Um dos grandes esteios da Santa Igreja no seu tempo, Pio XII quando o canonizou em 1950, chamou-o de “Santo de todos”. Isso porque, diz o Pontífice, “nele olham os artesões, os sacerdotes, os bispos e todo o povo cristão, já que se encontram nele exemplos preclaros com que se alentar e se encorajar, cada qual segundo seu estado, nessa perfeição cristã da que unicamente podem sair, nas perturbações presentes, os oportunos remédios e atrair tempos melhores”.

“Um Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e que abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios acender em todo o mundo o fogo do divino amor”.

Esse Santo, de uma atividade espantosa, como diz um hagiógrafo, foi “apóstolo da palavra, pregando inumeráveis sermões; apóstolo da pena, publicando muitíssimos volumes; apóstolo da Imprensa, criando academias, livrarias e bibliotecas; apóstolo da ação social católica e dos exercícios espirituais. Foi catequista, missionário, formador do clero, diretor de almas, fundador de congregações, pedagogo e ‘anjo tutelar da família real’ em frase de Pio XI; mas, sobretudo, eminentemente santo”.

Antônio nasceu em Sallent, perto de Barcelona, aos 23 de dezembro de 1807, quinto dos onze filhos de João Claret e Josefa Clará, que eram, segundo o santo escreve em sua Autobiografia, “honrados e tementes a Deus, muito devotos do Santíssimo Sacramento do Altar e de Maria Santíssima”, proprietários de uma pequena tecelagem. No Crisma Antônio, “por devoção a Maria Santíssima, acrescentei o dulcíssimo nome de Maria, porque Maria Santíssima é minha Mãe, minha Madrinha, minha Mestra, minha Diretora e meu tudo depois de Jesus”.

De uma piedade precoce, desde a idade de cinco anos já se preocupava com a eternidade e o destino do homem. Adulto, pondera: “Não sei compreender como os outros sacerdotes que crêem nestas mesmas verdades que eu – e todos devemos crer – não pregam nem exortam para preservar as pessoas de caírem nos infernos”.

Seguindo o desejo do pai, trabalhou primeiro – e com muito êxito –, na indústria têxtil; mas o Senhor escolheu-o para vida mais alta. No dia 13 de junho de 1835, festa de seu patrono, Antônio recebeu a ordenação sacerdotal, e foi nomeado coadjutor em sua cidade natal. Mas julgou-se chamado ao apostolado entre os infiéis. Por isso, deixando o ministério paroquial, foi a Roma em 1840 para solicitar esse destino à Congregação da Propaganda. Mas Deus o queria noutro lugar.

Enviaram-no de volta à pátria para aí exercer o apostolado da pregação. Antônio Maria obteve licença para pregar missões na Catalunha e nas ilhas Canárias. Operava curas milagrosas, tanto materiais quanto espirituais, expelindo demônios dos possessos, regularizando casais mal casados. A isso movia-o o intenso desejo de livrar almas do inferno, pois “obriga-me a pregar sem parar o ver a multidão de almas que caem nos infernos, porque é de fé que todos os que morrem em pecado mortal se condenam”.

Nesta missão percorreu em todos os sentidos a Catalunha e as Canárias, tocando e convertendo as almas com o seu zelo ardente, veemente palavra e profunda piedade. Seu método, descrito por ele, era: “Quando ia missionando, tocava nas necessidades e, segundo via e ouvia, escrevia um livrinho ou um folheto. Se na população observava que havia o costume de cantar cânticos desonestos, publicava um folheto com um cântico espiritual ou moral. Por isso os primeiros folhetos que publiquei quase todos são de cânticos”. Ao mesmo tempo escrevia numerosos livros de edificação.

Em 1849  fundou no seminário de Vich, com cinco padres, a Congregação missionária dos Filhos do Coração Imaculado de Maria (Claretianos), que havia de ter um futuro fecundo. Assim ele descreve como devem ser seus missionários: “Um Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e que abrasa por onde passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios acender em todo o mundo o fogo do divino amor. Nada o pára; goza nas privações; procura os trabalhos; abraça os sacrifícios; compraz-se nas calúnias e se alegra nos tormentos. Não pensa senão em como seguirá e imitará a Jesus Cristo em trabalhar, sofrer e no procurar sempre e unicamente a maior glória de Deus e a salvação das almas”.

Em 1850 o Papa o nomeou arcebispo de Santiago de Cuba. Ele afirma em suas palavras de saudação que “a verdadeira Prelada será a Virgem Santíssima, e a forma de governo a que Ela me inspire”.

Em Cuba Santo Antônio Claret fez muitas profecias. Por exemplo, profetizou  “grandes terremotos” na Ilha. Estes vieram. Quando as autoridades quiseram remover os escombros, alertou: “Haverá outro”. E os houve. Depois profetizou: “Se os pecadores não se despertam com os terremotos, Deus passará a castigá-los no corpo com a peste ou cólera”. Veio a epidemia de cólera-morbo que, em três meses fez 2.734 vítimas. Afirmou, no entanto, que isso fora uma misericórdia de Deus, porque “muitos que não se haviam confessado na missão, se confessaram para morrer; e outros, que se haviam convertido e confessado na missão, se haviam precipitado outra vez nos mesmos pecados. E Deus, com a peste, os levou” e com isso se salvaram.

Nessa Ilha, no meio das pesadas tarefas pastorais a que se entregou inteiramente, pôde derramar seu sangue pela fé, e fundou o Instituto das Irmãs Educadoras de Maria Imaculada.

Em 1857 voltou a Espanha para ser o conselheiro e confessor da rainha Isabel II. Em 1861, já nessa qualidade, ele afirma: “O Senhor me fez conhecer os três grandes males que ameaçavam a Espanha, e são: o protestantismo, ou melhor, a descatolização, a república e o comunismo. Para atalhar estes males, me deu a conhecer que se haviam de aplicar três devoções: o Triságio, o Santíssimo Sacramento e o Rosário”. É o que infelizmente estamos vendo atualmente naquele país outrora tão chamado e tão cheio de santos.

Mas os germens revolucionários já estavam bem presentes naquela nação católica. Escrevendo sobre uma visita que fez às províncias da Andaluzia, na Espanha, no ano de 1862, o indômito Arcebispo comenta o trabalho dos socialistas naquela região, aproveitando-se da apatia de governantes e eclesiásticos. Anota vários erros espalhados por eles, dos quais, por sua atualidade, citaremos um que poderia ser subscrito pela CPT, MST e congêneres:

         “Até agora os ricos desfrutaram as terras. Já é tempo de que desfrutemos e a dividamos entre nós. Essa divisão não só é de eqüidade e justiça, mas também de grande utilidade e proveito; pois os terrenos aglomerados pelos ricos ladrões são infrutíferos. Divididos entre nós em pequenos lotes, e cultivado por nossas próprias mãos, darão abundantes colheitas”.

         Comenta o Santo: “Com essas perorações e demais meios tão aliciantes e fascinantes, e ameaçando e insultando aos que não cediam logo, foi como [o movimento socialista] tomou grandes proporções em tão pouco tempo”.

Quando Isabel II foi deposta e exilada, Santo Antônio seguiu-a no exílio em 1868. Em 1870 participou ativamente no Concílio do Vaticano, defendendo com intrepidez a infalibilidade pontifícia. Pouco depois de voltar do Concílio à França, foi receber no céu a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva aos que O servem, no mosteiro cisterciense de Fontfroide em outubro de 1870. Foi beatificado por Pio XI em 1934, e canonizado por Pio XII em 7 de maio de 1950.

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