No último quartel do século XIV, vivia em Roccaporena, bispado de Espoleto, na Úmbria, Itália, um casal modelar que tinha um dom especial de recompor as discórdias e os mal-entendidos, de tal modo que eram conhecidos como “os pacificadores de Jesus Cristo”. Seus nomes não ficaram registrados na História. Entretanto, uma grande tristeza toldava-lhes a alma, pois não tinham filhos. Apesar de já estarem avançados em anos, continuavam rogando aos céus para que lhes desse um herdeiro. Essa fé inabalável foi agradável a Deus, que atendeu ao pedido, renovando em favor desse casal o mesmo milagre que já havia operado outrora com Santana e Santa Isabel. Mais ainda: um anjo apareceu à feliz futura mãe, comunicando-lhe que daria à luz a uma filha, que seria muito amada de Deus e estimada pelos homens por sua eminente virtude.

Conta-se que, quando a recém-nascida – a quem deram o nome de Margarida, Margherita, em italiano, donde vem o Rita pelo qual ficou universalmente conhecida –estava no berço, um enxame de abelhas brancas como a neve girava em torno de seus lábios, como se fossem flores das mais perfumadas.

Com todos os sinais de predestinação, a infância e adolescência de Rita só poderiam ser de uma inteira conformidade com a vontade de Deus.

Aos 12 anos Rita, que já era uma adolescente de coração nobre, generoso e compassivo, e de entendimento vivo, sólido, penetrante e perspicaz, resolveu fazer voto de virgindade. Mas seus pais, embora virtuosos, tinham olhares mais mundanos. Temendo que eles logo faltassem e deixassem só essa filha tão longamente desejada, resolveram casá-la com um muito bom partido.

Rita relutou muito em aceitar isso que iria contra seus mais profundos desejos, mas foi inspirada pelo Senhor a submeter-se à vontade dos pais, pois Deus queria que ela se santificasse em todos os estados de vida. Portanto, também no de casada.

         Ora, o esposo escolhido para Rita foi Paulo Ferdinando, nobre, rico, poderoso, mas de um gênio insuportável, irascível, e sobretudo incontinente. Apesar da jovem esposa procurar fazer-lhe sempre a vontade e o tratar com a mais extrema docilidade, ele a maltratava com palavras e mesmo fisicamente.

Rita tudo suportava com espírito sobrenatural, sendo assistida em suas angústias pelos três Santos de que era mais devota: São João Batista, Santo Agostinho, e São Nicolau de Tolentino. Eles a incentivavam a carregar com paciência sua cruz, oferecendo tudo pela conversão do marido.

O martírio de Rita durou 12 anos. Tocado enfim pela tão heróica virtude que via em sua esposa, Paulo começou a mudar. De colérico, altivo, soberbo e dissoluto, passou a ser modesto, humilde, casto e virtuoso.

         Agradecendo muito a Deus, Rita esforçou-se então para incentivar o marido e os dois filhos que a Providência lhe dera, a progredirem na senda da virtude.

         Entretanto, não há felicidade completa nesta terra. Um dia Paulo Ferdinando foi assassinado por inimigos políticos a quem ele, outrora, havia ofendido. Foi um choque tremendo para Rita, que procurou por boas obras, orações e obras meritórias, sufragar a alma do marido.

         Como viúva, Rita foi também um modelo, como o fora como virgem, esposa e mãe. Dedicou-se de corpo e alma aos seus dois filhos, suplicando-lhes continuamente que perdoassem os assassinos do pai, e que não procurassem vingança.

         Mas eles, logo após a adolescência, juraram vingar o horrendo crime. De nada valeram os pedidos e as lágrimas da mãe. Esta então tomou uma resolução heróica: pediu a Deus que, se eles persistissem nesse intento e fossem ofendê-Lo com esse pecado, que lhes tirasse a vida. E foi ouvida. Um após o outro, os dois filhos morreram com todos os auxílios da religião, perdoando os assassinos.

Desfeitos todos os laços que a prendiam à terra, Rita podia agora realizar seu sonho primeiro de consagrar-se inteiramente a Deus em um convento. Procurou o de Santa Maria Madalena, da Ordem de Santo Agostinho, seu patrono, e pediu admissão. Mas esta casa religiosa não recebia viúvas. Ela insistiu mais duas vezes, e nas duas foi recusada.

Entretanto, num dia em que ela rezava fervorosamente em sua casa, ouviu umas batidas na porta. Eram seus protetores, São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino, que lhe disseram: “Vem, já é tempo de que entres no mosteiro no qual foste tantas vezes recusada”.

Transportando-a pelos ares, fizeram-na entrar no convento do qual todas as portas e janelas estavam fechadas. As freiras, diante desse milagre, viram que era vontade de Deus que Rita fosse uma delas. E a receberam de todo o coração.

Rita começou sua vida religiosa como a mais fervorosa das noviças. Embora procurando fugir de toda singularidade, cumpria eximiamente todos os pontos da regra.

         Para provar sua obediência, a Superiora mandou que regasse todos os dias um tronco seco de videira. Com a maior simplicidade a Irmã Rita desincumbia-se da tarefa, até que um dia, milagrosamente, o tronco brotou, e dele nasceu a parreira que até nossos dias se pode ver no convento de Cássia. As religiosas enviavam cachos dessa parreira ao Santo Padre.

Ocorreu então que um dia, ouvindo um sermão de São Tiago das Marcas sobre a coroação de espinhos, a santa sentiu tal compunção, que pediu a Nosso Senhor a graça de participar, pelo menos de algum modo, desse divino mistério. No mesmo instante sentiu uma violenta dor na cabeça, como se esta fosse pressionada por espinhos. E viu sair do crucifixo diante do qual rezava um raio de luz dirigido à sua testa, sentindo nela penetrar um agudo espinho. Este provocou tão repugnante chaga, que exalava mau odor, e dela saíam mesmo vermes que escorriam pela face da Santa.

         Isso fez com que Rita vivesse os últimos 15 anos de sua vida isolada das outras irmãs, e mais entregue à contemplação. Só uma vez desapareceu milagrosamente essa chaga: Foi quando ela quis ir à Roma com as outras irmãs, para ganhar um jubileu, e sua Superiora não quis permitir por causa do mau odor que desprendia sua chaga. Ela rezou, e a chaga fechou-se sem deixar mesmo cicatriz. Rita foi à Roma, mas logo que voltou ao seu convento, a chaga reabriu-se e permaneceu até sua morte.

Nos últimos quatro anos de vida ela padeceu dolorosa enfermidade,  durante a qual demonstrou, em meio às dores, uma tranqüilidade e uma paciência inalteráveis. Rita entregou sua alma a Deus no dia 22 de maio de 1456. Pode-se dizer que então começou sua post-vida.

         Pois, imediatamente depois de sua morte, os sinos de todas as igrejas de Cássia começaram a tocar por si mesmos, enquanto uma fragrância sobrenatural invadiu todo o convento. Seu corpo parecia rejuvenescido, e sua face brilhava. A chaga de sua testa, tão repugnante antes, emitia raios como se fosse uma estrela.

Outro milagre foi a conservação de seu corpo até nossos dias. Até pelo menos o início do século XX – passados portanto mais de quatro séculos de sua morte – no dia de sua festa, o corpo da Santa se levantava do fundo do relicário onde está, até a superfície da grade do coro das religiosas. Notou-se também que de tempos em tempos, o corpo da Santa muda de posição. Por exemplo, em 1926, sua face, que estava voltada para aqueles que a ela rezavam; moveu-se depois, passando a olhar para o céu. Santa Rita, considerada a “Padroeira dos Impossíveis”, tornou-se uma das santas mais veneradas no mundo católico.

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