Assim narra um hagiógrafo a infância desse santo:

Bem aventurado os puros de coração, porque verão a Deus!

         “A natureza foi com ele uma madrasta: não lhe deu nem riqueza, nem saúde, nem talento, nem ouro, nem prestígio, nem nobreza… Não teve sequer um berço no momento de vir ao mundo. Seus companheiros o desprezavam e todo o mundo se ria dele. Susteve-se largo tempo entre a vida e a morte, até que um ermitão o esfregou com azeite e o curou. No entanto, continuou a ser olhado como o homem mais desgraçado do mundo, por essa confusão estranha de nossa linguagem, pois se em algo superabundava aquele menino, era precisamente na graça que o ia tirar da obscuridade e desprezo, para aureolar sua fronte com as luzes [até ali] inverossímeis da glória”.

          Esse filho de São Francisco compensava abundantemente em inocência e simplicidade o que lhe faltava de dons naturais. Seu pai, carpinteiro virtuoso mas pouco capaz, perdeu quase tudo, pelo que José nasceu num estábulo, como Jesus, em Cupertino, Reino de Nápoles, a 17 de junho de 1603. O menino, em contrapartida, recebeu enérgica formação religiosa de sua mãe, a ponto de poder dizer depois: “Não precisei de noviciado para me ajustar à vida religiosa”.

          Foi-lhe recusada a admissão no convento franciscano, onde tinha dois tios. Os Capuchinhos também o despediram por sua incapacidade. Readmitido nos Franciscanos Conventuais para cuidar da mula do convento, o bispo de Nardo, também franciscano, ficou encantado com sua inocência, e mandou que o preparassem para o sacerdócio. No dia do exame, a ciência dos primeiros examinados levou o bispo a dispensar o resto, entre os quais se encontrava o irmão José.

          Entretanto, aos poucos sua virtude, e sobretudo seus êxtases contínuos, começaram a lhe atrair a popularidade. Embora tão pouco dotado de talentos que chamava-se a si próprio Frei Asno, seu amor a Deus era tão intenso, que entrava em êxtase à vista da menor das manifestações divinas nas criaturas.

Muito atacado pelo demônio no início de sua vida religiosa, depois de dois anos de terríveis provações, começou para ele a série de êxtases tão extraordinários, como dificilmente se ouvira narrar antes e depois dele na hagiografia. Bastava ouvir o nome de Jesus ou de Maria, que ele dava um grito e, literalmente, voava rumo ao objeto amado. Se estava na igreja, voava para junto do altar da Virgem ou do Santíssimo. Se no jardim, para o cimo de uma árvore, permanecendo ajoelhado na ponta de um de seus galhos como se fosse o mais leve passarinho.

Verdadeiramente imbuído do espírito de São Francisco, ocorreram com São José de Cupertino inúmeros fatos dignos de constarem nos Fioretti do Poverello de Assis. Certa vez, por exemplo, não estando os agricultores numa capela rural para a Ladainha por causa da colheita, ele viu ao longe rebanhos que pastavam. Dirigindo-se aos animais, o Santo exclamou: “Ovelhinhas de Deus, vinde aqui honrar a Mãe de meu Deus, que é também a vossa”. Deixando atrás pasto, filhotes, tudo, elas acorreram em tumulto ao apelo de José, sendo que naturalmente não podiam tê-lo ouvido devido a distância. Entrando na capela, todas caíram de joelhos e, com um longo balido, respondiam às invocações da Ladainha dirigida pelo Santo.

         Outra vez, tendo uma peste dizimado os rebanhos, dirigiu-se, a pedido dos camponeses, de ovelha em ovelha morta, ordenando-lhes que se levantassem em nome de Jesus. E todas voltaram à vida.

         Às freiras clarissas de sua cidade, mandou que um passarinho lhes cantasse durante o Ofício para incitá-las a fazê-lo bem.

São José gozava também da companhia dos anjos, vendo-os muitas vezes pessoalmente e com eles conversando como de amigo a amigo. Sua devoção ao mistério da natividade de Nosso Senhor era profunda. Muitas vezes o Menino Jesus lhe aparecia. Ele, tomando-O nos braços, acariciava-O e dizia as palavras mais ternas que podia conceber.

Em Roma, quando ele se viu diante do Vigário de Cristo na Terra, entrou em êxtase, ficando suspenso no ar durante a audiência, até que o Superior lhe ordenou em nome da obediência que voltasse a si.

          Os maiores personagens vinham consultá-lo sobre seus problemas. A sua missa durava habitualmente duas horas. Ele era tão procurado, que surgiam hospedarias nas proximidades dos conventos para onde era mudado continuamente pelos superiores para evitar sua popularidade.

Numa época em que a heresia de Lutero tentava fortemente penetrar nos países católicos, o Sagrado Tribunal da Inquisição vigiava sobre qualquer anormalidade. Vendo as grandes multidões que atraía Frei José de Cupertino, julgou-se prudente, de acordo com o Papa, retirá-lo para um convento menos conhecido, onde ele deveria viver praticamente recluso. Foi-lhe proibido falar com qualquer pessoa além dos religiosos do convento, e mesmo de escrever cartas a quem quer que fosse.

Depois de passar assim de convento em convento, sempre descoberto pelos fiéis por sua extremada virtude, ele foi finalmente parar no de Ósimo, em Marca de Ancona, perto de Loreto, onde predisse que terminaria seus dias, o que ocorreu poucos anos depois, a 18 de setembro de 1663. A multidão que passou a acorrer a seu túmulo indicava sua fama de santidade.

          São José de Cupertino foi canonizado por Clemente XIII em 1767.

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