ANCHIETA — moção especial em homenagem ao Apóstolo do Brasil

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Anchieta, pintura de Oscar Pereira da Silva

Neste dia 9 de junho celebramos São José de Anchieta e em sua memória aqui reproduzimos o discurso de Plinio Corrêa de Oliveira na Assembleia Constituinte de 1934, por ocasião da passagem dos 400 anos do nascimento de Anchieta.

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Em 19 de março de 1934 a Assembleia Constituinte estava em plena atividade. Jovem deputado de 24 anos, eleito pela Liga Eleitoral Católica, Plinio Corrêa de Oliveira encaminhou à votação do plenário uma moção especial em homenagem ao Apóstolo do Brasil. Em sessão realizada nesse mesmo dia, o líder católico paulista proferiu caloroso discurso em louvor de Anchieta, que reproduzimos a seguir.

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[Transcrição dos anais da Assembleia Nacional Constituinte, vol. 15, pp. 516 a 519]

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Requerimento n° 1 — Refletindo o sentimento unânime da população paulista, que reconhecendo embora em Anchieta um motivo de legítima ufania para todo o Brasil, sente-se, no entanto, ligado a ele de um modo particular pelo glorioso papel que teve na fundação de São Paulo;

  • Considerando que, no dia 19 de março, o povo brasileiro, justamente empolgado, comemorará o IV Centenário Anchietano com celebrações entusiásticas, altamente expressivas da admiração que vota ao Apóstolo do Novo Mundo;
  • Considerando que, a essas comemorações, já se associou o Governo Provisório, declarando feriado nacional o dia 19 de março próximo;
  • Considerando que a Assembleia Constituinte, por sua vez, não pode deixar de render o preito de sua admiração aos méritos e serviços do Padre José de Anchieta, que estão indelevelmente inscritos na gratidão de todos os corações brasileiros:
  • Requeremos que, na Ata dos trabalhos de hoje, a Assembleia Constituinte consigne o profundo reconhecimento da Nação Brasileira àquele que lhe dedicou todos os tesouros de sua virtude invencível e de seu engenho fecundo, elevando nossa História, logo nas suas primeiras páginas, a um grau de beleza que nenhuma outra nação, mesmo entre as mais famosas e antigas, se pode gabar de haver superado.
Anchieta, pintura de Benedito Calixto

Sala das Sessões, 17 de março de 1934

Plinio Corrêa de Oliveira, Alcântara Machado, Cincinato Braga, José Carlos de Macedo Soares, Oscar Rodrigues Alves, Th. Monteiro de Barros Filho, Roberto Simonsen, Almeida Camargo, A.C. Pacheco e Silva, Ranulpho Pinheiro Lima, Alexandre Siciliano Jr., Carlota de Queiroz, M. Whantelly, Henrique Bayma, Cardoso de Mello Neto, A. Hippolyto do Rego, Abreu Sodré, José Ulpiano, Barros Penteado, A. Moraes Andrade.

— O Sr. Plinio Corrêa de Oliveira – Peço a palavra.

— O Sr. Presidente – Tem a palavra, para encaminhar a votação o nobre Deputado.

— O Sr. Plinio Corrêa de Oliveira (Para encaminhar a votação) lê o seguinte discurso:

         Sr. Presidente. Tendo eu recebido, da bancada a que me honro de pertencer, a incumbência de, em breves palavras, para encaminhar a votação, salientar, perante esta Augusta Assembleia, a oportunidade e a inteira procedência de uma homenagem especial a Anchieta, assaltou-me a persuasão angustiante da inviabilidade da tarefa para que fora destacado.

Realmente, louvar virtudes às quais o povo brasileiro vota uma admiração que já hoje alcançou o seu apogeu; engrandecer feitos que têm em si mesmos, e nos resultados que produziram, a maior das glorificações, de tal forma que se torna fraca a voz da maior eloquência, diante de fatos que elevam seu louvor acima de qualquer elogio; não será isto temeridade, principalmente no seio de uma Assembleia em que tantos espíritos de escol já têm aplicado seu talento em celebrar Anchieta em obras de um valor incontestável?

E, involuntariamente, aflorou-me ao espírito a pergunta que o Apóstolo do Novo Mundo colocou na introdução do poema que escreveu na areia branca do litoral paulista: “Eloquar? an sileam sanctissima Mater Iesu?”

Ele soube encontrar acentos próprios para louvar a mais elevada das criaturas, Aquela que, cantada pelos profetas já antes de seu nascimento, viu-se chamar bem-aventurada por todas as gerações que lhe sucederam.

Deverei também eu procurar palavras novas para celebrar aquele que, na grandeza de suas virtudes e na força de seu gênio, parece uma bênção viva d’Aquela a quem, com tanto amor, ele cantou?

Não, o louvor só é necessário quando o esquecimento começa a cobrir com seu musgo uma memória gloriosa, ou quando a calúnia cobre de lama uma reputação imaculada.

Nem o esquecimento nem a calúnia empanam o brilho da glória de Anchieta, que é hoje o sol que fulgura no zênite da História Brasileira.

Seu vulto se ergue nas cabeceiras de nossa História, presidindo à formação da nacionalidade, com seu vigor de herói, e com sua virtude de santo.

As figuras congêneres, que vemos na nascente de um grande número de nações famosas, brilham em geral, num ardor agressivo de heróis selvagens e implacáveis, conquistando a celebridade ora em guerras justas, ora em inqualificáveis rapinas.

Sua existência é discutida, e suas grandezas são fantasias tecidas pelo orgulho nacionalista, que se dissipam inteiramente pelo estudo imparcial da História. E isto desde Rômulo até Guilherme Tell.

Anchieta, pelo contrário, entrou para a História em um carro de triunfo que não era puxado por prisioneiros e vencidos, e nem a dor figurou no seu cortejo, nem os hinos de guerra celebraram seu triunfo e nem as armaduras foram seu paramento.

— O Sr. Arruda Falcão – O vulto insigne de Anchieta se renova cada vez maior em todas as etapas de nossa história.

— O Sr. Plinio Corrêa de Oliveira – Serviu-lhe de traje a túnica branca de sua inocência imaculada.

Constitui-lhe o cortejo pacífico uma raça que arrancara da vida selvagem, e defendera contra o cativeiro, e uma Nação inteira, que ajudara a construir para a maior glória de Deus, abrandando o rancor dos homens e das feras, na realização da promessa evangélica: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra”.

Mas eu disse mal, Sr. Presidente, quando afirmei que a dor não figurara no seu cortejo triunfal: era ela o nimbo que o aureolava. Era a dor cristã do pelicano, que enche de amargura ao mártir e ao Santo, mas banha em suavidade quantos dele se acercam.

Ele passara sua vida a distribuir rosas… E os espinhos, guardara-os para si, nas labutas do apostolado.

Em Anchieta, “vas electionis”, brotara uma flor de virtude, e esta flor, ele a semeou por todo o Brasil: é a mansidão suave ligada à energia serena mas inexorável, que é o eixo de nossa alma.

Em seu livro sobre Anchieta, refere Celso Vieira, na Ilha das Canárias há um monte de cujo cume o excursionista pode contemplar, graças a um curioso fenômeno visual, sua figura, projetada em sete cores sobre o céu, numa visão magnífica de glória.

Anchieta é vulto culminante de nossa História. E o fenômeno visual que Celso Vieira descreve outra coisa não é senão o símbolo grandioso do seu destino, e da Nação que haveria de fundar.

No momento presente, o Brasil atingiu, no seu roteiro histórico, uma culminância de onde se divisam, ao mesmo tempo, sendas tortuosas que conduzem para vales sombrios e caminhos luminosos para novas escaladas.

Convém, pois, que, nesta hora de tremendas responsabilidades, retemperemos a fibra na contemplação reconhecida, do maior vulto de nosso passado, e que, desviando nossos olhares dos abismos que nos solicitam, olhemos para o alto num gesto de confiança em Deus, antevendo, projetada em sete cores sobre o céu do futuro, a nossa Pátria engrandecida pela plena realização de sua missão histórica providencial (Muito bem; muito bem. Palmas. O orador é cumprimentado).

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Em seguida, é aprovado o requerimento número 1, do Sr. Plinio Corrêa de Oliveira e outros. (Anais da Assembleia Nacional Constituinte, vol. 15, pp. 516 a 519).

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