Antônio Maria nasceu em Cremona, na Itália, em 1502, numa família abastada. Seu pai faleceu quando ele ainda estava no berço, e sua mãe, viúva aos 18 anos, dedicou-se inteiramente ao filho, e o educou no santo temor de Deus. Muito esmoler, desde cedo ela encarregava o menino de distribuir entre os pobres as esmolas que fazia.
Ajoelhado ao seu lado, o pequeno Antônio fazia as orações da manhã e da noite. À medida que crescia, o menino começou a fazer outras orações por sua conta, retirando-se para um canto da casa onde havia uma imagem da bem-aventurada Virgem Maria.
Iniciando seus estudos, sobressaiu-se pela inteligência precoce, assiduidade, e sobretudo pela pureza de costumes. Terminando o secundário em Cremona, Antônio Maria foi para Pavia para o curso colegial. Em 1520 mudou-se para Pádua para estudar medicina. Se bem que sozinho nessa cidade estudantil, soube conservar sua inocência pela freqüência aos Sacramentos e prática da mortificação. Aos 22 anos, em 1524, graduando-se em medicina, voltou à cidade natal para exercer a profissão.
Entretanto, o novo médico preocupava-se mais com a alma do que com o corpo dos seus pacientes. Na igrejinha de São Vital, perto de sua casa, reunia as crianças para ensinar-lhes o catecismo. Aos pais, que começaram também a afluir, esse médico dos corpos e das almas fazia homilias simples e impressionantes sobre as verdades da fé, criava diálogos engenhosos e convincentes sobre essas mesmas verdades, tornando assim acessível àquela gente simples os rudimentos da religião.
Em Cremona Santo Antônio Maria teve como guia espiritual o dominicano Frei Batista de Crema, que também tinha exercido grande influencia sobre São Caetano de Tiene. É curioso que foi só então que se manifestou nele a vocação religiosa. Completando os estudos eclesiásticos, foi ordenado sacerdote aos 26 anos.
Quando celebrou a santa missa pela primeira vez em Cremona, os fiéis o viram circundado por uma luz celeste e por uma multidão de anjos, que assistiam respeitosamente ao augusto sacrifício. O fato empolgou os habitantes da cidade, crescendo ainda mais a reputação de santidade do Pe. Antônio, o que contribuiu para angariar-lhe o epíteto de Homem Angélico, ou Anjo de Deus,que passaram a dar-lhe desde então.
Tomando São Paulo como modelo, ele quis também ser “tudo para todos”, e assim conquistar para Cristo as almas. Porém, querendo ainda mais se aprofundar no estudo da santa Religião, todo o tempo que lhe sobrava do exercício do ministério pastoral e da oração, era dedicado ao estudo da teologia.
Entretanto, sua arma predileta era a pregação. Deus lhe deu um talento especial para o ministério da palavra, e o dom de penetrar nas almas. Por causa do tipo de guerras e dissensões intestinas próprio daqueles tempos, Cremona estava num estado de decadência muito acentuado, tanto moral quanto espiritualmente. Certamente menor do que em nossa época, mas muito grande.
Não era só Cremona, como diz o Pe.Giry, (Vies des Saints): “Nessa época o relaxamento da disciplina e as graves desordens que ele traz consigo, tinham se introduzido no clero e nos claustros. Daí a ignorância, a superstição, e a licença de costumes no povo, que não tinha senão desprezo por esses pastores infiéis, quando não se serviam de seus escândalos públicos para justificar sua conduta e dar um ar de conveniência e de honestidade à sua própria corrupção”. Isso era generalizado em todo o norte da Itália, onde os exércitos mercenários protestantes, mostrando desprezo pela verdadeira religião, contagiavam o povo com seu mau exemplo. A par disso, a fome e a praga seguiam de perto o passo dos soldados, o que tornava mais lamentável a situação.
Para enfrentar esse quadro desolador, o Pe. Antônio Maria concebeu a idéia de instituir uma congregação de sacerdotes para a reforma dos costumes. Seus membros deveriam se distinguir pela humildade, pobreza de espírito, abnegação de si mesmos, e pela prática da oração.
Ora, tal plano visava um campo maior que Cremona. Por isso mudou-se para a grande e populosa Milão. Lá encontrou dois sacerdotes de uma Confraternidade da Sabedoria Eterna, Tiago Morigia e Batolomeu Ferrari, que logo se prontificaram a formar uma sociedade de sacerdotes os quais, embora seguissem uma regra e fizessem votos, não constituíam uma Ordem religiosa, tendo assim mais liberdade para se dedicarem à pregação, segundo as intenções de Santo Antônio Zaccaria. Surgiu então a Congregação dos Clérigos Regulares de São Paulo, também conhecida por Barnabitas porque sua casa-mãe foi primeiro na igreja de São Barnabé, em Milão.
Por outro lado, desde 1530 a condessa de Guastalla, Luísa Torelli, tinha reunido em Milão um grupo de senhoras e jovens para se dedicar às boas obras, numa vida simples e penitente. Elas se prontificaram a ajudar Santo Antônio Maria na reforma religiosa que ele havia empreendido para se opor à maléfica pseudo-reforma de Lutero. O que resultou no Instituto das Angélicas de São Paulo, que se tornou de grande ajuda à atuação de Santo Antônio Maria Zaccaria.
Vendo o bem que a nova Congregação realizava, o cardeal Nicolau Ridolfi, que administrava a diocese de Vicenza, pediu a Santo Antônio Maria que fosse à sua cidade com alguns dos seus melhores auxiliares, a fim de ajudá-lo na reforma de dois conventos de religiosas que lhe causavam muita preocupação. Santo Antônio levou consigo alguns sacerdotes e Angélicas para lá, e graças à muita oração, exortações e esforços perseverantes, além do grande auxílio das Angélicas, o santo conseguiu a muito custo mudar completamente essas ovelhas tresmalhadas. Para perseverarem no propósito de reforma que tinham feito, ele as pôs sob a direção das Angélicas.
Mas o zelo de Santo Antônio não se limitou aos conventos. Pregou também na sociedade civil, estabelecendo em Vicenza todos os exercícios de piedade que havia introduzido em Milão, principalmente as conferências espirituais, que contribuíram para o reafervoramento de muitos fiéis, levando-os a uma exímia prática da piedade.
Uma das práticas que mais falava ao coração do santo era a das Quarenta Horas. Dizem alguns que foi ele próprio quem instituiu essa prática. Entretanto, de alguma forma ela já era conhecida desde a Idade Média.
Tendo vivido apenas 36 anos, Santo Antônio Maria Zaccaria faleceu no dia 5 de julho de 1539, sendo seu corpo encontrado incorrupto 27 anos depois. Dele diz o Martirológio Romano neste dia: “Em Cremona, na Lombardia, Santo Antônio Maria Zaccaria, confessor, fundador dos Clérigos Regrantes de São Paulo e das Virgens Angélicas; insigne pela prática de todas as virtudes e pelos seus milagres; inscrito entre os santos pelo papa Leão XIII. O corpo é venerado em Milão, na igreja de São Barnabé”.