Este Doutor da Igreja nasceu por volta do ano de 354 em Antioquia, filho de Segundo, principal comandante das tropas do Império do Oriente. Sua mãe, Antusa, ficando viúva aos vinte anos, não quis contrair segundas núpcias para dedicar-se inteiramente à educação de seus dois filhos e às boas obras. Grande exemplo para nosso século tão sensual e amante dos prazeres.
Adolescente, João completou sua educação com o célebre filósofo Libânio. O progresso do aluno, cuja privilegiada inteligência começava já a brilhar, fez o mestre, estando às portas da morte, exclamar: “Eu teria deixado esse rapaz à frente de minha escola, mas os cristãos m’o tomaram”.
Entretanto João era ainda pagão quando iniciou sua vida de orador no Fórum. A elevação de sua linguagem, a força de suas expressões, a beleza de seu discurso levaram seus conterrâneos a compará-lo a Demóstenes, o famoso orador grego da Antiguidade.
Aos 25 anos, quando sua fama já se firmara no Tribunal, por influência do amigo Basílio – o futuro São Basílio Magno –, converteu-se ao cristianismo: “Esse bem-aventurado servidor de Jesus Cristo resolveu abraçar a verdadeira filosofia do Evangelho, a vida monástica. Então, o equilíbrio entre nós dois foi inteiramente rompido. O prato de sua balança elevou-se ligeiro para o céu; o prato da minha, todo carregado de paixões mundanas e dos ardores da juventude, recaía pesadamente para a terra” diz Basílio.
João recebeu o batismo das mãos de São Melécio, bispo de Antioquia. Após sua conversão, ele dedicou-se primeiro à vida eremítica, e depois recebeu o sacerdócio das mãos de São Flaviano. Tornado clérigo João, a quem já chamavam de Crisóstomo (Boca de Ouro), renunciou completamente fazer carreira no mundo, e começou o árduo trabalho de vencer o império de suas paixões. Para combater a vanglória, começou a praticar a humildade. Para ter domínio sobre si, passou a domar seu corpo, limitando o sono de três a quatro horas, e a alimentação a uma só refeição por dia, abstendo-se de carne. Sua vitória sobre o temperamento fogoso foi tão completa, que dizem seus biógrafos que ele tinha uma grande doçura junto a uma amável modéstia, além de caridade terna e compadecida para com o próximo. Por 12 anos São João Crisóstomo exerceu o apostolado em Antioquia.
Ocorreu então que, em 387. o imperador Teodósio estabeleceu novo imposto para a cidade de Antioquia. O povo se revoltou, arrancou sua estátua, de sua mulher e filhos, que arrastou pelas ruas; perseguiu também os funcionários do fisco, e se entregou a outros excessos. Quando a calma voltou, a população se deu conta do que fizera, e o temor foi geral. Todos sabiam que o imperador Teodósio era bom, mas terrível nos seus primeiros impulsos. O que faria com a cidade prevaricadora?
São Flávio, bispo da cidade, foi então a Constantinopla pedir-lhe clemência para suas ovelhas arrependidas. Enquanto se aguardava a sentença real, que deveria ser terrível, São João Crisóstomo proferiu suas mais célebres homilias, conhecidas como “das estátuas”, procurando acalmar o povo e prepará-lo para receber o devido castigo. Por fim, veio a notícia de que o Imperador, por amor a Deus e atendendo à suplica do Arcebispo santo, perdoava Antioquia.
Em 397 o santo foi nomeado patriarca de Constantinopla. Empenhou-se em primeiro lugar na reforma do clero, admoestando, corrigindo, suplicando e, quando não havia outro jeito, expulsando os maus padres da Igreja. Bem ativo em todo o seu ministério patriarcal, depôs vários bispos indignos, tentou moralizar o clero, repreendeu monges que se davam ao turismo em vez da oração, e socorreu os pobres com extremos de caridade.
Havia tal sofreguidão para ouvir o santo arcebispo, que uns atropelavam os outros. O Patriarca teve que colocar seu púlpito no meio da igreja para ser ouvido por todos.
Aos poucos a piedade voltou a florescer em Constantinopla, e muitas almas atingiram alto grau de perfeição.
João Crisóstomo reorganizou uma pia associação de viúvas e virgens consagradas, pondo-as sob a direção de Santa Olímpia, viúva aos 23 anos que passou, com sua fortuna, a secundá-lo em todas obras pias.
Ocorreu então que a imperatriz Eudóxia, tendo-se entregue ao vício da avareza, infringiu a justiça apropriando-se indevidamente de propriedades de outrem. As vítimas recorreram ao Arcebispo, que chamou paternalmente a Imperatriz à razão. Mas Eudóxia, dando-se por ofendida, obteve do primaz ariano de Alexandria que convocasse um concílio com seus correligionários, no qual condenou João Crisóstomo como indigno do episcopado, e obteve seu desterro.
Quando a população soube disso, fez tão grandes manifestações diante do palácio imperial, que a Imperatriz, temendo por sua vida, pediu a volta do Patriarca. Pouco depois, porém, conseguiu novamente seu exílio.
Aos dois soldados que acompanhavam João Crisóstomo ao degredo, foi prometida promoção se, por meio de maus tratos, o fizessem morrer no caminho. Foi o que aconteceu no dia 14 de setembro de 407, quando o Santo caiu exausto e expirou, confortado com a Sagrada Comunhão.
Por sua eloqüência o “Boca de Ouro”, foi proclamado por São Pio X patrono especial da eloqüência sagrada.
O Martirológio Romano Monástico diz deste santo neste dia: “Memória de São João Crisóstomo, cognominado ‘Boca de Ouro’. Filho de um general do exército imperial, passou vários anos na solidão nas vizinhanças de Antioquia, antes de ser ordenado presbítero em 386. Eleito Patriarca de Constantinopla doze anos mais tarde, consagrou sua extraordinária eloqüência à defesa da ortodoxia da fé, e a denunciar a corrupção dos grandes. Por este motivo foi deposto e banido, morrendo em 407. Figura entre os maiores Doutores da Igreja do Oriente”.