Hoje, vigília do Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, há 123 anos falecia o extraordinário taumaturgo Charbel Makhlouf. Por isso às vezes se celebra sua festa também hoje. Entretanto, no novo calendário ela é no dia 24 de julho, quando então apresentamos sua vida. Por isso, hoje trataremos da santa que a Igreja celebra neste dia, Santa Tarsila.
Integrante de uma das mais nobres famílias de Roma, a dos Anícios, Tarsila era uma das tias paternas do grande papa e Doutor da Igreja, São Gregório I Magno, que foi papa de 590 a 604. As outras são Emiliana (ou Amélia) e Gordiana. A família dos Anícios tem também entre seus ancestrais um imperador, Olibrio, no século V, o Papa São Félix III (526-530), e o senador Jordão, que era seu pai.
A única fonte autorizada da vida de Santa Tarsila é seu sobrinho, São Gregório Magno. Ele narrando a história de seus parentes, mostra como as três tias lhe serviram de exemplo concretos e atuais, que contribuíram para tornar seu ensino eficaz.
Tarsila e as irmãs certamente ajudaram a cunhada, a futura Santa Sílvia, na formação religiosa, intelectual e moral do pequeno Gregório, cuja saúde foi sempre frágil, uma vez que seu pai faleceu muito cedo. Que felicidade para esse papa ter sua infância orientada por tantas santas! Pelo que sua educação foi tão esmerada que ele, ainda jovem, se torna chefe da administração civil em Roma, privada agora do seu imperador, que mudou-se para Constantinopla, e com um Senado com o qual não mais se contava. Em seguida, encontramos Gregório como embaixador do Papa Pelágio II e ao mesmo tempo monge, chefe de uma pequena comunidade reunida em uma de suas residências no Monte Célio. De lá ele sairá para ser papa.
Tarsila, Emiliana e Gordiana eram muito unidas para além do parentesco, pelo fervor da fé em Cristo e pela caridade. As três viviam juntas na casa herdada do pai no monte Célio, como se estivessem num mosteiro. Tarsila era a guia de todas, orientando pela palavra do Evangelho e pelo exemplo da caridade e da castidade. Dessa maneira, os progressos na vida espiritual entre elas foram grandes. Mais tarde Gordiana decidiu optar pela vida matrimonial, casando-se com um bom cristão, o administrador dos bens da sua família.
As outras duas virtuosas irmãs, que preferiram viver em castidade como virgens consagradas, passaram a dedicar-se, além da oração, às obras de caridade, principalmente ajudando as pessoas atingidas pelas grandes inundações que assolaram Roma em 590.
Segundo relato de São Gregório, sua tia Tarsila teve um dia uma visão de seu bisavô, Papa São Félix III, que lhe teria mostrado o lugar que ela ocuparia no Céu, dizendo-lhe: “Vem, que eu haverei de te receber nestas moradas de luz”. Após essa experiência, Tarsila ficou gravemente enferma. No seu leito de morte, ao lado da irmã Emiliana e dos parentes, pediu para que todos se afastassem dizendo: “Está chegando Jesus, meu Salvador!” Com essas palavras e sorrindo, entregou sua bela alma a Deus. Ao ser preparada para o sepultamento, encontraram calos, duros e grossos, em seus joelhos e cotovelos, causados pelas contínuas penitências. Pois, durante suas orações, que duravam muitas horas, rezava ajoelhada e apoiada, diante de Jesus Crucificado.
A memória de Santa Tarsila, mesmo sem ter tido o acompanhamento de acontecimentos prodigiosos, perdurou discreta e tenazmente no tempo, enriquecida pelos relatos de São Gregório Magno. Ele diz que sua tia morreu pouco antes do Natal (o ano, porém, permanece desconhecido). E acrescenta que a sua irmã Emiliana, que a sobreviveu, um dia ouviu a sua voz dizer-lhe: “Passei o Natal sem ti, mas venha celebrar a Epifania comigo”. Segundo uma tradição, de fato, Emiliana morreu no dia 5 de janeiro depois da morte de Tarsila, e sua festa ainda é nesta data.
O culto a Santa Tarsila se manteve porém, ao longo dos anos. Entretanto seu nome aparece apenas no século 11 em um martirológio local, e depois, após o Concílio de Trento, no Martirológio Romano oficial para toda a Igreja Católica, que estabeleceu sua festa para o dia de hoje.