos ali moravam, e isto produzia para o rei e para a rainha uma tristeza tão grande que no esplendor de seu palácio eles eram quase tão infelizes quanto os filhos no cárcere. Por quê? Pela ideia contínua de que ali os “meus filhos queridos no cárcere e nós, por enquanto, não temos meios de libertá-los. Ai a dor! Ai a tristeza!” Imaginai então que esse rei e essa rainha tivessem pensado noutra coisa: “Esses meninos nos foram arrancados quando eram muito pequenos ainda, não chegaram a nos conhecer. Nós sabemos que de um modo direto ou indireto eles nada quereriam ter tanto quanto alguma coisa que fosse, que lhes apresentasse a fisionomia a cara seus pais. O desejo deles era de nos conhecer. Eles não nos conhecem e nós deveríamos nos fazer notar, fazer conhecer a eles de algum modo que lhes aliviasse a dor no cárcere, enquanto não chegássemos ali com tropas vitoriosas e os resgatássemos para os elevar à gloria que eles merecem”. Então, tomassem um pintor sobre esmalte dos mais perfeitos que haja e esse pintor pintasse sobre esmalte quadros perfeitos do rei e da rainha. Eles arranjassem uma porta-retratos com pedras preciosas, mas escolhidas com inteligência, de maneira que o conjunto dessas pedras preciosas dessa uma ideia do que fosse o temperamento, o modo de ser, e o ambiente dentro do qual o rei e a rainha [viviam], a mentalidade do rei e a mentalidade da rainha. Podia-se passar horas e horas contemplando esse esmalte magnífico, contemplando essas pedras preciosas, essa montagem em ouro e em platina. Poderia aliviar, de um modo mais significativo, o triste exílio desses filhos queridos. O rei e a rainha com risco de uma guerra, com o risco de perder, portanto, o seu reino, porque ainda não estavam preparados para a guerra, fazem chegar estes retratos até aqueles antros profundos. Os filhos notam e se encantam à primeira vista: que maravilha! Estão ali os retratos, estão colocados sobre uma mesa cambaia e bolorenta. Eles analisam, analisam, se encantam, ficam contentíssimos. Mas, depois “fugit! Fugit!”… Esse tempo também foge, o tempo dos cárceres foge também… e vem o demônio de um modo invisível e sopra: “Do que lhes adianta isto? Vocês já viram tudo, mas não adianta nada, porque está aqui, vocês já conhecem. Agora, se desaparecerem esses quadros, vocês já sabem o que é… Eu dou um jeito de lhes dar aqui, dentro do cárcere, um prazer, uma diversão como não há em nenhum outro lugar. Olha lá em cima, na terra da luz, aonde as pessoas andam livres e fazem o que querem, jovens da idade de vocês, e dos mais ricos, entretanto, pagam para adormecer e afundar nos sonhos que esse pouco de pó, esse pouco de cigarro que eu dou causa para eles. É tanta a felicidade desse sono que eles preferem deixar as suas viagens de transatlântico e de avião, deixar as suas corridas de automóvel, deixar as suas festas, deixar seus banquetes, deixar até a sua corrupção, até isso eles não se incomodam. Eles querem entrar no mundo que a droga fornece para eles, eles querem isso mais do que tudo. Deem-me uma pedra dessas, um pedregulho…o que é isso?! É uma pedra! Deem-me uma pedra, e dou a cada um de vocês um tanto de maconha pata tomar. Já ouviram falar de maconha? Bobinhos, não, não é?! Pois, está bom. Vão agora provar. No dia seguinte, vocês vão dizer-me o que pensam disso”. O demônio sai. Ainda é tarde e o sol custa para se pôr, e o relógio deles é um pouco de réstia de sol que começa ali e termina lá. Começa numa poça de lama e termina numa pedra suja num canto: é o quadrante do relógio deles. Estão tentados… Com aquela cócega interior, aquele desejo interior que a tentação dá. Estão tentados… Algo de novo, afinal, nesta prisão! Não podemos escapar, mas vamos para o reino do sonho. Vamos para o reino de maravilha. Uma pedra… Olhe ali do lado de cá do porta-retrato tem uma pedrinha, se nós tirarmos essa pedrinha não se nota ou nota-se pouco. E é um sonho. Ele prometeu-nos um dia e uma noite inteira de sonho. Sonho maravilhoso. Imagine gozarmos mais a vida, nós atarraxados aqui neste lugar de desgraça; gozarmos mais a vida neste dia e nesta noite do que quantos milhardários que há lá que não tomam essa droga, que é a droga da felicidade. Oh!…oh…oh!… Eles percebem que as trevas em certo lugar da prisão se tornam mais densas. A figura aparece… — Dão-me a pedrinha? — Não, nós damos? Pegue lá… — “Não, não. Vocês têm que dar por ato livre e completo. Tem que vocês arrancar a pedra; tem que quebrar a moldura. Essa pedra não se arranca a não ser quebrando a moldura. Quebrem a moldura! E gozem a vida. Aí está!” A esta hora, os filhos do rei e da rainha estão delirando de vontade. Quebram e tiram uma pedra…e notam que várias outras ficam bamboleando no quadro. Imediatamente aparece sobre a mesa a maconha e o necessário para fumá-la. O demônio dá uma gargalhada… “vocês vão divertir-se”. Explica como é o negócio. — “Deitem-se! — Mas onde, nos nossos catres? — “Em qualquer lugar, pouco importa. Entrem no reino do sonho. Entrem no reino do sonho, é o que eu lhes ofereço!” Eles fumam… daqui a pouco começaram a esticar-se e caem no sono… As horas, pela primeira vez, passam leves no catre da infâmia e da miséria. Pela primeira vez, o demônio é rei daquele lugar aonde habitavam almas inocentes. Começam a delirar, começam a ver mundos irreais, começam a passar por coisas que não imaginavam. Sentem uma sensação de leveza, uma sensação de delícia. E as horas passam, ninguém fala, ninguém se move, todos roncam, roncam, roncam… No dia seguinte, quando acordam e acordam em horas desiguais, estão tontos, indispostos, parece-lhes que o teto do cárcere ainda ficou mais baixo, que as paredes estão mais úmidas. Eles estão mais inconformados, eles tinham esperança, eles achavam que um dia seriam salvos, eles têm impressão de que os minutos que passam lá, são minutos de desespero insuportável. Eles só pensam em fugir mais uma vez. Em certo lugar, o pé da mesa da impressão de estar se movendo, dá impressão de se deslocar da mesa e se transformar numa serpente feia. E a serpente ri: — “Gostaram, hein! Gostaram… agora, o pior é o seguinte: é que o tempo que vocês vão passar agora sem fumar é um tempo horroroso. Vocês vão ser mais infelizes do que eram, porque quem uma vez tomou esse narcótico, depois não consegue mais se desabituar e preferem caminhar para a morte com tudo quanto a morte tem de horroroso – preferem caminhar para a morte, a dizer não. “Mas vocês, vocês que podem fazer? É afundar cada vez mais. Gozem a vida! Vocês vão morrer mais cedo. Que importa? É menos tempo de cárcere. Vamos lá, vamos depressa… Eu quero que vocês, agora arranquem mais pedras e eu lhes darei mais maconha”. Eles estão envergonhados… Não sabem o que fazer. Como se mover? Então, aquilo que seus pais mandaram, com um tanto, que era a expressão do esplendor deles, da beleza deles, da alma deles, da virtude deles, isso eles vão arruinar assim e ficar em torno daqueles esmaltes lindos, aquela cacaria de uns suportes quebrados, sem as pedras. Que podem fazer? Olham, e o pé de mesa transformado em serpente, está olhando… sopra alguma coisa que os deixa meio fora de si, arrancam mais algumas pedras e dão. Nova “viagem” para o mundo mentiroso das delícias fáceis, das delícias ilusórias, das delícias que não custam esforço, cujo preço não é a dor, cujo preço não é a virtude nem o heroísmo, cujo preço é simplesmente a entrega e a capitulação. Vamos abreviar a história… chega a um determinado momento em que não há pedras para dar, mas o vício está implantado na alma deles. O demônio reaparece e diz: — Vocês não têm mais nada para dar. Agora, eu não lhes dou nada. Vocês não têm nada para dar-me! O que é que vocês fizeram de bom para mim? Nunca fizeram nada, eu não tenho razão para fazer nada de bom para vocês. Varro com vocês, elimino-os! Não quero nada! Depois, vocês não têm nada para me dar…”. E fita os dois esmaltes que restam… Ele quer que da parte dos filhos parta a sugestão infame. Um, mais viciado do que os outros, e diz: — bom, esses dois esmaltes valem muito, o que vou fazer com esses esmaltes? Existe nalguma parte da terra uma toca onde haja esmalte para serpentes admirarem?” E um riso estritamente priuuuuu… como um assobio parte da boquinha da serpente: — “Eu não tenho nada que fazer com isto. Para mim isto não vale nada”. Um outro diz: — “Leve e venda!” — “Por ouro? O que é que vou fazer de ouro? As cobras não precisam de ouro”. Ouro mais atrevido diz: — “Mas você será cobra?” A serpente diz: “Vocês bem sabem quem eu sou… vocês bem sabem quem eu sou. Vocês bem sabem, portanto, isso de capital e que é: que para mim ouro nenhum vale, o ouro que são as almas de vocês! Eu posso fazer uma coisa para vocês que seus pais não podem fazer… o que é que eles podem fazer? Olhe aqui: ela que bonita; ele também… parecem pessoas boas, não é? Eu pareço ruim. Mas eles nunca conseguiram fazer nada por vocês e eu consegui! Eu dei para vocês este vício. E ao menos vocês estão viciados, mas se divertiram. Vocês me dirão que estão condenados à morte… vocês estão escapando da vida! O que eu quero de vocês é o seguinte: eu quero vocês. E para isso, eu quero que vocês rompam com os seus pais, que vocês mesmos quebrem esse esmalte e reduzam a pó. Olhe aqui: eu trouxe um martelo!” — Como trouxe você esse martelo? Pergunta um deles. — “Eu entrei pela janela, por aquele buraco. — “Não vimos entrar… — “Ah- Ah- Ah! eu sou espírito, eu entrei pela fechadura, eu não entro por nada. Vocês são de carne. Para vocês existe esse problema. Nós entramos através das portas fechadas, das janelas muradas, nós entramos nos sepulcros aonde ninguém entra, nós entramos por toda a parte aonde nós queremos. Pouco mais incomoda. Eu trouxe o martelo. Quebrem. Quebrem em pequenos pedaços e vocês serão uma dose de maconha que dará para muito tempo”. Os filhos, envergonhados, mas dominados pela droga, quebram o esmalte. Eles veem a fenda que racha o rosto da mãe, veem outra fenda que quebra a destra do rei. Eles moem tudo, moem o rosto, moem o cetro, moem tudo que podem moer, porque o estado em que eles estão, eles preferem que não haja mais nada daquilo. A serpente está quieta e finge dormir, como se não estivesse vendo nada. Quando lhe dizem: — “Afinal acabou! Leve embora agora essa poeira”. — “Não, embora eu não vou levar, porque eu quero que vocês sofram vendo isto. Vocês tinham uma joia inestimável… ahahaha. Essas joias inestimáveis eram imagens de um pai e de mãe que valiam incomparavelmente mais ahahahah… o que vocês tinham era saúde; o que vocês tinham era virtude; o que vocês tinham era esperança. Eu lhes fiz todo o mal que eu pude! Eu lhes tirei a virtude, eu lhes tirei a saúde e tirei a esperança, vocês não esperam mais nada senão morrer, a hora em que eu leve vocês para o lugar da dor externa, onde eu estou lançada por aquele cujo nome não menciono. “Ó horror! ó horror! horror do qual eu partilho. Eu não vou mais tirar daqui este esmalte moído. Quero que vocês tenham diante de si a ideia de seu crime para ter uma dor a mais por causa disso, mas uma dor sem remorso, porque vocês já não mais capazes de remorso vocês são uns viciados e vocês só são capazes de vícios. Ah- Ah- Ah!… Olhem, está aí a maconha. Fumem enquanto ainda estiverem vivos porque daqui a pouco vocês não valem mais nada e eu venho pegá-los. Ai é que vocês vão saber o que é que vocês perderam. Ah- Ah- Ah!” O pé da mesa volta ao seu lugar na mesa. A prisão está exatamente do mesmo jeito. Os rapazes estão lá dentro, estão sós e se olham… como é? como é? Ficam quietos. E dentro deles, o desejo da droga começa a subir. O tormento do vício não atendido começa a ferver. Um olha para os outros e diz: — “Não tem, remédio está tudo perdido, vamos agora e droguemo-nos porque ao menos gozamos o que está aqui”. No momento em que eles têm tudo preparado e começam a fumar, estão prontos para começar a fumar juntos, ouve-se um trompete… são o rei e a rainha que estão chegando! Venceram batalhas épicas, venceram guerras estupendas, lutaram durante anos, o rei está mais velho, encaneceu na batalha; a rainha se tornou mais venerável, a dor e a angústia deixaram nela aquele traço de dedicação e de sofrimento que torna mais respeitável qualquer fisionomia ainda que seja a da maior das rainhas. Aproximam-se com um cortejo brilhante, do cárcere, e bradam do lado de fora: — “Filhos meus, chegou a vossa hora! Soldados investi essa porta. Nós estamos aqui para resgatar os nossos filhos!” “Meus filhos, vós não respondeis?” Silêncio… silêncio… não ousam. O que fizeram? Eles preferem que os pais não entrem para não verem aquele esmalte reduzido a nada; para não verem aquelas fotografias, aqueles quadros de esmalte transformados em pó; para não perguntarem o que foi feito das joias que serviram de moldura; para não notar neles a voz pastosa do viciado. Horror!… horror. Diante do silêncio, a rainha começa a soluçar… ela pensa que os quatro morreram. Ó dor! O rei desce, ele mesmo, e comanda a ofensiva. Nos catres, sentados, estão os quatro, cobertos de vergonha, cobertos de arrependimento; medindo agora todo o horror do que fizeram e a hora terrível do encontro, quando eles olharem para o pai e olharem a mãe e estes disserem: — “Vocês… nós não esperávamos isso, preferíamo-los mortos a ver como vocês estão! Ó miseráveis! Eles não ousam enfrentar a situação. Afinal, quando a porta está para romper, um, o mais moço, para quem o pai e a mãe tem certo fraco, porque é o benjamim, é o mais delicado, é o mais frágil, diz com voz pastosa: — “Senhor rei, senhora rainha, senhor meu pai, senhora minha mãe, não entreis! A desgraça que vos espera é grande demais! E a culpa é nossa. Ai, meu Deus!… O pai entra e diz: — “Filhos, o que há?”. Eles se escondem e o filho mais moço diz: — “Meu pai, nós não somos dignos de aparecer diante de vós, chamai nossa mãe. Nós temos medo do esplendor da vossa virtude, da grandeza de vossa realeza. Até vossa bondade nos dá medo, porque é tanta a vossa bondade e tal foi a nossa miséria… Pai, nós nos desfaremos como está desfeito aquele esmalte no chão. Pai, esse esmalte foi imagem de vós e de nossa mãe. Agora, nós podemos dizer nós também fomos imagem de vós. Nós éramos vossos filhos, parecidos convosco, participando convosco do sangue real, participando convosco da dignidade ao torno para o qual um de nós era chamado e no qual os outros deveriam apoiar. Participando convosco de tudo quanto estáveis acumulando para nós e nós nos destruímos, a vossa semelhança em nós foi destruída, porque vós sois retos, vós sois puros, vós sois fortes, vós sois austeros, vós sabeis vos privar e dizer não às solicitações que o Pecado Original em vós. Nós não fomos assim. Nós ao fomos retos, nós não fomos puros, nós fomos moles. Nós não soubemos nos recusar a tentação imunda de satanás ou de um de seus anjos mandados, para nos tentar. Agora, pai, vede, não é a cara de um príncipe, é a cara de um tarado que vos fala. Chamai a mãe. Porque este golpe, um coração materno perdoa. O coração paterno precisa ser preparado por isso. É só uma alma de esposa e de mãe que consegue isto. Não me olheis, vede meus irmãos, quando vós entrastes estavam de joelhos, agora estão prostrados por terra. Quereis pior? Alguns estão dormindo porque já tinham começado a fumar. Cutucai-os com os pés! Eles não acordam. Pai, eu vejo uma espada que pende de vosso lado, se quereis matar-nos aos quatro, estais no vosso direito. Perdoai-nos. Eu peço por mim e peço por eles.” O rei segura a copa da espada. — “Quanto o mereceis! E se meu ofício é fazer justiça nos meus reinos, há de começar pelos meus filhos. Filhos indignos, eu vos eliminarei! Chamarei apenas um confessor, chamarei um médico para que vos tire, infames, desse sonho em que estais, para que tenhais oportunidade de receber a absolvição e para que o demônio ao menos não me leve as almas dos meus quatro filhos, porque o resto nem eu quero ter presente na terra. Asquerosos, vós me produzis horror! E se não fosse a lembrança de que até para infames como vós Jesus Cristo na cruz derramou seu sangue, eu não vos dava nem tempo para capelão. Era agora!” Ele sai. Do lado de fora, a rainha soluça. — “Senhor, o que aconteceu? Mandei esvaziar a praça, estou aqui só! Não ouso entrar e não ouso sair. Não ouso entrar porque vós não me chamastes; não ouso sair porque sou mãe. E se meus filhos estão lá dentro ainda que estejam em estado de cadáveres, meu lugar é lá”. — “Senhora aconteceu pior do que podeis imaginar. Vós pensais que eles estão mortos? É mais triste; eles estão vivos, mas eles pecaram. As suas almas estão mortas, eles cometeram um pecado mortal. Eles desfiguraram em si a dignidade régia, herdada de nós; eles desfiguram em si a sua semelhança espiritual conosco; eles quebraram a imagem nossa neles, eles quebraram até as imagens preciosas que vós mandastes, o esmalte precioso que vós mandastes, que o mandei também. Eles não são dignos que vós os olheis…”. A rainha não ouvi o fim e entrou… Sentou-se, e ao filho acordado, dobrado em prantos, ela abraçou-o: — “Meu filho o seu lugar de qualquer modo é junto ao peito de sua mãe. Venha!”. — “Minha mãe, antes de que vós saibais tudo quanto eu tenho feito, eu não farei pelo menos essa infâmia suprema de colher de vós um carinho que eu não mereço. É preciso que vós saibais que miserável vós abraçareis, para depois vós me dizerdes se me quereis abraçar ou não”. E conta tudo. Como três porcos, os outros ressoam no chão: Gestos desordenados, esgares moles no sono. Felicidade imunda, felicidade à maneira deles, feita de irreal, de moleza, de coisas vãs. Palavras desconexas pronunciadas com voz pastosa. Não entendem nada. A mãe olha para aquilo e diz: — “Mas, meu filho, pelo menos está arrependido?” O filho: — “Estou! Vós não merecíeis o que eu fiz…” Ela diz: — “Não, não me basta! Fazer a mim? É pouco! Tu te dás conta, tu tens tristeza de teres rebaixado em ti a dignidade de filho do rei? Meu pobre miserável que és meu filho, eu não te ensinei que é muito mais do que filho de rei, ser filho de Deus? Eu não te ensinei que foste criado à imagem e semelhança de Deus? Que és, portanto, tu, uma imagem e uma semelhança de Deus? Tu valias muito mais do que esses esmaltes e essas preciosas. As graças que estavam na tua alma eram pedras preciosas espirituais e sobrenaturais, postas por Deus em ti. O que fizeste de tudo isso? Pobre filho miserável, tu vendeste por um prazer [infame]. Olha para os teus irmãos! Tu és a imagem deste sono imundo, agora. E tu carregas fervendo dentro de ti o desejo das coisas asquerosas às quais cedeste, afinal. Ainda tiveste a suprema ventura, dentro do teu crime, de poder presenciar o que fizeste na imagem degradada de teus irmãos. Miserável! A mim… ofender a mim? Eu sou uma criatura como tu. Tu ofendeste a Deus três vezes santo e imortal, que paira nos céus adorado por todos os Anjos e por todos os santos, por toda a eternidade. A quem a Santa Igreja proclama e venera por todo o orbe da terra e fará até ao fim do mundo. A esse Deus que tu ofendeste e tu lamentas de ter-me ofendido a mim? É o caso de lamentar, mas é porque eu represento junto a ti, Deus. O grande mal é que tu deformaste em ti tudo quanto Deus pôs, miserável, e tu te tornaste horrendo como a serpente que diante de ti apareceu. Ó horror, que tu és filho meu; ó horror…” E se olham. O pobre tarado vê aquele olhar puro, elevado, digno que pousa nele, com horror. E que tem para com ele uma rejeição quase completa. Ele está que não cabe em si de vergonha. A mãe lhe pergunta: — “Sabes que é duro o caminho da reabilitação? Sabes, miserável, que terás que oferecer muito para te desprenderes desse vício? Sabes que sofrerás muito mais para sair do vício do que sofrias antes de entrar no vício? E que tu entrastes no vício, antes, sofrias uma coisa assim [dá uma medida] e para sair tu sofrerás isto? Agora eu exijo de ti de ti o perdão sacramental, que peças ao padre que venha. E ao mesmo tempo que faças o firme propósito de nunca repetir o que foi feito e em terceiro lugar que aceites como penitência os sofrimentos inenarráveis que tua reabilitação pede”. — Ah, mãe: se pelo menos vós dissésseis que Deus me perdoa depois de ter aceito de fazer isto. A mãe [lhe diz]: — “Filho, isso a mãe não pode dizer. Di-lo o padre, confessa-te a ele, eu me retiro”. Longa confissão. Afinal, o sacerdote sai. Um sacerdote idoso, capuchinho, longas barbas brancas, fisionomia austera. Sai com a cara compungida e recolhida. A mãe não pergunta nada. Do lado de fora, o rei de espada na mão passeia impaciente. A mãe entra, o filho diz-lhe: — “Minha mãe, eu já pedi perdão a Deus. Peço-o a vós. Mas uni-vos a mim, para juntos pedirmos perdão a Deus”. Rezam juntos e diz a mãe: — “Bem, mas agora, tu terás que pedir perdão ao teu pai. Eu vou prepará-lo, porque senão ele te mata. Ele é rei e nas mãos dele está o extremo poder judiciário. Não será um assassinato, será um ato de justiça. Se ele o fizer, eu poderia dizer a ele que ele não teve estranhas de pai, mas ele me responderá que teve alma de rei. — “Mãe, é tal minha miséria, eu que no momento me sinto arrependido. E pergunto: não é melhor que o pai me mate? Não é melhor que ele descarregue em mim a justiça dele? Eu vou lá e morro por mim e peço a ele que poupe os meus irmãos. Quando eles acordarem ao menos que lhes seja dada a possibilidade de se arrependerem, e depois a possibilidade de ter a vida pela qual estou imolando a minha”. A mãe diz: “Suba e fale com o seu pai”. De fato, ela sobe atrás dele. Enquanto o filho caminha para o rei, que iracundo está com meia espada tirada da bainha, sem o filho ver, ela faz o rei um sinal. E diante deste gesto da rainha, o rei diz: — “O que eu posso fazer? Eu recebi um gesto diante do qual Deus no céu aplaca a sua cólera – quando a mãe dele faz assim para Ele, todos obtém perdão. Minha esposa fez isso, tua mãe fez isto por ti, e com certeza no céu, aquela tua mãe que é maus tua mãe que ela mesma, a Mãe de Cristo Nosso Senhor fez assim a Jesus Cristo [as mãos postas]. “Meu filho, vem cá. Os braços de teu pai estão abertos! Esta espada eu dou de presente para ti; parte para a guerra contra os infiéis. Se Deus quiser a tua vida como punição, morrerás como um herói, morrerás como um mártir. Teu sangue será digno do meu e ele limpará a terra dos teus próprios pecados. Não tenhas preocupação pelos teus irmãos. Se o mesmo eles fizerem, e do mesmo modo se arrependerem, a minha cólera será a mesma, mas o poder do pedido de perdão de tua mãe não será menor. Para tudo abreviar… – É uma hora da manhã! Para tudo abreviar, dentro de algum tempo estão quatro heróis lutando pela conquista do túmulo de Cristo. Tem horas tremendas! As horas tremendas não são as horas em que eles estão enfrentando os turcos, os maometanos, os árabes, quero eu dizer… não são essas horas, não – são horas em que o vício sobe dentro deles e o delírio da droga toma conta deles de novo. Eles não querem ceder, não querem ceder. E de vez em quando a serpente aparece… e eles lutam, eles recorrem a São Miguel Arcanjo, eles usam o exorcismo e afugentam a Serpente. Entre os primeiros guerreiros que entram no Santo Sepulcro, estão eles. A glória da Cruzada os cobriu. O sangue de mártir é como que o sangue de Cristo – “christianus alter Christos” – os lavou. Aos poucos o vício passou. Quatro grandes heróis são a glória do reino. Os quatro filhos tarados pelos quais em determinado momento uma mãe fez este gesto [mãos postas]! * * * E sta história composta aqui, momento a momento, quase derrapando na contradição – eu ia por uma pintura, mas lembrei-me que a pintura se deteriora num ambiente assim; não podia ser fotografia porque a cena não poderia passar-se no século XIX ou XX, perderia toda a grandeza. Ela teria de ser num tempo heroico, num tempo quase mítico para que ela tivesse a sua verdadeira grandeza. Lembrei-me então dos esmaltes. O esmalte fica. Mas o esmalte de fato começou a aparecer um pouco mais tarde. Mas, enfim, fui compondo a história como era possível. Apenas no que ela tem de essencial é aquilo que é a história do pecador. A terra é um lugar de dor e de expiação. E para todos nós, de todas as idades, e todas as circunstâncias, ela é uma masmorra. A vida é uma vida dura, ainda para os que queiram levar vida mole – e sobretudo para os que queiram levar vida mole – a vida é uma vida dura. É uma ilusão que haja uma idade na terra em que a vida não seja dura. Eu quando era menino, quando tinha a idade de tantos “enjolras” que estão aqui, eu via alguns velhos bem instalados na vida, e que balançando assim na cadeira tinham entrado pelos 60 ou 70 anos adentro. Eu pensava: “quem sabe se na velhice a vida é melhor porque é mais sossegada, a gente pode ficar se balançando e enchendo o tempo. Já não há mais as batalhas do centro da vida, já está tudo feito, é só esperar o céu na paz da alma”. Não é verdade, até ao último instante o homem tem batalhas, o homem luta, o homem tem problemas. O resto é uma conversa fiada. É também bem verdade que não é só a maconha que perde o homem; a impureza perde o homem, e quantas e quantas vezes. E quando não é impureza, é o orgulho, é a vaidade, é a vontade de ser mais do que os outros. Como perde o homem! Tomem um homem que está desanimado, ele é um aluno que se julgava muito inteligente – quanta gente se julga muito inteligente! Os srs. sabem que não falta gente que não se julga muito inteligente – os senhores me permitam dizer essa banalidade, que na jovem idade, dos mais moços dentre os senhores, os senhores já conhecem, o número de pessoas que se imagina inteligente é bem maior do que o número de pessoas que, de fato, são inteligentes. Ele julgou que ele podia estudar pouco, porque era muito inteligente, dar uma vista de olhos no livro e fazer o exame. De fato, deu a vista de olhos no livro, mas ele não era muito inteligente. Foi fazer exame e tomou uma bomba espetacular. Está abatido. Ele ouviu um colega dizer: – “O fulano, você viu a nota que ele teve?” O outro diz: “Coitado. Mas não fale mal, ele é burro, não tem culpa…”. E esse que disse isso dele, é um primo e amigo dele. Quer dizer, não foi dito de má vontade. Os simpáticos a ele notam que ele é burro. Então não só ele foi reprovado no exame do professor, mas ela reprovado no exame da vida. Não funciona, dá pouco, é pobre… o que fazer? ai, ai, ai… Chega em casa e entra pelos fundos para a mãe não o ver, para não ter que contar o pai qual foi o resultado do exame, que está escrito na cara comprida. Certamente, ele não vai dizer nem para o pai nem para a mãe que o primo achou que ele era burro, porque o pai e mãe vão protestar pouco, para ele ir se habituando à ideia de que ele é burro mesmo. Nesta hora o rapaz que era ao menos casto, ouve uma risada a feminina que passa pela calçada. É a filha do vizinho. A serpente… pssit: “se ao menos você abrisse essas venezianas e puxasse uma prosinha com ela”. Abre, e ela diz: “Porque você não vai passear comigo?” Espera um pouco, ele foge. Chega tarde da noite, a alma dela está em pandarecos e a alma dele está em pandarecos também. Os dois pecaram. Ele quebrou em si – e ela também – a imagem do rei e da rainha, a imagem de Deus, a imagem de Nossa Senhora que eles tinham na sua pureza. Pela maconha da impureza eles fizeram isto. E agora o que fazer? Como esta história é parecida, esse essencial, com este que eu acabo de contar. E se não fosse a Rainha no Céu fazer isto [juntar as mãos e pedir] e dizer: — “Meu filho, tende piedade dele, Vós que sois o redentor de gênero humano” – o que restava para esse menino e para essa menina? O inferno! Um automóvel podia passar por cima deles, estavam liquidados. Mas… duas mãos se ergueram… e quanto essas mãos se ergueram não resta nada, o céu se abre, desde que haja um arrependimento sincero. Nossa Senhora quando pede perdão por nós, Ela nos obtém a graça de nos arrependemos. Sem a graça não nos arrependemos. Mas Ela nos obtém a graça de cairmos em nós: qual é o horror que fizemos. Depois, de outro lado, Nossa Senhora além dessa atitude, obtém para nós o desejo da penitência, de sofrer uma dor que arranque de nós o gozo que nós tivemos e ao qual nós não tínhamos direito; aquele gozo é roubado, estava fora dos planos de Deus. Temos que sofrer algo que raspe de dentro de nós esse gozo imundo e que substitua pela penitência austera, varonil, séria! O perdão… O perdão, às vezes tão grande, que na alegria do perdão Deus dá mais do que tinha dado no tempo da inocência. Aí, os senhores estão entendendo bem o que é o pecado: o que é o pecado mortal, que mal ele traz; qual é o papel Nossa Senhora na obtenção de nosso perdão e sempre, sempre, sempre, que nós tivermos desgostosos com nossa alma, lembremo-nos que é tão simples, é só nos voltamos para Ela e dizer: “Mãe de Misericórdia, fazei assim para nós [juntai as mãos] e teremos tudo perdoado. Dai-nos a graça de nos arrependermos; dai-nos a graça de fazer penitência; dai-nos sobretudo a graça do firme propósito de nunca mais pecarmos, ó Mãe. Vos podeis tudo. Vos podeis, como diz a Bíblia, a vossa oração pode transformar as pedras em filhos de Abraão. Eu era filho de Abraão, filho da Igreja e transformei-me em pedra pelo meu pecado. Minha mãe, mas eu sou uma pedra que ainda reza. Transformai esta vil pedra num filho de Abraão, num filho vosso, ó mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa!” E [assim] tendes numa história um tanto longa, exposto em linhas gerais, o tema que vós desejáveis. Com isso, a nossa reunião está terminada. “Fugit irreparabile tempus!”… [Fatinho] Fernando… maldoso Fernando! (Sr. F.A.: Como foi que a Senhora Dona Lucilia ensinou ao senhor o catecismo? E contar o que é que se lembra do que ela contou para o senhor sobre o pecado?) Minha memória sempre foi má, desde a infância. O que estou me lembrando no momento ela me ensinar a respeito do pecado, mas de um movo vivo. É quando eu fazia uma coisa que eu não devia, e que ela me chamava para as contas. Eu já contei aos senhores… (Não). Mas se os senhores repetem pela quinta vez a mesma pergunta, ou eu invento a coisa como não foi – não posso – ou dou a mesma resposta. Que remédio eu tenho? Quando eu fazia uma coisa que eu não devia fazer, eu sabia que tinha que ajustar contas. Estava estudando ou brincando no jardim com minha irmã, meus primos etc., e recebia, de repente, um recado. O recado, em geral, era transmitido pela Fräulein: – “Plinio, deine Mutter will mit der sprechen”. Tua mãe quer falar contigo! Naturalmente, a Fräulein conhecia o meu crime e dizia com um tom policial. Para mim era um choque, porque menino otimista, mole e idiota, eu tinha sempre a esperança de que, no final, ela não chamasse. Embora não tivesse um exemplo de que eu não fizesse uma coisa malfeita e que ela não chamasse. Mas ficava com aquela esperança… “Mutter will mit der sprechen” Suba! Não há conversa! Eu subia. Lembro-me que subia de dois em dois os degraus de uma escadaria de mármore que tinha do lado de fora da casa, entrava e falava com ela. Em geral, ela estava no quarto dela, ela tinha um apartamento na casa de minha avó, ela dormia no quarto mais do fundo desse apartamento, onde havia ruído, não havia barulho, era bem batido de sol e, enfim, oferecia condições mais convenientes para ela. Era lá o quarto de dormir dela e de meu pai. E tinha um sofá aonde ela se recostava, em geral, quando tinha algum desgosto ou estava passando mal. Ela me recebia deitada no sofá. Eu entrava e ficava diante dela. Ela em geral estava recostada no sofá com a não assim no rosto [como na fotografia de Paris, sentada no banco]. Me olhando, com um olhar – ela tinha olhos de marrom-escuros, que ficavam quase pretos nessa hora. Ela me olhava muito séria. E eu dizia: — “Mamãe (nada de “meu bem”, nem nada, “querida”, “mãezinha”), mamãe, a senhora quer falar comigo?” — “Chegue aqui perto…” Eu chegava muito bem perto dela e ela dizia-me: — “Meu filho, você fez tal coisa assim?” Mas olhando para mim. Você fez tal coisa assim? E com tal agravante e tal coisa… – as atenuantes não figuravam nunca; e fazia muito bem, porque as atenuantes aguam a lembrança das agravantes – e tal outra?… Eu dizia: — “Sim, senhora!” Mas ela dizia com tanta profundidade e com tanta seriedade, mas ao mesmo tempo com algo de tão aveludado nela, que eu me aproximava dela a ponto de me encostar-me nela. Ela dizia: — “Você sabe que fez muito mal?” Eu ficava quieto. Aí vinha a explicação dela: — “Porque olhe: há este lado assim, outro lado, aquele outro lado, etc., etc…. e depois cometeu pecado, porque tem isto, tem aquilo, etc”. Eu ficava assim quieto. Ela me dizia: — “Você arrepende-se?” Eu dizia: — “Sim senhora, me arrependo!” Ela dizia: — “Então, agora, você precisa pedir perdão a mamãe”. Eu jogava [para ela], abraçava e beijava. Ela me beijava também. Muito afetuosamente, mas sem a efusão dos dias de alegria. Eu sentia que eu estava osculando uma mãe que estava triste. Aí eu pedia a benção a ela. Ela me dava a bênção. E depois de me ter dito palavras de religião etc., etc., ela me libertava. A gente saía tão enlevado com ela, tão contente de ela ser como é, que eu saía resolvido a seu como eu não era, e a me emendar daquele defeito, daquela coisa. Em geral, era alguma mentira em que eu tinha sido apanhado. Tinha feito uma coisa qualquer, vamos dizer, era proibido pisar no canteiro do jardim, nos lugares ainda não havia grama, estava apenas a terra… encontravam ali um pelão marcado. Não podia ser nem de minha prima nem de minha irmã, que eram meninas, com o pé muito menor. Em casa não havia menino a não ser eu. E que aquele pelão só podia ser meu… Estava assinado o delito. Isto pensava. E perguntado: “Você andou pelo jardim?” Eu me lembrava que tinha lá posto o pé. E dizia: “não!” Aí estava configurado o delito: menti! – “Plínio, Mutter will mit sprechen!” Então, à vezes, quando ela já me chamava, eu estava mais velhinho um pouco eu já ia com a esperança do pito, porque o pinto me deixava triste, mas era tal a admiração com que eu saía dela [que saía] querendo-a mais bem ainda. Eu saía ofegante de admiração e de carinho para com ela. Meus caros, agora… |
Fonte: https://pliniocorreadeoliveira.info/Mult_850222_apologo_inocencia_pecado.htm#.YJmzqLVKiMo
(*) Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito: “Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.