Santo Edmundo, rei: altos cargos exigem alta coragem

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Transcrição dos comentários do Prof. Plinio, para sócios e cooperadores da TFP, sem revisão do autor.

A ficha é tirada do livro “Os Santos Militares”, do General Silveira Mello. A síntese biográfica é a seguinte:

“Edmundo era filho de Opa, rei da Estânglia. É um dos pequenos reinos que compunha a Inglaterra primitiva – e nasceu por volta de 840 quando o cristianismo já estava disseminado nos estados ingleses. O rei, seu pai, homem de grande piedade, quando viu o filho com 15 anos, abdicou em seu favor e retirou-se para Roma a fim de consagrar seus últimos dias ao recolhimento e à oração.”

“Edmundo, que fora muito bem-educado na Religião Católica, tornou-se modelo de cristão para seu povo. Justo e bom, era homem de invulgar energia. Percebeu cedo o perigo que representava os escandinavos para seu país e preparou-se militarmente, assim como dispôs seu povo, para uma possível guerra.”

Os escandinavos eram, naquele tempo, o grande perigo dos povos civilizados. Hoje tão pacíficos, foram no passado os tiranos dos mares. Eles ocupavam a Escandinávia e deitavam aquelas migrações pelos mares, que iam descendo pelos vários lugares da Europa e que representavam, vamos dizer, a última leva se quiserem, das invasões bárbaras na Europa.

Para se ter uma idéia um pouco de qual era o espírito deles, alguns usavam o título de reis do mar, porque eles eram reis de povos que viviam em barcos e fazendo pirataria de um lado e de outro, de maneira que então reinavam no mar; era mulher, filhos, tudo mais, iam em barcos. Aliás, uns barcos com umas proas lindas, de uma audácia e de uma arrogância de que a Suécia e Dinamarca perderam completamente o segredo. Com a queda das proas, caiu tudo. Falam de “figuras de proa”; a gente poderia dizer que cada povo tem a proa que merece. E quando um povo já não tem mais coragem de ter proa é porque já não vale mais nada.

Eram, entretanto, os grandes inimigos daquele tempo. De maneira que então preparar o povo dele contra essa invasão, era enfrentar o inimigo por excelência.

“Não se enganou em suas previsões. Atacaram os dinamarqueses o Reino inglês. No primeiro combate foram duramente rechaçados, mas unindo esforços num grande número venceram a Santo Edmundo e o aprisionaram em Oxon.” 

Era naturalmente porque foi uma primeira leva que atacou o Reino dele, mas eram muitos os que tinham desembarcado em vários pontos da Inglaterra. Concentraram-se e naturalmente esmagaram por seu número grande.

“O chefe e adversário fez várias propostas de paz ao santo rei, que ele recusou por ser contra a Religião Católica e os direitos de seus súditos. Foi duramente supliciado e por fim decapitado. Foi martirizado a 20 de novembro de 870. Um Concílio nacional reunido em Oxford em 1122 tornou obrigatória a festa do mártir. Suas relíquias, inclusive um saltério que usava diariamente, foram venerados na Abadia de Cluny até o surto da heresia protestante.”

Os senhores estão vendo de que se trata. Esse homem foi preso e levado para Oxon, que se não me engano, é na própria Dinamarca e ali ele foi intimado a fazer negociações de paz pelas quais entregava seu reino aos vencedores.

Ora, acontece que ele não queria fazer essa entrega porque seria ceder aos pagãos e favorecer o restabelecimento do paganismo naquele local. Ele resistiu, então e foi martirizado.

Papel e obrigação dos reis

Santo Edmundo

Os senhores veem a alta consciência que tinha esse homem – entretanto um filho de bárbaro – do papel de rei, de suas obrigações e das relações entre os assuntos políticos e religiosos.

Hoje se fala frequentemente em separação da política e da Religião… ao mesmo tempo que a Religião mais do que nunca intervém na política e que a política tem pânico de intervir na religião… Naquele tempo, os senhores veem a noção que Santo Edmundo tinha. Sua queda, a implantação de uma dinastia de reis pagãos trariam a paganização do Estado e dos indivíduos. Seria, portanto, a apostasia daqueles povos, a perdição das almas. O nexo entre a vida política, a forma do Estado e a forma religiosa, como ele compreendia isso bem e como então se manteve fiel até o fim. E apesar de ser maltratado por causa de sua fidelidade a Nosso Senhor, assim perseverou, sendo depois martirizado.

Por que razão queriam que renunciasse? Naturalmente porque ele continuava a ter prestígio, senão sua renúncia não adiantaria de nada, era difícil consolidar a conquista enquanto não houvesse uma prova de que o Rei renunciara.

Talvez quisessem até levá-lo ao seu próprio reino para ele declarar aos seus súditos que tinha renunciado. E se ele não quis fazê-lo, foi pela esperança de que seus súditos organizassem uma reação, uma espécie de guerrilha contra o ocupante para salvar a Fé. E Santo Edmundo regou, assim, com seu sangue a esperança de uma restauração católica.

Os senhores considerem que lindo exemplo para os governantes modernos, seja para os civis, seja para os eclesiásticos.

Exemplo para a Inglaterra

De outro lado, os senhores também observem como o sangue desse rei valeu porque de fato a Inglaterra acabou se cristianizando inteira e até o protestantismo foi uma nação católica que durante algum tempo se chamou a “ilha dos santos”, tal foi o número de santos que lá floresceram.

Com esses dados devemos pedir a Nossa Senhora que proporcione muitos homens de Estado e muitos homens de Igreja que tenham esse espírito.

Porque enquanto os povos católicos, no campo temporal e sobretudo no espiritualnão são governados por homens dispostos a derramar seu sanguenão são dirigidos por quem presteSó governa bem quem está disposto a ir na fidelidade a seus princípios até o martírio, na fidelidade a seu cargo até o martírio, do contrário não vale de nada.

Assim como um militar que não está disposto a morrer é igual a zeroassim um bispo, um príncipe, um rei, um alto governante que não esteja disposto a morrer para o cumprimento de seu dever é igual a absolutamente zero.

Os altos cargos exigem a alta coragem. São os cargos pequenos que podem se acomodar com o valor moral normal.

Os grandes cargos exigem o grande espírito de dedicação, o grande sacrifício.

Os grandes cargos… Deus o que dá de mais alto a um homem é um cargo? O que vale mais: um cargo ou uma vocação? Não há situações em que uma vocação vale mais do que um cargo?

Pensemos no exemplo desse rei para termos sempre a deliberação de sermos fiéis até a morte, à vocação que a Providência chama cada um.

Fonte: https://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_701120_Santo_Edmundo.htm#.YZgpEGDMKMo

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